* Por Caio Bretones
A tecnologia sempre demandou mão de obra. Há tempos vemos que quanto mais essa área evolui, maior a necessidade da qualificação dos profissionais. No entanto, esse cenário se intensificou ainda mais durante a pandemia. De acordo com dados divulgados pela Catho, empresa de classificados on-line, desde o início da pandemia, foram registradas mais de 85 mil novas vagas para profissionais da área de tecnologia no Brasil. A procura por profissionais do setor cresceu mais de 670% e colocou analistas de sistemas, suporte, business intelligence e desenvolvedores, entre as 10 profissões que mais cresceram em nosso país.
Está claro que o mercado está mais que receptivo ao passo que também há um grande número de pessoas desempregadas, muitas devido aos impactos na economia ocasionados durante o período pandêmico. Levantamento da Austin Rating, divulgado em novembro do ano passado, mostra que a taxa de desemprego no Brasil é o dobro da média mundial. No ranking com 44 países, ficamos com a 4ª maior taxa de desemprego do mundo.
Pois bem, com os dados acima podemos constatar que há oportunidades de emprego e pessoas disponíveis e ansiosas por uma vaga no mercado de trabalho. Contudo, por que essa conta não fecha? Por que mesmo o mercado demandando tantos profissionais continuamos com o número de desempregados tão alto? A meu ver, a resposta está na capacitação, ou melhor, na falta dela.
Quando falamos no setor de tecnologia, é imprescindível dedicarmos tempo e recurso na qualificação dos nossos profissionais, continuamente inclusive, já que esta área evolui de forma muito rápida. Muitas empresas do ramo tiveram de rever suas ações e traçar novas estratégias para que pudessem dar vazão à alta demanda de serviços. Desta forma, a área de tecnologia desponta não apenas como uma das fundamentais para o funcionamento do mercado, como também uma das responsáveis por manter empregos em meio a pandemia.
Em meus anos à frente de uma companhia com negócios voltados para a tecnologia pude perceber que, apenas contratar não é o suficiente. Para o time de recrutamento e seleção, encontrar os melhores talentos se tornou um grande desafio, muito pela falta de qualificação e experiência dos candidatos. A abertura de espaços para os jovens desenvolvedores, aqueles que ainda não tiveram tempo ou oportunidade de investir em uma capacitação mais aprofundada, virou fundamental. Gostar de pensar que qualificar e lapidar esses talentos é como montar uma “categoria de base”, já com o DNA e cultura organizacional da empresa fazendo parte dessa equação. Assim, aumentamos, ainda, o match entre colaboradores e gestores, estabelecendo uma relação de confiança e companheirismo. Fica claro que o objetivo não é apenas produzir e sim evoluir continuamente como profissional.
Capacitar profissionais de TI, é uma forma de contribuir com toda a indústria. Quanto mais capacitados forem os profissionais, maior será o crescimento e a credibilidade atribuídos ao ecossistema de tecnologia como um todo. Além disso, a garantia de capacitação no momento em que se inicia em um novo trabalho, pode não apenas estimular o colaborador, ao mostrar que a empresa está realmente disposta a investir em seu desenvolvimento, como também incentivar a permanência no time, diminuindo, desta forma, o turn over – um dos maiores gargalos da área de tecnologia.
Quanto à alta rotatividade dos profissionais de tecnologia, pesquisa realizada pela Fundação Estudar, com cerca de 670 jovens trabalhadores do setor, aponta que uma das principais ferramentas de redução de turn over, de acordo com os participantes, é justamente fazer com que empresas ofereçam um bom plano de carreira e invistam na formação de seus colaboradores.
Contratar um jovem talento, ensiná-lo com base no seu modelo de negócio, é um dos melhores investimentos que empresas, em especial as de tecnologia, podem fazer. Desta forma é possível não só moldar o profissional com técnicas e particularidades da empresa e evitar os chamados “vícios”, que podem ter sido adquiridos em outras experiências, como também dar a oportunidade para que jovens continuem aprendendo enquanto atuam na área que escolheram para seguir carreira.
Caio Bretones é sócio-fundador e CEO da Mobile2you, mobile-house especializada no desenvolvimento de aplicativos financeiros sob medida (tailor-made), tanto corporativos quanto para startups. O executivo é especialista em fintechs, Pix, Open Banking, soluções digitais, segurança mobile e outros temas relacionados à programação. Bretones, que participou do processo de desenvolvimento de mais de 50 bancos digitais nos últimos três anos, é formado em Administração de empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.