* Por João Kepler
Existe um antigo “causo popular” que conta que um cesto com caranguejos pode ficar sempre aberto, porque nenhum caranguejo vai fugir. Quando um dos caranguejos tenta subir na borda do cesto, o outro o puxa para baixo.
“Onde você pensa que vai? Volte para baixo que aqui é o teu lugar, eu tenho que ir primeiro, se eu não vou, você também não vai”. E assim, quando um caranguejo tenta fugir, aparece sempre outro puxando para baixo e nenhum sai do cesto, terminam então todos na mesma panela.
O intelectual Pernambucano Josué de Castro, que mapeou em 1937 o drama da fome no Brasil, já afirmava que os humanos são como caranguejos, estão sempre na lama. “… caranguejo é o que sois!”, fazendo analogia ao “Homem sempre na lama” quando se referia ao mangue.
A verdade e que é difícil entender e aceitar que é preciso andar pra trás pra pegar impulso, por isso, é mais fácil puxar as pessoas (os demais “caranguejos”) para baixo, do que tentar “sair da lama” sozinho.
O coitado do caranguejo que quer sair do cesto, além de tentar subir andando pra trás, ainda é puxado por outro caranguejo invejoso, pois “caranguejo é o que sois”, no sentido de que, se não for eu, que estejamos todos no buraco ou na lama juntos.
Imaginar esta cena do cesto de caranguejos me traz algumas reflexões e constatações sobre os “caranguejos” das nossas vidas. Muitas pessoas, principalmente das classes sociais mais privilegiadas, agem desta forma. Existem inclusive aqueles que agem naturalmente, publicamente e sem menor pudor, exatamente como esses caranguejos do cesto. Eu mesmo já fui vítima disso! Aliás, em 2013 eu escrevi pela primeira vez sobre isso com o título [Síndrome do Caranguejo].
Passar por isso incomoda muito, principalmente quando percebemos no nosso dia a dia pessoas com atitude similar ao do caranguejo, de puxar pra baixo. Pessoas que nem te conhecem, não sabem da sua história completa de vida, da sua intenção, luta, sofrimentos, barreiras, glórias, estrada, vitórias, erros ou desafios.
Não se trata de ter que ficar embaixo ou rebaixado, no fundo do cesto, vendo os demais fugirem: se trata de correr por conta própria com seus próprios esforços para sair, sem precisar derrubar ou puxar ninguém pra trás. Não se trata também de se acomodar no fundo do cesto e não fazer nada, de ser o Caranguejo da sua própria vida e se conformar com que a vida ofereceu. Mas de mudar a forma de ver e enxergar as coisas e as pessoas de uma outra forma, por uma outra perspectiva.
Se o sucesso do outro incomoda, procure o seu sucesso. As coisas devem ser assim, até porque as palavras têm força e quando são jogadas sem a menor distinção, tomam corpo popular e terminam, por vezes, criando uma opinião equivocada de massa e isso, é difícil de mudar. É como uma espiral negativa que corta a mão, se tentar parar.
Faça uma autoavaliação e pergunte a si mesmo se não tem sido um “caranguejo” na vida de outras pessoas. Talvez alguém esteja querendo alçar novos rumos e você, muitas vezes por nada, com ou sem motivos, atrapalha e destrói com suas palavras jogadas ao vento, tentando impedir que aquela pessoa cresça, mude ou apareça.
Se você está sofrendo de que eu chamo de “Síndrome do Caranguejo“, não permita que nenhum “caranguejo” puxe você para baixo.
Mas se você se identificou, mesmo que inconscientemente, como sendo um desses malditos caranguejos do cesto (“… caranguejo é o que sois!”) aqui vão alguns conselhos de graça:
– Procure parar de ser do contra e negativo;
– Tente olhar as pessoas por outras perspectivas
– Ajuste seu achômetro, conserte seu opinômetro e reduza drasticamente seu nível de venenômetro;
– Perceba que existe espaço para todos;
– Ter um pouco de empatia;
– Reconheça as diferenças e que o mundo dá voltas;
– Enalteça os feitos alheios;
– Tenha um bom coração;
– Se tem algum problema com alguém, fale pra ela mesma.
Ou seja, pare de pensar e falar genericamente e negativamente de outras pessoas. Até porque cidadão, um dia você poderá ser puxado também para baixo por outro Caranguejo e ai, não vai poder reclamar.
Acredito que um dia, a analogia com o cesto do caranguejo seja apenas um conto popular antigo e que o bom caranguejo continue sendo somente um saboroso prato.
João Kepler é reconhecido como um dos conferencistas mais sintonizados com Inovação e Convergência Digital do Brasil. É especialista em empreendedorismo, startups, marketing e vendas, é investidor-anjo desde 2008, participa em mais de 100 Startups, Lead Partner da Bossa Nova Investimentos, Escritor e autor e coautor dos Livros O vendedor na Era Digital, Vendas & Atendimento, Gigantes das Vendas e Educando Filhos para Empreender; Premiado como um dos maiores Incentivadores do Ecossistema Empreendedor Brasileiro.