No dia 28 de junho, celebra-se o Dia do Orgulho LGBTQIAP+. Essa data relembra os protestos em defesa do clube Stonewall Inn, ocorridos no final dos anos 60, que desempenharam um papel fundamental na história, na luta e nas conquistas da comunidade LGBTQIAP+ nos EUA e em todo o mundo. Para celebrar a data, o Startupi conta a história de uma travesti brasileira que está construindo uma trajetória de conquistas no ecossistema empreendedor e ajudando a abrir portas para a comunidade no universo das startups.
Ádani Nogueira nasceu e cresceu em São Luís do Maranhão. Ela relata que sua família era muito humilde e, inicialmente, eles moravam em um sítio durante sua infância. Posteriormente, seus pais decidiram se mudar para a cidade grande e viver com parentes, a fim de buscar melhores oportunidades de trabalho e oferecer melhores condições de estudo para ela e seus irmãos.
“Minha infância foi bastante desafiadora, mas meus pais sempre enfatizaram que os valores, o cuidado e o carinho eram os presentes mais valiosos que poderiam me oferecer”, comenta Ádani. “Além disso, desde muito jovem, meus irmãos e eu percebemos que a única maneira de mudar nossa realidade e alcançar nossos sonhos e objetivos era por meio da educação. E foi isso que eu fiz, me dediquei muito aos estudos”, complementa.
Ádani conseguiu uma bolsa em uma escola particular durante o ensino médio e, em seguida, prestou vestibular, sendo aprovada em duas faculdades diferentes. Ela teve que escolher entre Filosofia e Direito, optando pela última opção, e se formou em Direito na Universidade CEUMA em 2018.
Após a graduação, Ádani começou a trabalhar como Assessora Previdenciária na Assessoria Jurídica do Fundo Estadual de Pensão e Aposentadoria, vinculado ao Iprev – Instituto de Previdência dos Servidores do Estado do Maranhão. Ela permaneceu nessa posição até 2020 e teve a oportunidade de se envolver com o setor de empreendedorismo.
Confira aqui o Mídia Kit do Startupi!
De um relacionamento abusivo à hipnose: a origem da QTM
Ádani passou por um período muito difícil em sua vida, enfrentando um relacionamento abusivo que a levou à depressão. “Assim como eu, minha irmã e sócia sempre foi muito curiosa e buscava conhecimento sobre práticas de cura religiosas. Foi quando ela me falou sobre a hipnose. Apesar de ter muita vontade de experimentar, eu tinha medo devido ao momento em que estava passando. Foi então que ela me perguntou: ‘Se eu fizer o curso, você fará uma sessão comigo?’ e minha resposta foi sim”.
Após sua amiga concluir o curso, Ádani finalmente decidiu passar por uma sessão de hipnose. Ela descreveu a experiência como incrível e afirmou que realmente funcionou, ajudando-a a superar a depressão. Além disso, a hipnose também a auxiliou na resolução de outros problemas de saúde, desta vez de natureza física.
Com base nessa experiência transformadora e em seu antigo desejo de ser médica e ajudar as pessoas por meio da medicina, Ádani e seus amigos decidiram criar a QTM, uma healthtech carinhosamente apelidada de “uber dos terapeutas”. A QTM é uma startup de Saúde Integrativa que utiliza um software para conectar pacientes a terapeutas e espaços de trabalho compartilhados. Além da tecnologia, a empresa também se dedica à pesquisa e ao desenvolvimento científico na área de produtos terapêuticos.
Atualmente, a startup está sendo acelerada por várias instituições, como o Inova Amazônia, Inova Maranhão, Inovativa Brasil, Capital Empreendedor, além de ser pré-acelerada pelo Startup Nordeste e residente nos hubs Oxygeni e Harena. Além disso, estão em processo de internacionalização para o Chile e Peru, por meio da Usina de Startups, e para o Oriente Médio, com o sócio-investidor Zeeshan Shaikh, que reside nos Emirados Árabes Unidos.
Gamezônia: experiência imersiva e educativa
Além da QTM, Ádani Nogueira também é fundadora do Gamezônia, um jogo que utiliza tecnologias de ponta para oferecer uma experiência imersiva e educativa sobre a região amazônica. Com jogabilidade intuitiva e divertida, o jogo busca promover a conscientização social sobre diversos temas relacionados à região, incluindo sua fauna, flora, povos e comunidades tradicionais da região e questões climáticas.
