Durante a Campus Party 2016, Claudio Pinhanez, Gerente Sênior de Social Data Analytics da IBM, palestrou sobre a importância dos dados para diferenciar uma startup.
Segundo ele não é uma tarefa fácil, ainda mais se o seu desejo for se tornar milionário com sua startup. Ele apresentou dados de que os investidores anjos investem em apenas 1 de 40 startups que eles conhecem, e apenas 0.1% dessas companhias conseguem alcançar o estágio de IPO, tipo de oferta pública em que as ações de uma empresa são vendidas ao público em geral numa bolsa de valores pela primeira vez. É o processo pelo qual uma empresa se torna uma empresa de capital aberto. Esses dados são baseados no mercado americano, mas se pegarmos o Brasil, onde temos proporcionalmente 10% do número de investimentos dos EUA, podemos mutiplicar todo esse valor por 10, ou seja, apenas 1 em 40 mil startups conseguiria ficar milionária.
Claudio deixa duas dicas para aumentar sua chance de ter sucesso.
Faça seu negócio direito! Faça um bom marketing e gerencie as pessoas e contratos corretamente, mesmo sendo a parte “mais chata”, pois se você não fizer, sua chance de ter sucesso vai para o espaço. A segunda dica é
Se diferenciar de quem está ao seu redor e de uma forma que eles não consigam te copiar.
O jeito mais comum de fazer inovação no mundo é copiando uma ideia, por exemplo, uma padaria descobre que as pessoas querem comer pão com nozes e no dia seguinte, a padaria da esquina já está fazendo a mesma coisa e acabou sua diferenciação. “É preciso se diferenciar de um jeito que seja permanente e sustentável”, comenta Claudio.
Para ilustrar ele contou uma história de diferenciação do tempo negro da humanidade, “em que nada acontecia” e que não existia a internet. No início da década de 90, na Suíça, Tim Berners-Lee, questionou se existia uma maneira fácil de espalhar conhecimento e as pessoas acessarem informações, o que deu origem ao “http”. Tim começou então a criar os primeiros sites para colaboração acadêmica, que facilitavam o acesso aos dados das universida. Foi então que apareceu o MOSAIC, fazendo com que sites aparecessem em todos os lugares em 1993.
Mas junto com ele apareceu um problema, começaram a existir diversos sites. Como as pessoas podiam encontrar esses sites e as informações distribuídas pelo mundo? A primeira solução encontrada para esse desafio foi o Alta Vista, o primeiro grande popular site de busca na internet.
Depois disso aconteceu uma coisa interessante, 4 pessoas se juntaram em um laboratório em Stanford e começaram a ver todos os sites espalhados pela internet e questionar como eles se conectavam. A partir daí eles fizeram uma descoberta muito importante, que a estrutura de links desses sites não tinham a estrutura tradicional de sistema de dados (modelo em árvore).
Eles tinham o formato de toróide, como é conhecido na matemática, uma forma de “rosquinha”.
Isso significa que quando você faz uma busca de informação no toróide, é muito mais fácil encontrar e classificar os endereços do que no modelo em árvore. Chamaram esse processo de Page Rank. Em 98 Terry Winograd, Rajeev Motwani, Lawrence Page e Sergey Brin colocaram a descoberta para funcionar no mundo real e fundaram o Google.
O que aconteceu com as pessoas que usavam o Alta Vista depois de usar o Google? Nunca mais usaram, pois o novo sistema de busca era muito melhor tanto para o usuário leigo, quanto para os mais experientes. “Com isso o Alta Vista não conseguiu resistir por muito tempo. A empresa que o fundou, a Digital, considerada a Apple dos anos 70, uma das maiores empresas e mais respeitada dos EUA hoje não existe mais” comenta Claudio.
E qual o segredo da explosão inicial do Google? Um algorítimo de busca de dados que era absolutamente melhor do que o resto que existia trabalhando com dados públicos. Será que essa é uma maneira interessante de tentar diferenciar uma startup? Quais as dificuldades que eu tenho para fazer esse caminho de diferenciar usando tecnologia em cima de dados que todo mundo tem acesso?
