Desde a criação da primeira criptomoeda, em 2009, muito já mudou no mercado de moedas digitais. Da desconfiança de um negócio novo, passando pela alta volatilidade dos criptoativos, medidas de segurança, transparência de transações e regulações, há muitas pessoas que preferem não investir neste novo modelo de dinheiro. Entretanto, só no primeiro semestre de 2021, o volume total de transações de Bitcoin e Ethereum, as principais criptomoedas do mercado, atingiram juntas US$ 3,5 trilhões de dólares.
O dado, apresentado no relatório “H1 2021 in Review” da Coinbase — principal corretora de criptomoedas dos Estados Unidos — também indica um crescimento de 489% e 1461% em relação às transações respectivas de cada moeda no mesmo período do ano anterior. Em parte, este expressivo crescimento está relacionado às oscilações dos ativos, mas há outros fatores que contribuem para o aumento, como ampliação do uso de moedas digitais para o dia a dia empresarial.
Para isso, a criação da blockchain foi indispensável na garantia da segurança, rapidez e transparência das transações. De acordo com o CTO da Rhizom, empresa que desenvolveu o primeiro protocolo blockchain da América Latina, Luís Roloff, todas as transações, sejam de valor financeiro ou apenas de informação, são continuamente verificadas e armazenadas na rede através de blocos, que conectam-se uns aos outros, criando uma cadeia – por isso o nome blockchain. “Para ter validade dentro da rede, cada novo bloco deve se referir ao conteúdo do anterior através de uma chave única, denominada hash”, explica.
Essa estrutura impede que dados já registrados sejam alterados e notifica imediatamente os demais participantes da cadeia toda vez que uma nova informação ou transação é realizada. Além da segurança, esse tipo de operação traz diversas vantagens, possibilitadas pelo modelo peer-to-peer (ponto-a-ponto), no qual as informações podem ser compartilhadas sem a necessidade de um servidor central. “Isso faz com que haja uma redução de custos significativa, diminuindo ou eliminando a necessidade de moderação por um terceiro centralizador”, esclarece Roloff.
Como empresas utilizam criptomoedas
Com a segurança do blockchain, além de corretoras e facilitadoras de pagamentos com moedas digitais, o uso de criptomoedas está se popularizando em empresas de diversos segmentos. De acordo com o levantamento colaborativo Coinmap.org, há mais de 23 mil locais que aceitam criptomoedas como forma de pagamento ao redor do globo. Segundo Stephano Maciel, cofundador e CEO da FacilitaPay — fintech com plataforma para realização de transações transfronteiriças — as empresas estão buscando formas de proporcionar este tipo de pagamento para seus clientes. “Qualquer criptoativo pode ser utilizado como pagamento de uma transação comercial digital. O processo é rápido, irrevogável e transparente. Inclusive, é possível movimentar recursos entre jurisdições diferentes de forma mais veloz que transações tradicionais”, afirma.
Como exemplo, o PayPal, nos Estados Unidos, desde outubro de 2020 tem permissão para realizar operações de compra e venda de criptoativos. Já no Brasil, desde 2018 a FacilitaPay fornece a infraestrutura necessária para que seus clientes aceitem pagamentos destas moedas e realizem conversões cambiais aos seus clientes finais. “Para nós, do ponto da tecnologia na operação, não importa qual é o ativo que está sendo negociado e sim, o potencial de agregar valor para o mercado. Por isso, proporcionamos uma tecnologia que também viabilize transações de criptomoedas e aumente seu potencial transacional existente”, afirma o CEO.
Ativos de Investimento
Além de transações financeiras e de compra, empresas também podem olhar para as criptomoedas como ativos de investimento. Isto é, compra da moeda visando o lucro em uma futura venda cambial. Por exemplo, com o Bitcoin a US$ 40 mil dólares no início de agosto, além de oscilações em seu valor de câmbio, este tipo de investimento é de alta volatilidade, mas também tem um potencial de ganho considerável.
Ainda de acordo com o “H1 2021 in Review” da Coinbase, a volatilidade do Bitcoin no primeiro semestre de 2021 chegou a 4,8%. Entretanto, o Índice Sharpe — diferença do desempenho de um investimento e um ativo sem risco, dividido pelo desvio padrão — desta criptomoeda teve uma boa performance no período, com 2,77%. Este valor indica que apesar das oscilações, o desempenho crescente do Bitcoin compensou aos investidores.
Diferenças entre criptomoedas, stablecoins e CBDCs
Criptomoedas: Ativos digitalmente minerados e transacionados via blockchain. São voláteis, mas obtêm alto rendimento. Podem ter recursos finitos ou infinitos, o que amplia o debate sobre oscilações e alto risco. A legislação sobre o uso desses ativos varia de país para país. No Brasil, ainda não possuem uma regulação específica e são consideradas ativos financeiros.
Stablecoins: São moedas digitais associadas a ativos reais como ouro e petróleo, ou a ativos fiduciários, como moedas nacionais. Apresentada como uma alternativa a volatilidade das criptomoedas, as stablecoins são estáveis ao ativo que está lastreada. Por exemplo, uma stablecoin vinculada ao ouro será digital e terá o mesmo valor que o mineral.
CBDC (Central Bank Digital Currencies): As moedas digitais de Bancos Centrais não são criptoativos, porque sua emissão está atrelada ao Banco Central de um país e responde às regras de circulação nacional. Basicamente, a CBDC é uma versão digital de moedas que possui registro de transações em um banco de dados acessível em tempo real e controle estatal.
O Banco Central do Brasil estuda a possibilidade de criar uma moeda digital. Chamada de Real Digital, o CBDC do país pretende melhorar a eficiência das transações digitais, mas não há previsão de quando será lançado. De acordo com Stephano Maciel, a iniciativa do BC em digitalizar a moeda brasileira pode ser uma oportunidade incrível. “Se o PIX já foi um ganho enorme para o mercado, uma moeda digital vai, definitivamente, mudar a forma como as pessoas transacionam seus recursos e como fazem negócios entre si”, afirma Maciel.