“No jogo contamos a história de IBiacy, uma jovem onça que vê sua aldeia ser dizimada e seu povo disperso como resultado de Xawara, a terrível doença que leva os estrangeiros a invadir e destruir a floresta e os povos que a habitam. Xawara é a doença da ganância, que corrompe e destrói tudo o que toca. Para combatê-la, Ibiacy contará com a ajuda de Boiaçu, a Cobra Grande, e Kuab, a Arara Azul, em uma jornada para reunir seu povo e defender a Amazônia”, conta Ádani.
A plataforma foi desenvolvida utilizando técnicas avançadas de storytelling temático e cenas de imersão na Amazônia em 3D, criando um ambiente virtual único que permite aos usuários explorar a floresta de forma inovadora e educativa. Para garantir que os usuários possam aproveitar ao máximo a plataforma. O Gamezônia também oferece um Dashboard que permite o upload de testes, gamificação de exercícios, treinamento, além da possibilidade de aplicar o Gamezônia em competições e ações em eventos.
O game é um meio para os que desejam usar a tecnologia se engajem com os nativos digitais. A plataforma também é ideal para empresas que procuram treinamento relacionado a ESG e sustentabilidade, tudo aliado a quizzes que aparecerão em momentos cruciais na jornada do usuário dentro do jogo.
Ádani conta que a startup foi a única brasileira entre os finalistas da Expo Live Dubai, uma competição para receber investimentos e expor na COP de 2023. “Recebemos também o prêmio de melhor jogo pelo Festival Guarnicê de Cinema, o 4º maior do Brasil e o maior festival do Nordeste, que está em sua 46º edição. São essas e outras conquistas que me deixam feliz e me fazem seguir em frente”.
Ádani Nogueira compartilha os desafios e conquistas no ecossistema
No ambiente empresarial, tem havido um aumento no reconhecimento da importância da diversidade e inclusão. Além disso, iniciativas empreendedoras voltadas para atender às necessidades e interesses da comunidade LGBTQIAP+ têm surgido, proporcionando oportunidades de negócios e emprego. No entanto, é importante destacar que apesar desses avanços, ainda existem desafios a serem enfrentados.
Ádani comenta que o maior desafio que enfrentou até agora no ecossistema de startups “é lidar com as pressões do mercado enquanto lido com minhas próprias vulnerabilidades”. Ela também observa que, embora o ecossistema esteja mais aberto à diversidade, ainda apresenta características elitistas. “Não adianta o sistema oferecer acesso se não houver permanência. Nos grandes eventos, ainda consigo contar o número de pessoas pretas presentes, então é um problema que, embora esteja caminhando para ser resolvido, ainda persiste”, destaca.
“Por outro lado, minha maior conquista é criar uma startup e crescer como uma comunidade junto com meus amigos, além de influenciar a vida de outras pessoas. Sempre cobro mais representatividade de mulheres trans e travestis no ecossistema, e fico extremamente feliz quando percebo que não sou a única presente nesses espaços, porque é isso que eu quero: que mais pessoas como eu tenham oportunidades”, ressalta Ádani.
Os próximos passos da QTM
Atualmente, a startup conta com uma equipe de oito pessoas e está disponível em todas as regiões do Brasil. Até o momento, eles receberam um investimento parcial de R$ 6 milhões, mas Ádani afirma que outros investimentos ainda estão por vir.
Os próximos passos da startup incluem tornar as práticas integrativas acessíveis a todos e focar na internacionalização dos negócios, com a ajuda do seu sócio: Usina de Startups, começando pelo Chile e Peru, e posteriormente Dubai. “Queremos continuar a rota de internacionalização e posicionar o Maranhão como principal destino de investimentos, para que mais startups da região sejam reconhecidas tanto nacionalmente quanto internacionalmente”, conclui a COO da QTM.
Acesse aqui e saiba como você e o Startupi podem se tornar parceiros para impulsionar seus esforços de comunicação. Startupi – Jornalismo para quem lidera a inovação.