Muito tem se falado dos inúmeros benefícios que serão trazidos para a sociedade com o advento do 5G. Mas poucos se dão conta de que essa nova tecnologia poderá trazer também problemas de segurança pública: unidades prisionais de segurança máxima que possuem sistemas bloqueadores de sinal celular podem ficar vulneráveis, já que os sistemas convencionais de bloqueio são ineficazes no 5G. Em um cenário de telecomunicações dominado por gigantes multinacionais, este foi o desafio que tornou uma empresa brasileira destaque mundial neste nicho de mercado. Afinal de contas, o Brasil possui a terceira maior população carcerária do planeta.
A NEGER Telecom, empresa brasileira de base tecnológica que atua na área de engenharia de radiofrequência e inteligência espectral, desenvolveu uma inédita tecnologia de bloqueio de sinais de celular para as novas redes 5G. Com esta inovação, a empresa se antecipa à necessidade de atualização de sistemas de bloqueio que ocorrerá quando a quinta geração de comunicação móvel, o 5G, passar a operar comercialmente no Brasil.
Os sistemas de bloqueio de sinais celulares são regulamentados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e sua aplicação é restrita a presídios, cadeias e áreas de segurança. Hoje, cerca de 40 presídios no País – a maioria de segurança máxima -contam com este tipo de sistema para bloqueio das faixas de frequência já existentes (2G, 3G e 4G). “Com a entrada do 5G, a faixa disponível para redes móveis será cinco vezes maior, e representará 80% de todo o espectro de frequências. Isso exigirá um sistema de bloqueio extremamente robusto e acurado”, destaca Eduardo Neger, diretor de Engenharia da empresa.
Submetido a diversos testes nos laboratórios do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o sistema da NEGER foi o primeiro do país homologado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para o 5G. A Plataforma Brasileira 5G de Bloqueio de Sinais de Radiocomunicações teve seu certificado de homologação emitido no início desta semana.
Segundo Neger, o maior desafio foi desenvolver um sistema que bloqueasse o sinal nas novas faixas de frequência e tecnologias trazidas pelo 5G, mantendo sua atuação restrita aos limites da unidade prisional, ou seja, confinando com extrema precisão o perímetro de bloqueio, sem afetar a rede das operadoras celulares nas áreas externas ao presídio. “Nosso sistema não abre brecha para a entrada do sinal mesmo considerando as diversas bandas e as tecnologias avançadas que serão usadas no 5G, como a massive MIMO, que prevê o uso de várias antenas em uma mesma célula de transmissão, e o beamforming, um sistema de sinalização de tráfego que permite a troca simultânea de informações por vários usuários”, afirma.
O desenvolvimento da Plataforma Brasileira de Bloqueio de Sinais de Radiocomunicações, que está em sua décima sétima versão, teve início em 2001 e contou com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia através de financiamentos da FINEP e CNPq em suas primeiras versões. A nova geração do sistema, que conta até com sistemas para bloqueio de drones criminosos, foi totalmente financiada com recursos próprios da empresa e já foi até exportada para países da região. “Nosso processo de P&D é contínuo e planejado com bastante antecedência. Certificamos já nas próximas semanas novos módulos e sistemas irradiantes específicos para confinamento de sinais considerando as características construtivas dos presídios urbanos brasileiros”, explica Marco Maraccini, gerente de Planejamento e Projetos da empresa.