O investidor Fábio Póvoa é quem está liderando a rodada de investimento. Ele investiu na startup para somar ao seu portfólio, que já conta com seis startups brasileiras. Segundo ele, a geografia da startup, ou seja, endereço do escritório ou país de nascimento dos founders não importa, desde que os demais fatores como time completo, escalabilidade lastreada em tecnologia e product market fit validado sejam atendidos.
A startup que recebeu investimento foi a Abroaders, plataforma que permite que viajantes façam melhores decisões sobre o planejamento, acúmulo e utilização dos seus pontos em programas de fidelidade, extraindo o máximo valor dos mesmos para alcançar seus sonhos de viagem: a emissão de passagens aéreas.
“Não existe um segmento ou mercado que mais me chama atenção, mas eu me foco em segmentos e mercados nos quais tenho experiência e contatos relevantes para auxiliar no crescimento da startup”, destaca o investidor.
Fábio conversou com o Startupi e contou que conheceu a startup enquanto cursava seu MBA no Vale do Silício, de 2010 a 2012. Durante este período, o que chamou sua atenção foi a oportunidade de ganhar bônus de até 100 mil milhas por cartão de crédito, sem pagar anuidade no primeiro ano e podendo cancelar o cartão após este tempo, sem ônus, o que para ele era suficientes para vir ao Brasil no Natal e Ano novo.
Ao pesquisar o universo de pontos e milhas, Fábio se deparou com várias fontes de conteúdo, em particular blogueiros e fóruns de aficionados por milhas. Ele então experimentou por conta própria quão complexo este processo se transfigura para o viajante regular: processar todas as informações era quase um trabalho em tempo integral, impossível para a maioria das pessoas, à exceção de miles geeks e travel hackers.
Foi então que conheceu a Abroaders, seus fundadores, Erik Paquet e AJ Dunn, produzem um podcast semanal compartilhando informações sobre pontos e milhagem: dicas, alertas de cartões com signup bonus, instruções para emissão de passagens, entre outros.
Seguindo as instruções do podcast, Fábio acumulou quase 1 milhão de milhas, indo e vindo da Califórnia para o Brasil pagando apenas taxas de embarque. Ainda hoje, mais de 4 anos após voltar, ele conta com mais de 100 mil milhas nos principais programas – United MileagePlus, Starwoods Preferred Guest e Singapore KrisFlyer.
“A startup entrou no meu radar de investimentos em março de 2015, quando ela validou o modelo de negócio baseado no concierge premium (US$ 150 para recomendação de cartões e emissão de passagens em classe econômica com as milhas angariadas), e então veio ao país como convidados para o encontro promovido por mim com os founders do meu portfólio. A negociação final se iniciou em dezembro de 2015, quando repassamos a estratégia, finalizamos a busca e contratação de um CTO com equity vesting, e fechamos os termos da rodada”, comenta Fábio.
O total da rodada de investimento será de U$ 120 mil, dos quais U$20 mil serão aportados por Fábio e o restante será captado através da plataforma Broota.
Como Fábio está liderando a rodada, toma para si a responsabilidade de investir um montante relevante (neste caso, US$ 20 mil, 20% do round), ativar seus contatos, realizar o roadshow, escrever a tese de investimento, compartilhar a oportunidade com os membros de seu sindicato, acompanhar a evolução da startup após o fechamento da rodada, estar presente e votar nas reuniões de conselho. Pelo Broota, a captação da Abroaders se dará no Brasil, com a estruturação de um veículo de investimento (SPE – sociedade de propósito específico), e dispensa de registro na CVM (Comissão de Valores Imobiliários).
Erik Paquet conversou com o Startupi e contou que a ideia de criar a startup surgiu pois ele gostava muito de viajar, mas não tinha muito dinheiro para comprar passagens aéreas, que na maioria das vezes são caras. Quando estava fazendo faculdade de economia, Erik viu uma matéria falando sobre a emissão de cartões de crédito e programa de milhas e resolveu se inscrever para receber o benefício. Ele ganhou as milhas e fez sua primeira viagem, pagando cerca de 50 dólares dos EUA para o Brasil.