Moral da história: Diferenciação que importa para o consumidor, que é sentida pelo seu cliente é baseada em analytics. E porque analytics? Pois é uma coisa difícil de copiar, “Quem já usou analytics sabe que é muito difícil replicar, mesmo com as mesmas ferramentas”. No caso do Google, o algorítimo deles era público, na verdade nem foram eles que inventaram o algorítimo e até hoje ninguém conseguiu superá-los ou copiá-los.
Lembrando que isso é busca dentro da internet, um ponto interessante é que a busca dentro das empresas como por exemplo, dentro do intranet corporativas, ainda é um problema em aberto e até hoje ninguém conseguiu resolver direito. “Por que? Porque a estrutura de um intranet é uma árvore e não um toróide. Se alguém conseguir resolver esse problema vai ficar milionário”.
Voltando agora para a sua startup, como fazer a diferenciação sem copiar? A primeira coisa é entender que existem diversos dados; dados de pessoas, dispositivos e processos. Tudo isso é muito importante, muita gente fala sobre Internet of Things, mas Carlos acredita que o maior impacto que o mundo terá será com a Internet das Pessoas, com a transformação que estamos vivendo na maneira que nos conectamos e comunicamos com o mundo.
Existe uma teoria bem aceita que é o número de Dunbar, que define o limite cognitivo teórico do número de pessoas com as quais um indivíduo pode manter relações sociais estáveis. Esse número teórico fica entre 100 e 230 pessoas, entre parentes e amigos. Só que as coisas mudaram, a quantidade de pessoas com que estamos tendo relação aumentou muito graças as redes sociais e os smarthphones. Com isso, estamos criando um novo patamar do que pode ser uma sociedade e nos próximos anos vamos pensar em novos meios de viver em comunidade. “Irá mudar a forma como ensinamos, fazemos política e como conseguimos nos comunicar com pessoas que não estão no mesmo espaço físico que nós”. Estamos vendo os impactos disso no dia-a-dia, um exemplo são as manifestações que ocorreram em 2013. Elas teriam acontecido sem as novas maneiras de conexão?
Como sua startup pode usar os dados sociais desse mundo enorme que está crescendo com uma rapidez impressionante? Claudio destaca que para quem tem uma startup esses dados são “meio públicos”, se você olhar tudo o que está escrito, você não pode usar esses dados para um monte de coisa. É preciso tomar cuidado, mas a realidade é que é possível começar a usar esses dados e muitas vezes os empreendedores tem mais chance de arriscar testando. “É mais fácil para um startup coletar e fazer parceria com empresas para usar seus dados”, afirma Claudio.
Então temos a Internet das Pessoas gerando toneladas de dados. Mas como usar isso para diferenciar sua startup? Não tem fórmula mágica, é preciso refletir quais são os desafios que você irá enfrentar para usar esses dados. “Não falta Open Source de analytics por aí, pesquisando e fuçando um pouco você encontra o que quiser. Ainda é difícil, é coisa de nerd, mas isso vai mudar”.
Quando a computação começou, dados também eram assim, coisa de Gerente de Sistema, mas Mitch Kapor, fez uma revolução com a Lotus 1-2-3, uma planilha eletrônica muito utilizada nas décadas de 1980 e 1990 que facilitou o jeito de lidar com dados.
Mais tarde a Microsoft levou isso para o nível mais profissional e dominou o mercado até os dias de hoje. “Hoje nenhuma empresa de média para cima, funciona sem planilha. É pior do que se a China sumisse do mapa da economia mundial, ninguém mais ia saber administrar. A planilha popularizou o uso de dados, eu não preciso ser expert ou um desenvolvedor para trazer e manipular os dados”.
Estamos vendo agora acontecer a mesma coisa para o Big Data, ferramentas simples que escondem toda a complexidade. Ainda estamos no começo do caminho e essas ferramentas ainda são relativamente caras para teste.
