Por Bruna Galati
Nos últimos anos, várias atividades presenciais migraram para o ambiente remoto e a área da educação não foi exceção. Desde aulas até a aplicação de provas, o ambiente virtual tornou-se uma realidade. Com isso, a adoção de novas tecnologias, como a Inteligência Artificial (IA), já está em prática no setor.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o uso desse tipo de solução será um aliado fundamental para enfrentar os desafios e cumprir as metas do setor educacional estabelecidas pela Agenda 2030. No entanto, será que professores e especialistas são a favor da adoção da IA na educação?
Entre as diferentes formas de IA existentes, o ChatGPT tem sido o mais popular nos últimos meses, gerando debates sobre seu uso na educação. Segundo Lucas Briquez, diretor administrativo da escola Teia Multicultural e CEO da editora Asas Educação, essa ferramenta pode contribuir para o aprendizado.
Lucas afirma que o ChatGPT funciona como um professor assistente, trazendo benefícios em várias áreas para os profissionais da educação, como auxiliar na construção de planos de aula, ajudar nos estudos prévios às aulas (já que o professor precisa aprofundar seu conhecimento para repassar aos alunos), auxiliar na produção de textos como um rascunho de ideias, buscar exemplos e tirar dúvidas durante as aulas.
“Na escola em que trabalho, que possui computadores nas salas de aula, às vezes faço perguntas ao ChatGPT com meus alunos. Geralmente, eu dou minha resposta, mas também consultamos o chatbot para ver outras versões e fazer comparações de conteúdo”, afirma Lucas. Ele acrescenta que essa liberdade é possível porque sua escola não segue um método estritamente apostilado, que tende a ter menos flexibilidade na criação de planos de aula.
ChatGPT para administração da escola
O ChatGPT também pode ser utilizado pela administração da escola para facilitar a comunicação com os alunos e pais, desenvolvendo e-mails simplificados, bilhetes e documentações. Lucas também já utilizou a tecnologia para redigir uma carta de referência, por exemplo.
ChatGPT para os alunos
Os alunos podem utilizar o ChatGPT para auxiliar no desenvolvimento de trabalhos escolares, assim como o Google é amplamente utilizado. Eles podem usá-lo para analisar determinados autores, avaliar as respostas e desenvolver suas dissertações com base nas discussões com o chatbot. Além disso, o ChatGPT pode ser uma ferramenta de estudo, permitindo que os alunos façam questionamentos sobre os conteúdos ensinados em sala de aula.
“O ChatGPT é uma ferramenta liberada para auxiliar nossos alunos na produção de trabalhos, mas sabendo que eles têm acesso à Inteligência Artificial, podemos elevar o padrão de entrega, tornando-o mais rigoroso, o que é benéfico para o aprendizado do aluno, ajudando a elevar o nível de suas produções”, explica Lucas.
Com o uso do chatbot e outras ferramentas como a internet, espera-se que os alunos entreguem trabalhos mais elaborados e precisos, de acordo com a sua faixa de aprendizado. Segundo Lucas, no passado, quando os alunos produziam trabalhos sem o auxílio da IA e cometiam erros, os professores costumavam deixar passar despercebidos, pois os equívocos não eram destacados na produção. Agora, com o ChatGPT e a possibilidade de o chatbot trazer vieses distorcidos, os professores tendem a ficar mais atentos aos erros que são facilmente identificados.
“É por isso que digo aos meus alunos que, mesmo se o ChatGPT criar um texto para eles, esse não pode ser considerado o produto final. Eles devem fazer várias perguntas, avaliar as respostas, pesquisar em outras fontes e, então, produzir o trabalho”, afirma ele.”
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Ensinando sobre o uso do ChatGPT
Com a chegada do ChatGPT, é inevitável que alguns professores sejam contra o uso da ferramenta. Lucas explica que alguns sentem que serão substituídos pelo chatbot, que sabe muito mais do que eles. “Mas a grande questão é que já faz algum tempo que o grande talento do professor não é saber tudo, mas sim conseguir se conectar com seus alunos e transmitir o conhecimento de forma acessível, facilitando a aprendizagem do estudante.”
O especialista entende que a Inteligência Artificial é uma ferramenta que os alunos utilizarão em suas futuras profissões, então os professores não podem fingir que isso não existe. É preciso ensinar e ajudar os estudantes a utilizá-la da melhor maneira possível. “Considerando a importância de educar para o uso seguro da internet. A escola Teia Multicultural, por exemplo, tem uma aula de ética digital, abordando temas como fake news, plágio, ciberbullying, entre outros.”
Pensando nas escolas que ainda estão receosas em relação ao uso do ChatGPT no ensino, Lucas indica que o primeiro passo é a gestão da escola utilizar a ferramenta para se familiarizar e compreender suas funcionalidades. Em seguida, deve-se permitir que o professor utilize a ferramenta da maneira que considerar mais eficaz para suas aulas, seja no desenvolvimento do conteúdo ou como apoio em sala de aula.
“Não podemos simplesmente transformar uma nova ferramenta em tabu, fingir que ela não existe e proibir seu uso, porque os estudantes terão acesso a ela, e é importante que aprendam a utilizá-la corretamente. Portanto, o professor precisa entender do que está falando, através do seu uso, e até mesmo ser honesto, admitindo que está aprendendo sobre o ChatGPT.”
Caso haja preocupação em relação ao fato de que o ChatGPT limita a possibilidade de o aluno explorar outras fontes e desenvolver suas habilidades de pesquisa, crítica e elaboração de respostas, Lucas destaca que o desenvolvimento de trabalhos e as perguntas em provas criadas pelo professor devem ser adaptados.
“Nos trabalhos que passo para meus alunos, crio perguntas desafiadoras, que exigem análise, opinião e aprofundamento em determinados assuntos. Essa atividade é importante para fixar o conhecimento e desenvolver o senso crítico, mostrando que eles não podem contar apenas com uma única fonte para obter respostas”, reforça Lucas.
Futuro da educação com tecnologia
Por fim, Lucas acredita que o futuro da educação, com o avanço das tecnologias e da Inteligência Artificial, reside no desenvolvimento das características humanas. “Nossas emoções, sentimentos, assertividade, empatia e conexão serão o diferencial do ser humano em comparação com as máquinas”, afirma Lucas.
Ele utiliza como exemplo o fato de que no futuro os enfermeiros serão mais importantes do que os médicos. Isso se deve ao fato de que as habilidades dos médicos podem ser substituídas por tecnologias e IA, mas as funções dos enfermeiros, como acalmar, conversar, compreender e sentir, não podem.
“A educação está ligada ao mercado de trabalho, e cada vez mais valorizaremos características humanas únicas e menos automatizadas. É uma contrarrevolução industrial. No passado, havia escassez de tecnologia, mas agora vivemos em uma era de abundância, e o novo momento é o interesse pelas questões humanas”, complementa Lucas.
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