Erik e seu sócio, AJ Dunn, são amigos de infância e se conhecem desde os 8 anos de idade. Eles tinham uma outra empresa de marketing e tinham a flexibilidade de trabalhar de qualquer lugar, ou seja, podiam viajar. Sendo assim, eles começaram a viajar o mundo. Erik, por exemplo, morou no Brasil e na Europa por um tempo, o que despertou a curiosidade de alguns amigos que questionavam como eles estavam viajando tanto. Eles contaram que era através do cartão de crédito e se propuseram a ajudar alguns deles. Com o tempo, o número de pessoas pedindo ajuda para eles aumentou muito e então eles tiveram um insight de montar uma empresa nesse segmento. “Para nós era muito mais interessante ter um negócio nesse segmento de viagem/milhas, pois é um mercado que gostamos”, comenta Erik.
A partir daí, começaram a aceitar seus primeiros clientes, dando dicas de cartões e ajudando-os em todo o processo de reserva, a pessoa precisava apenas pagar a taxa. O diferencial da Abroaders é que não existe nenhuma outra startup que faça todo esse processo para os clientes.
Hoje a solução da empresa contempla um website responsivo e aplicativos móveis que orquestram diversas etapas, desde o acúmulo dos pontos certos até a emissão da passagem. A solução passa por um conjunto integrado de levantamento de informações personalizadas para cada usuário, ferramenta de controle de milhas, assistente virtual inteligente para busca e recomendações personalizadas, integração (APIs) com serviços de terceiros (milhas por voo, assentos disponíveis), algoritmo em nuvem para parsing, pesquisa e emissão de passagens-prêmio, e serviços concierge em que uma pessoa faça interações via telefone com call centers.
Erik conta que conheceu Fábio Póvoa por meio do seu amigo Riq Lima, CEO da Wordpackers, startup que recebeu investimento de Fábio junto com outros investidores. Quando se conheceram, Erik ainda não pensava em investimento, pois estava muito no início de todo o processo, mas manteve contato com o investidor, que acabou acompanhando todo o desenvolvimento do negócio.
Erik conta que por ser a sua primeira rodada de investimento, o processo foi complicado, mas Fábio os preparou muito bem, inclusive disponibilizou materiais para que eles se educassem em relação ao processo de investimento.
“Fábio foi uma pessoa de confiança que nos guiou durante todo o processo, nos ajudando muito mais do que apenas com a parte financeira. Nos EUA dinheiro não é problema, geralmente os venture capitals tem 100 startups, mas colocam apenas o dinheiro e não fazem nada para ajudar os empreendedores, como por exemplo, apresentar outras empresas, contatos e empreendedores, por isso, entendemos que aqui no Brasil teríamos mais oportunidades. Para começar era muito mais importante o investidor do que o dinheiro em si”, comenta Erik.
Agora com o investimento, a mudança principal será escalar as operações. “Nosso pensamento antes era “vamos ganhar dinheiro para gastar aqui”, agora toda a mentalidade muda, pois já temos o dinheiro e a oportunidade de investir para crescer nossa plataforma, mas tudo precisa de muito planejamento”, destaca ele.
Por enquanto o aplicativo atende os EUA inteiro, mas o empreendedor conta que seria ótimo expandir a operação para todo o mundo.”A experiência de viajar mudou tudo pra mim e acho muito importante que as pessoas tenham a mesma experiência. Nossa meta e missão é expandir e democratizar viagens. Ninguém pode ficar excluído de viajar por não ter condições”, afirma Erik.
Erik não conhece muito o ecossistema de startups do Brasil, mas acredita que o país esteja passando por um momento muito bom para as startups. Nos EUA o movimento de startups já existe faz um tempo, mas aqui no Brasil quem está trabalhando com isso está trilhando o caminho, ou seja, fazendo história. “O Brasil é enorme, cheio de recursos naturais, existe muita coisa para ser trabalhada aqui. O empreendedorismo será a chave para os brasileiros fugirem dos problemas e da crise econômica. Estou feliz de fazer parte do ecossistema, mesmo que de forma pequena, mas me conectar com empreendedores, investidores e empresas por aqui é uma experiência muito legal!”, comenta Erik.
Essa não é a primeira vez que Fábio investe em uma startup americana: ele já investiu em outras três através do sindicato de um amigo pessoal. A rodada de investimentos para Abroaders é aberta a todos via plataforma Broota, com valores mínimos de R$5.000,00.