A IBM tem o Watson nessa parte de computação cognitiva, onde estão trazendo ferramentas para a exploração de dados. “Ainda tem muito chão, falta 5, 10 anos para conseguirmos colocar o Big Data na mão de um contador e fazer com que ele lide com o Big Data de forma transparente e simples. Para quem é dessa área e entendem de técnica, falta de ferramenta não é desculpa”. O que é mais difícil para quem nunca lidou com esses tipos de dados é entender que eles são mais complicados do que parecem.
Por exemplo, a análise de mídias sociais com analytics em cima de twitter. O primeiro problema que você encontra quando vai lidar com esse tipo de dados é que eles são escritos em uma linguagem própria, não é português escrito, nas redes sociais é a fala em forma de escrita, as pessoas usam sinais para se comunicar. =] O segundo ponto é que temos cada vez mais imagens e muitas vezes os textos estão dentro das imagens.
As vezes analisando as redes sociais vemos discurso como “O Brasil está pedindo o fim da corrupção”, mas essa informação não é correta, pois não é o Brasil que você está medindo, mas sim uma versão distorcida do país, existe uma divisão por idade, classe, sexo, não é possível generalizar. É preciso tomar muito cuidado, dependendo das idades, o uso das redes sociais é diferente.
Veja o gráfico abaixo:
Moral da história: Se alguém fala que algo está bombando, é possível, mas depende se você está fazendo sua medida direito. Claudio destaca também que as mídias tem grande distorção. Por exemplo, você sabe quem é a pessoa com mais número de seguidores no Twitter? Em primeiro lugar está a cantora Katy Perry, seguida de Justin Bieber e Barack Obama em terceiro lugar. Essas celebridades quando postam alguma coisa , elas mudam o panorama da história, mudam o padrão, lançam tendência na internet.
E o que você precisa para ser uma pessoa popular no Twitter? Qual o jeito mais simples de conquistar seguidores? Comprando! Com 3 mil dólares você compra 500 mil likes no seu Facebook. Cuidado! Hoje existem “likers” que não são máquinas, mas pessoas de verdade que levam isso como profissão. É preciso lembrar disso quando falarmos ou ouvirmos que algo está bombando.
Em entrevista exclusiva ao Startupi, Claudio comentou que uma startup brasileira que se destacou nos últimos tempos fazendo o uso de dados foi o Buscapé, um exemplo de um negócio bom e diferenciado. “Eles fizeram um trabalho muito bom de coletar e entregar dados resumidos da maneira que o consumidor quer. Eles foram extremamente bem sucedidos nisso, por isso são um belo exemplo”. Ele destaca que o que os empreendedores do Brasil precisam fazer com mais frequência é ir a campo, pois quando você visita, conhece realmente os lugares e pessoas, aparecem ideias e oportunidades que você não veria se ficasse fechado dentro do escritório. “Assim você é capaz de criar algo mais relevante e também entender melhor como os dados podem ser utilizados”.
Sobre os segmentos e mercados mais interessantes para desenvolver um negócio hoje no Brasil Claudio destaca a transformação bancária. “A maneira como se faz banco, pagamentos, finanças e seguros daqui 5 anos será muito diferente do que se faz hoje. É uma área bastante interessante de se atentar. É o que está acontecendo hoje na China, pesquise o que está sendo feito lá, são coisas fantásticas”, comenta ele.
A longo prazo Claudio destaca a biotecnologia, que hoje já é possível abrir uma empresa e ter equipamentos com menos de 50 mil dólares. “É uma área de grande potencial, e no Brasil, com o nosso potencial agrícola é ainda maior. É a próxima onda para os 10, 20 anos.”
Para finalizar, uma dica de Claudio para você diferenciar sua startup é olhar o seu universo e ver até que ponto os dados que você tem acesso podem criar uma experiência diferenciada para o seu cliente.
Claudio dá ainda dicas de ferramentas abertas que a IBM disponibiliza para as startups:
Bluemix: Oferta de plataforma como serviço (PaaS) baseada em um projeto de código aberto de Cloud Foundry que promete oferecer funções e serviços em nível empresarial fáceis de integrar aos aplicativos da nuvem;