* Por Henrique Zanuzzo
Prosseguindo com o meu último artigo “Como surgiram Digitally Native Vertical Brand (DNVBs)”, no qual exploro o contexto anterior ao surgimento do modelo, proponho aqui identificar o nascimento deste conceito, que se deu no artigo “The Book of DNVB” de Andy Dunn, fundador da Bonobos e mostrar como, a partir dele este modelo se propagou de forma acelerada.
Mais do que uma análise pontual, meu objetivo é usar esse caso como exemplo para uma análise mais ampla sobre mecânica na qual muitas inovações se propagam no ecossistema de inovação.
A inovação se propaga em ondas
Há quem diga que a inovação acontece em ondas, ou seja, a partir de uma perturbação energética que insere energia no sistema, o qual se encarrega de propagá-lo em diversas direções a partir de seu centro.
Mesmo ignorando essa discussão de forma teórica, essa visão sempre me intrigou. Depois de anos acompanhando o ecossistema de inovação, percebo que já vivenciei diversas vezes essa “onda”. Talvez, você que me lê, já tenha vivido uma situação na qual duas pessoas que não se conhecem aparentemente tem a mesma ideia, em um mesmo momento, e começam a desenvolver negócios similares atacando o mesmo problema. E pior! Três meses depois, outras 10 parecem ter a mesma ideia, seis meses depois outras 50, e assim por diante.
Como explicar essa aparente geração espontânea coletiva de ideias inovadoras?
Primeira onda das DNVBs
O nascimento das DNVBs me atraiu especialmente porque me fez entender melhor como essa mecânica acontece. A verdade é que nenhuma ideia nasce do nada. Todas surgem de elementos na nossa experiência de vida, somadas aos conceitos difundidos no nosso tempo. Nosso trabalho como empreendedor é combiná-las de formas distintas e buscar soluções melhores para os problemas do nosso dia a dia.
Quando surge um novo problema, ele vem para todos e, junto com ele, surge potencialmente sua solução. Afinal, não existe lógica em pensar em uma solução para um problema que não existe. Talvez a resposta para esta solução já esteja desenvolvida em outro mercado e tudo que você precisa é combinar as duas peças gerando a energia necessária para propagar a onda adiante.
Foi essa a “perturbação energética” que Dunn “inseriu no sistema” em 2016 com seu artigo. Depois de anos buscando um modelo para sua startup de moda que pudesse bater de frente com os grandes e-commerces, ele chegou em uma combinação de conceitos que tinha esse potencial, entregando de presente ao ecossistema através do seu artigo e gerando a primeira onda das DNVB.
A mecânica por detrás – Transformando caos em ordem
Mas afinal, por que especificamente o artigo dele teve toda essa repercussão? É difícil explicar alguns fenômenos, no entanto, vou dar meus “dois centavos” sobre o tema.
Antes da publicação do artigo, havia um cenário difuso de modelos de negócio tentando ser provado. Era um período caótico, que havia pouca clareza do que realmente estava sendo gerado de valor no E-commerce 2.0 e o que realmente era sustentável para o desenvolvimento de uma empresa perene ao tempo.
A partir do artigo, qualquer empreendedor poderia entender o conceito, visualizar a Bonobos como case real e pensar mil mercados distintos a partir de sua experiência para aplicá-lo. Havia uma receita que poderia ser copiada em diversos mercados. Além disso, ele cunhou um nome pelo qual todos passaram a identificar o modelo, acelerando o compartilhamento de seus sucessivos aprendizados.
Há uma frase do poeta modernista, Murilo Mendes, que capta a essência dessa mecânica: “Só não existe o que não pode ser imaginado”. Foi isso que o artigo de Dunn fez, criou o conceito das DNVBs no imaginário do ecossistema de empreendedorismo.
Por que isso importa?
Para o modelo DNVB importa pouco, mas qualquer empreendedor deveria tentar entender a mecânica pela qual as inovações se propagam. Neste caso, foi a ascensão das DNVBs, mas assim como esta, há diversas outras inovações surgindo em outros mercados. E, saber interpretar como se dá esse fenômeno tem valor imensurável.
Henrique Zanuzzo, é CEO da Frizata Brasil e responsável pelo lançamento da foodtech no país. Formado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), dedica mais de 10 anos da sua carreira em startups e inovação, acompanhando de perto o nascimento do ecossistema brasileiro. Começou sua trajetória na Monasehes Capital, onde conheceu o empreendedorismo de impacto e atua até hoje. Anos depois fundou sua própria startup no mercado de alimentos, empresa que liderou por cinco anos. Sua carreira ainda conta com breves passagens por consultorias estratégicas e mercado financeiro.