No Brasil, em 2020, negros ganhavam em média 48,0% menos que brancos; em 2021 lacuna se ampliou para 49,4%, segundo o estudo “Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil” realizado pelo IBGE. De acordo com o estudo, essa disparidade racial começa muito cedo na vida do brasileiro: entre as pessoas que se identificam como brancas, 27,7% declararam ao IBGE não ter instrução ou ensino fundamental completo. Entre os negros e pardos, entretanto, essas porcentagens sobem para 36,5% e 38,7%, respectivamente.
Para ajudar a transformar essa realidade no Brasil, Janine Rodrigues criou a Piraporiando, edtech com o propósito de levar educação antirracistas, antibullying e antipreconceitos, não só para as escolas mas para empresas também. “O conhecimento é muito restrito, não por causa de quem produz o conteúdo, mas sim por causa das barreiras sociais que enfrentamos”, diz.
Janine é formada em Gestão Socioambiental com especialização na mesma área pela UFRJ. Desde muito nova se interessou pela escrita, e hoje além de ser educadora, é também escritora com ao todo 13 livros publicados. “A minha família sempre me incentivou a praticar a leitura e desde muita nova comecei a escrever. O meu primeiro livro publicado em 2009, ‘A Criança Autista’, foi uma história que escrevi quando ainda era criança, e anos depois ele foi publicado”, comenta Janine.
Startups e a Piraporiando
Ela conta que a criação da Piraporiando não foi algo planejado, já que o trabalho que começou na educação não foi com o objetivo inicial de abrir uma empresa, o seu foco era levar diversidade a mais espaços. Porém como consequência positiva da sua iniciativa, começaram a surgir muitos convites para criar projetos voltados para diversidade, então para conseguir cumprir a agenda, foi necessário abrir uma empresa.
A Piraporiando é uma edtech de Impacto Social que atua em prol da educação antirracista, antibullying, antipreconceito e de promoção da equidade de gênero. Dentro das empresas, escolas e família, o trabalho da empresa oferece formação, monitoramento e diagnóstico, além de experiências e vivências práticas (conteúdos, oficinas, teatros), alinhados ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e dos requisitos de ESG. A Piraporiando é considerada pela Saint Paul, Kroton, Ser Educacional, Adtalem, CEL.LEP e ESPM uma das 20 empresas mais importantes na área de educação inclusiva do Brasil.
Os projetos implementados têm cerca de 6 meses a 1 ano de duração, incluindo acompanhamento e curadoria durante o processo de inclusão. O que diferencia é a forma de abordagem em cada espaço. Por exemplo: Nas escolas é trabalhado um tema por vez.
Ping-Pong com Janine
1 – História que te impactou
A primeira é uma escola que fica localizada em Parintins ( AM), eles passam por muita dificuldade, mas mesmo assim são os que mais engajam na plataforma e que procuram praticar a inclusão dentro do seu espaço. Mas deixo claro que não baseamos todo o nosso trabalho na área digital, porque o Brasil ainda não é totalmente digital. E eu fico muito incomodada quando as empresas falam do digital e da conectividade como se todo mundo tivesse acesso, e isso não é verdade, inclusive acho bem hipócrita esse pensamento.
Referente à empresa, fizemos um trabalho para o Itaú – que tem um programa de voluntários do próprio banco, onde os funcionários se propõem a atuar em programas de educação que a empresa apoia, e foi muito bonito a troca, todos estavam abertos para o projeto e eles mudaram um pouco as suas perspectivas, afinal não dá para usar a mesma régua para todo mundo.
2 – O maior desafio enfrentado até o momento?
Sobreviver em uma sociedade racista, porque isso impacta diretamente no nosso negócio.
3 – A Maior conquista?
Sem dúvida, são as crianças. Quando as crianças de grupos minorizados se identificam e se sentem empoderadas através das histórias que contamos e que não é baseada apenas em dores, é a parte mais incrível do trabalho que fazemos. Saber que essas crianças estão sonhando e tendo mais perspectivas não tem preço.
4 – Somos todos iguais?
Não somos iguais, somos diferentes uns dos outros e precisamos ser respeitados na nossa individualidade.
5 – Programas de capacitação para promover a diversidade funcionam?
Eu estou um pouco de saco cheio de programas de capacitação e desenvolvimento, precisamos virar essa página. Claro que existem pessoas que precisam se capacitar e se desenvolver em algumas áreas. Mas toda vez que pensamos em projetos e programas que abrem no mercado para a população negra é sempre a mesma história. Se você quer ser antirracista, compre e invista em pessoas negras.
Segundo estudo realizado pela empresa BlackRocks, das 500 maiores empresas do Brasil, pessoas negras representam 35% dos times, desses dados 58% dos cargos ocupados são no nível de aprendiz e trainee, e apenas 5% ocupam as posições de liderança.
6 – O que é diversidade?
A diversidade não depende de uma opinião ou de um querer, ela é o que está posto e não tem como ser apagada. Inclusive, precisamos apoiar a diversidade porque temos muito a ganhar, enquanto empresário, empreendedor, e pessoa. Somos plurais e isso é muito rico.
Faturamento e planos futuros
A Piraporiando está presente em 12 estados do Brasil, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas. Considerada pela Forbes uma das 13 empresas que estão elevando a qualidade da educação no Brasil, a edtech tem a previsão de faturar cerca de R$ 1.5 milhão em 2023.
O foco da edtech para os próximos anos inclui potencializar o impacto social em outros espaços, estruturar melhor a equipe que hoje conta com 6 colaboradores e trabalhar com pesquisas de dados para o mercado.