* Por Pierre Schurmann
Aparentemente não será em 2022 que a onda histórica de fusões e aquisições no mundo e no Brasil vai quebrar na praia. Mesmo a correnteza que arrastou para baixo o otimismo nas bolsas de valores no segundo semestre não parece ter força suficiente para mudar os planos das empresas que estão capitalizadas, seja pelo dinheiro farto dos IPOs ocorridos em 2021 ou pelas volumosas rodadas de investimentos por fundos de venture capital.
De acordo com dados compilados pela Bloomberg, empresas anunciaram mais de US$ 5 trilhões em operações de M&A em 2021, quase US$ 1 trilhão acima do recorde anual anterior de 2017. Tanto as grandes corporações como startups foram em busca de aquisições, seja para impulsionar o crescimento, incorporar novas habilidades e inovações ou para simplificar estruturas e aproveitar sinergias.
No Brasil, dados do Dealogic mostram que as transações de M&A atingiram US$ 90,7 bilhões (R$ 517 bilhões) em 2021, quase o dobro do movimentado em 2020. Em volume, foram fechados 706 negócios, alta de 26% sobre o ano anterior, um recorde dos últimos dez anos. Empresas nacionais originaram quase 3/4 das operações no país e devem continuar como principais consolidadoras em 2022.
O volume de negócios envolvendo grupos brasileiros foi de US$ 69,8 bilhões (R$ 397,8 bilhões), com 571 acordos, e as operações de companhias estrangeiras comprando empresas nacionais atingiram US$ 20,8 bilhões (R$ 119,1 bilhões), com 135 operações.
A recente mudança de direção no mercado de ações brasileiro, em vez de esfriar, pode funcionar como catalisador das operações de M&A por dois motivos. Parte das empresas que desistiram de abrir capital nos últimos meses pode buscar como alternativa investidores privados e fundos de Corporate Venture, permitindo a entrada de novos sócios nas empresas com fusões, por exemplo.
Outro cenário envolve as companhias que realizaram IPO ou oferta secundária, mas as ações sofreram forte desvalorização no decorrer do ano passado. Elas poderão virar alvo de potenciais grupos consolidadores, liderados por empresas nacionais, como ocorreu em 2021.
Nós, da nuvini, anunciamos seis aquisições no ano passado e pretendemos seguir crescendo em 2022 para, no futuro, quando a janela dos IPOs nas bolsas reabrir, estarmos mais organizados e preparados para a abertura de capital.
De acordo com levantamento do Distrito, a nuvini foi a terceira maior compradora nas operações de M&A no País e a primeira se considerarmos as empresas não listadas, atrás apenas do Magazine Luiza, com 12 operações, e Locaweb, com 8. Em quarto lugar aparecem Afya e Modalmais, com 5 cada uma.
Além do recorde de fusões e aquisições no Brasil, 2021 teve um movimento particular: a presença de muitas startups do lado comprador das transações. Abastecidas por uma liquidez fora do comum no mercado de Venture Capital, muitas dessas empresas deixaram de ser apenas alvo de aquisições e foram às compras.
Os investimentos de Venture Capital nas startups brasileiras tiveram alta de mais de 200% no ano passado em relação a 2020 e atingiram o recorde de US$ 9,75 bilhões, segundo relatório do Distrito. O estudo sugere que a fartura do capital de risco para as empresas de tecnologia no país deve continuar em 2022.
Mais da metade das operações de M&A no País aconteceu entre startups e por startups, segundo outra pesquisa do Distrito com dados do primeiro semestre de 2021. Em 2020, até então o ano com maior registro de M&As envolvendo startups, foram 168 transações, com dois terços das compras sendo realizadas por grandes empresas. Nos primeiros seis meses de 2021, foram 113 fusões e aquisições, sendo que 61 transações tiveram startups como compradoras.
Os exemplos dessa tendência são diversos. Em meados de novembro, a Omie, dona de um sistema de gestão na nuvem, anunciou a compra da Linker, banco digital focado em pequenas e médias empresas com 30 mil clientes.
O Olist, novo unicórnio brasileiro, fez quatro aquisições de dezembro de 2020 a dezembro do ano passado. Ao apagar das luzes de 2021, dois outros negócios com esse padrão. A Dr. Consulta comprou uma fatia minoritária da cuidar.me, entrando em planos de saúde, e a Ebanx pagou R$ 1,2 bilhão pela Remessa Online, para entrar na área de transferência de moedas.
No mundo, a participação de startups nos dois lados do balcão também foi significativa devido à abundância de recursos para estas empresas. Nos Estados Unidos, segundo o site TechCrunch, essas empresas foram compradoras em mais da metade das operações em 2021. Na maior economia do planeta, os sinais são fartos de que estamos ainda longe do topo do potencial de funding e, portanto, as startups devem continuar a ser irrigadas com o Venture Capital em 2022.
A Andreessen Horowitz, uma das maiores empresas de VC norte-americana, anunciou agora no início do ano que levantou US$ 9 bilhões para investir por meio de seus fundos de Venture Capital, Growth, e ainda outro focado em biotecnologia. Ou seja, só esta empresa levantou o equivalente a todo o capital de risco investido no Brasil em 2021.
Outro poderoso VC nos Estados Unidos, a Northwest Venture Partners fechou um fundo de US$ 3 bilhões em dezembro. Isso elevou o capital total do grupo que foi construído ao longo de décadas para US$ 12,5 bilhões. Portanto, um quarto do capital histórico deles foi obtido apenas nos últimos três meses. Todos esses dados indicam que a maré alta de fusões e aquisições deve continuar forte em 2022, sobretudo no setor de tecnologia, para onde os investimentos têm fluído em maior volume.
Se há um conselho que poderia dar a quem pensa em aproveitar a maré dos M&As é: examine bem os valores e as chances de sinergia, mas também não deixe a onda passar. Não é toda hora que temos um vento tão a favor soprando no mercado de tecnologia.
* Pierre Schurmann é fundador e CEO da nuvini, plataforma de Saas B2B, atuando em três verticais estratégicas por meio de empresas que são líderes de seus segmentos.