No último sábado (14), a Americanas publicou um comunicado ao mercado em que confirma as “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões e que podem levar a empresa a um endividamento de R$ 40 bilhões. O baque nos valores das debêntures da empresa afetou diversos fundos de investimento que as têm na carteira.
Nas redes sociais, os burburinhos são com os fundos de renda fixa do Nubank, que sofreram com a situação da varejista. Com investimentos em crédito privado e parte dos recursos alocada em debênture (título de dívida) da varejista, algumas carteiras do banco ficaram com rentabilidade negativa.
O “Nu Reserva Imediata” é um dos fundos impactados pela situação e viu sua rentabilidade cair e ficar no vermelho. Essa opção é oferecida pelo banco para guardar dinheiro para uma reserva de emergência por meio de suas “Caixinhas” – ferramenta onde o cliente guarda dinheiro conforme seus objetivos. Também é considerada de baixo risco, alta liquidez e grau de investimento e indicado para “investidores que não querem correr muitos riscos e com uma expectativa de retorno melhor que o da poupança”.
Essa carteira tinha cerca de 1% de seu patrimônio alocado em duas debêntures da Americanas, segundo os últimos dados apresentados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O “Nu Reserva Imediata” antes entregava ganhos equivalentes a 109% do CDI (certificado de depósito interbancário) e agora, nos últimos 30 dias, apresenta um retorno médio de 37% do CDI.
Para evitar perder dinheiro dos fundos de investimento, o especialista Marcus Nery, planner do TC, indica que as pessoas físicas estudem antes de aplicar dinheiro e entendam onde aquele fundo é investido. “Esse fundo é um investimento em liquidez e retorno rápido, geralmente usado em emergências ou oportunidades. Para evitar isso, é possível investir no tesouro selic, que é livre de riscos e terá um retorno parecido, mas sem renda imediata para retirar.”
Rafaela Romano, cofundadora da Impacta Finance, também reforça que todos os fundos, setores e tipos de investimento estão sujeitos a perda. “Há riscos em todos os lugares onde se olhe. E até títulos púlicos em ocasiões raras, como em moratórias, podem ser um problema. O risco sempre vai existir, mas a questão do risco, é olhá-lo sob a perspectiva do risco e retorno e do risco geral dos portfólios.”
A cofundadora indica que para escolher um fundo, é importante olhar a performance passada deles e principalmente, como ele performou em diferentes ciclos do mercado. “É razoavelmente fácil para um fundo ter boa performance quando estamos em um momento de grande liquidez e taxa de juros baixa. Mas como esse fundo performou durante períodos de crise? A resiliência histórica é uma boa métrica para se escolher um fundo.”
Em nota, a gestora de investimentos do Nubank, a Nu Asset Management, afirmou que “assim como dezenas de fundos no mercado com o mesmo perfil, o Nu Reserva Imediata também investe em ativos de crédito privado, dentro de um limite regulatório. A pequena parcela de investimento em debêntures das Lojas Americanas, historicamente avaliada como Triple A [classificação de risco de crédito] por diferentes casas de rating, já foi revista pela Nu Asset Management.”
Já sobre as “Caixinhas”, o Nubank afirmou que oferece diferentes opções de investimentos. “Cerca de 10% das Caixinhas existentes têm recursos no Nu Reserva Imediata. O impacto de rentabilidade nesse fundo específico, causado pelo evento atípico de mercado, tende a ser amenizado ao longo do tempo pela estratégia de gestão do fundo”, informou em nota.
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Quais serão os próximos passos?
As cenas dos próximos capítulos são incertas, como afirma Rafaela Romano. Na sexta-feira (13), a Americanas obteve uma liminar que a protege por 30 dias contra vencimento antecipado de dívidas, prazo que poderá usar para obter um acordo com credores ou pedir uma recuperação judicial.
“Outro cenário é a possibilidade de oferta de ações e injeção de liquidez com os acionistas Carlos Alberto Sicupira, Marcel Telles e Jorge Paulo Lemann. Temos gestores de fundos organizando uma ação contra a empresa e talvez a auditora dos balanços. Há ainda outros assets planejando uma ação coletiva.”
“E para piorar, o problema é que as ‘inconsistências contábeis’ não apenas mostraram uma ‘dívida’ como também mostraram que a empresa não é rentável em seu modelo de negócio, o que complica ainda mais a situação”, completa Rafaela.
BTG Pactual vs. Americanas
O banco BTG Pactual recorreu na Justiça contra a liminar citada acima, que protege a varejista Americanas dos credores, segundo documentos vistos pela Reuters.
O banco diz ainda na petição que a empresa tentou resgatar cerca de R$ 800 milhões em investimentos na quarta-feira (11) à tarde, poucas horas antes da notícia sobre as inconsistências contábeis, o que seria uma “prova de “má-fé”.
Nos motivos para gerar a petição, o BTG classifica o caso como “maior fraude corporativa de que se tem notícia na história do país”.
Veja alguns trechos da petição:
“O caso em questão é a triste epítome de um país. Os três homens mais ricos do Brasil (com patrimônio avaliado em R$ 180 bilhões), ungidos como uma espécie de semideuses do capitalismo mundial ‘do bem’, são pegos com a mão no caixa daquela que, desde 1982, é uma das principais companhias do trio.”
“Dois dias depois, têm a pachorra de vir em juízo pedir uma tutela cautelar, preparatória de uma recuperação judicial, para impedir os credores de, legitimamente, protegerem o seu patrimônio à luz da maior fraude corporativa de que se tem notícia na história do país.”
“É o fraudador pedindo às barras da Justiça proteção contra a sua própria fraude. É o fraudador cumprindo a sua própria profecia, dando verdadeiramente ‘uma de maluco para esses caras saberem que é para valer’. É o fraudador travestindo-se como o menino da antiga anedota forense, que, após matar o pai e a mãe, pede clemência aos jurados por ser órfão.”
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