Conforme a FAO, o mundo terá que aumentar em 80% a produção de alimentos até 2050. Algumas estimativas indicam que a demanda de alimentos deverá dobrar nos próximos cinquenta anos. Existem muitas oportunidades a se explorar nesse campo! Para quem? Para quem produz alimentos, tecnologia agrícola, equipamentos, vacinas, fertilizantes, sementes, software para gestão rural e muita outra coisa. Mas as oportunidade com alimentos não ficam por aí!
Lembro que até o início da década de 1990 existia somente um restaurante japonês em Porto Alegre, era coisa para gente excêntrica (eu?). Hoje são dezenas. Por que estou escrevendo isto? Porque, se você não percebeu ainda, a variedade de tipos de alimentos disponíveis tem crescido exponencialmente nas mesas brasileiras. E vem mais coisas por aí – você já comeu ‘carne artificial’?
Curiosamente, a variedade de espécies vegetais tem diminuído. Usamos apenas uma pequena fração da variedade de espécies de batata e milho existentes para produzir alimentos. Uma parte da variedade original dessas espécies já desapareceu do planeta; estamos perdendo patrimônio genético! Sem falar, é claro, que usamos pouco do que temos de alimentos autóctones do Brasil. Ao mesmo tempo, desperdiçamos uma parte grande dos alimentos que produzimos, nas etapas de produção, armazenagem e distribuição.
Conversei sobre ‘comida’ com a Lucy Gilliam, teaching fellow da Singularity University – veja o vídeo abaixo. Além de ter trabalhado em pesquisa de microbiologia de solos, Lucy é uma organizadora de movimentos de produção local e sustentável e ativista da produção sustentável e local de alimentos. A minha leitura é que existem quatro grandes tendências que podem gerar oportunidades de negócios e startups nessa área.
Busca de soluções tecnológicas sustentáveis (eficientes no uso dos recursos naturais) para a produção de alimentos.
Um dos projetos aqui na SU neste ‘verão’ de 2013 utiliza VANTs/drones para o monitoramento da produção agrícola, aumentando a eficiência no uso dos recursos (água, fertilizantes, pesticidas…) e reduzindo perdas no campo. A DataFly tem uma equipe formada por engenheiros, empreendedores e designers do Brasil, Chile, Guatemala e Uruguay. É mais uma empresa que irá disputar esse mercado, que já tem players como a VA Robotics e outros.
Conforme explicou a entrevistada, gasta-se nos EUA 10 calorias de combustíveis fósseis para produzir 1 caloria de alimentos. O incremento da eficiência dessa ‘conversão’ é uma questão chave para o futuro da produção industrial de alimentos.
Sofisticação dos mercados, através da demanda dos consumidores por mais qualidade, variedade e experiências.
Alimentos especiais e exclusivos terão cada vez mais espaço. O mesmo acontecerá com as tecnologias que habilitarem esse mercados a surgir e crescer. Isso irá desde sites e comunidades especializadas como a Foodie até soluções completas de conteúdo para quem tem interesse em cozinhar, como faz o Jamie Oliver. Os foodies tem renda elevada e querem mais. Se você tem fome de negócios, não esqueça disso.
Mas mercados sofisticados não significam somente restaurantes caros. Há todo um movimento de cozinhas comunitárias que também servem de incubadoras para novos negócios, como o La Cocina Community Kitchen em San Francisco, e um movimento hacker de comida que cresce em todo o mundo.
Há também todo um movimento de ‘inovação em comida’; veja o exemplo do Food Tech Connect. Esse pessoal recentemente realizou um hackaton em Stanford, no qual mais de US$ 100.000 foram distribuídos em prêmios para apoiar projetos inovadores de gastronomia/comida a serem implantados.
É claro…. não esqueçamos dos tradicionais guias gastronômicos e dos vários sites de referencia como o Yelp. Você usa algum no Brasil? Qual? Em tempo, nesta quinta tivemos um food hacking event aqui na SU!
Desenvolvimento e valorização da produção local (inclusive urbana) e orgânica.
Existem várias iniciativas de produção urbana de alimentos ao redor do mundo. Detroit é um bom exemplo, assim como Havana, onde muitas dessas coisas começaram!
No Reino Unido, o Capital Growth pretende criar 2012 novos espaços de produção urbana de alimentos em Londres. A Dalston Farm Shop, no subúrbio de Londres, realiza a produção de peixes, aves e vegetais em uma antiga fábrica abandonada. Surgem cada vez mais comunidades, sites e recursos para apoiar esses movimentos; por exemplo, o Growing Communities, que inclusive mantém uma iniciativa para apoiar startups.
Já pensou nisso em São Paulo ou outra grande cidade brasileira? Conhece algo desse tipo? Já li algo sobre a Horta das Corujas em São Paulo. Todas essas iniciativas demandam tecnologias específicas, como estas. O mercado para desenvolver e comercializar esse tipo de coisa tende a crescer.
Na linha da produção local, em um sentido mais amplo, vale destacar a experiência do Instituto Atá, criado por caras como Alex Atala, que visa valorizar a produção local, os ecossistemas locais, valorizando a utilização de alimentos brasileiros.
Aparecimento de tecnologias disruptivas para a produção de alimentos.
Temos dois projetos super intensivos em tecnologia aqui na SU no momento relativos a produção de alimentos. Uma das empresas formadas tratará sementes com microgravidade, para aumentar o rendimento da produção de alimentos. A outra, LifeStock, produzirá carne in vitro; ou seja, carne sintética.
Aliás… nesta semana, em Londres, foi lançado (preparado e devorado) o primeiro hambúrguer sintético! Foi um projeto bancado pelo Sergey Brin, do Google. O pessoal da LifeStock participou do evento em Londres e foi mencionado em artigo da Forbes no dia 5 de Agosto; o projeto está decolando!
Todas essas várias expressões e tendências estão muito associadas ou são dependentes da tecnologia, de novos materiais a redes sociais; alias, muita coisa de redes sociais.
A Lucy tem um projeto na interseção dessas coisas, combina arte, ciência, negócio high-end e sustentabilidade (e muita aventura, imagino): o New Dawn Traders. Cientistas, artistas, chefs e contadores de histórias aportarão em Belém em outubro e comprarão produtos orgânicos no Brasil para comercializa-los em locais high end na Europa, em Londres e na Holanda. Interessado em ser fornecedor ou só trocar ideias? Entre em contato pelo site deles!
Comida pode ser investimento, negócio, status, movimento social, e agitação hacker. Pelo jeito, também muita diversão!
Imagem: Dan Saelinger
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