* Por André Zogbi
A palavra Blockchain tem se tornado recorrente em nosso vocabulário. O Blockchain foi idealizado por Stuart Haber e Scott Stornetta em um projeto de pesquisa de 1991, cujo objetivo consistia na criação de um sistema capaz de monitorar todo o histórico de alterações de documentos. No entanto, seus benefícios se provaram muito mais amplos do que o objetivo para o qual foi originalmente concebido.
O Blockchain lembra, em muito, uma corrente cujos elos são gravados com números de identidade únicos. No Blockchain, ao invés de elos, a corrente é composta por blocos de dados conectados de forma linear. Quando um bloco é criado, ele recebe dois números de identificação (nonce e hash), ambos ligados diretamente aos dados contidos naquele bloco de forma que se torna impossível alterá-los sem mudar os números e vice-versa. Quando este bloco é adicionado à corrente, ele recebe um terceiro número de identificação: o hash do bloco anterior. Com isso, alterar a informação contida em um bloco já adicionado ao Blockchain se torna virtualmente impossível, dado que seria necessário modificar infindáveis outros blocos anteriores e subsequentes.
Diferentemente de bases de dados comuns, onde os dados geralmente são armazenados em formato de tabelas alteráveis por qualquer um que tenha acesso a eles, o Blockchain permite que os usuários acrescentem dados, mas não os removam. Assim, a corrente se tornará continuamente mais longa e cada dado adicionado será facilmente rastreável. Além disso, os dados no Blockchain são mantidos por cada um de seus usuários em uma rede de computadores espalhada ao redor do mundo que constantemente e automaticamente verificam cada dado acrescentado para assegurar que nenhum dos blocos ali contido seja alterado. Com isso, o Blockchain se torna não apenas uma forma mais segura de se armazenar dados, como também mais eficiente para rastreá-los.
Por que o Blockchain é importante?
A essência da tecnologia é a forma como os dados são armazenados, trocados e utilizados. A maneira como isso ocorre impacta diretamente nos resultados que conseguimos alcançar com seu uso. Até poucas décadas atrás, disquetes ainda eram realidade e a transferência de dados entre computadores sem o uso de dispositivos físicos era praticamente impensável. E, enquanto mais recentemente teríamos que aguardar vários minutos para concluir o download de um vídeo em baixa resolução, o streaming de filmes em 4K já se tornou parte de nossas vidas há algum tempo.
O impacto de como dados são geridos também está presente em aplicações mais tangíveis. Sem rapidamente e apropriadamente organizarmos os dados, o machine learning, por exemplo, seria inviável, tornando impossível a criação de veículos autônomos, entre outras tecnologias mais simples. Além disso, estaríamos vivendo anos atrás da automação de máquinas modernas e dispositivos como drones ou até mesmo smartphones provavelmente não fariam parte de nossas vidas.
Em meio a este contexto, o Blockchain nos abre portas a uma enorme gama de oportunidades devido à forma disruptiva pela qual ele armazena dados. Apenas recentemente começamos a utilizar o Blockchain amplamente e, ainda assim, o número de possibilidades abertas até agora é uma clara prova de seu potencial para revolucionar a tecnologia.
Como usaremos o Blockchain no futuro?
Resumidamente, o céu é o limite quando se trata das formas pelas quais diferentes segmentos podem utilizar o Blockchain a seu favor. A CB Insights enumerou uma longa lista de segmentos que podem adotá-los no curto-prazo. No segmento bancário, ele já é utilizado por organizações como JP Morgan, Goldman Sachs e Citigroup para fins de precisão, velocidade e automação de transferências e pagamentos. Montadoras também podem utilizar o Blockchain para monitorar peças de carros, eliminando peças defeituosas e reduzindo a incidência de recalls. Até mesmo o setor de construção civil pode se beneficiar com seu uso ao garantir que materiais de construção tenham a devida qualidade e sejam disponibilizados pelos devidos fornecedores.
Apesar de ainda estarmos vivenciando as primeiras aplicações do Blockchain, já temos sinais de que esta tecnologia, cedo ou tarde, se tornará a nova maneira de se estruturar dados. Atualmente, quem não torce o nariz quando se lembra dos disquetes? Dentro de pouco tempo, quando a maior parte das informações for estruturada via Blockchain, provavelmente faremos o mesmo ao nos lembrarmos de como armazenamos informações neste exato momento.
André Zogbi é responsável pela atividade de relações com investidores da Mindset Ventures. Formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Zogbi possui experiência em empreendedorismo e nos mercados financeiro e de investimentos alternativos, tendo passado por instituições como Banco Plural, Pátria Investimentos e XP Investimentos.