Quando conversei com Ernesto Haberkorn – fundador em 1969 da SIGA, que hoje conhecemos como Totvs – uma das coisas que mais me chamaram atenção foi a simplicidade (e solidez?) da estratégia desenvolvida pelo seu sócio (que iniciou como estagiário) Laércio José de Lucena Cosentino. Provavelmente, as coisas eram mais simples à época, com menos combinações diferentes de modelos de negócio, menos sofisticação no mercado como um todo. Leia sobre o início da Totvs (como SIGA) nesta matéria.
Desde então, a empresa já passou por 49 operações de fusão e aquisição (M&A) e foi a primeira empresa latina de tecnologia a abrir seu capital em bolsa de valores (atualmente, cinco brasileiras de TI operam na Bovespa: Ideiasnet, Bematech, Positivo Informática, Totvs e Linx). A empresa mantém 55,4% do mercado de software de gestão no Brasil, 34% na América Latina e é a sexta maior desenvolvedora do mundo (a maior de países emergentes). Os dados financeiro-econômicos prestados no site da BM&F Bovespa, atualizados em 31 de março de 2013, informam um ativo de R$ 1.467 bilhões e receitas de mais de R$ 364 milhões apenas no primeiro trimestre do ano.
Haberkorn já deixou a companhia, mas Laércio segue como CEO (e detentor individual de 1,11% da empresa, fora os 16,5% da empresa LC-EH, formada por ele e Haberkorn – que ainda detem individualmente 0,01%).
O estagiário-vendedor-estrategista Cosentino segue mantendo a vantagem competitiva que proporcionou a primeira grande onda de crescimento da empresa – a manutenção do funcionamento de canais de distribuição por meio de franquias em vários mercados, com clientes de diversos tamanhos – e segue com novidades.
Ao longo da semana passada, almocei com ele (na verdade, a comida ficou de lado, como podem ver na foto) e pude encontrar executivos responsáveis por áreas da empresa que nos interessam bastante (enquanto um mercado de startups). Confira os vídeos abaixo.
Fernando Taliberti, diretor geral da Totvs Ventures e diretor de Inteligência de Mercado da Totvs.
Originalmente engenheiro de produção, mestre em negócios eletrônicos e tecnologias para gestão, Taliberti teve experiências na Accenture e na Vale antes de entrar na Totvs como gerente de consultoria (unidade onde foi diretor, antes de assumir a Totvs Ventures, depois a diretoria de Inteligência de Mercado). No vídeo, ele explica de que forma pode ser bom uma startup receber investimento da empresa – para um público de empreendedores que inscreveu suas startups no concurso Start it up, que vai afunilando selecionados ao longo de atividades e, ao final, vai selecionar um vencedor para receber um investimento da empresa.
Vicente Goetten, diretor geral da Totvs Labs.
Originalmente programador e fundador de uma empresa de software, foi gerente executivo de vendas na Datasul (empresa que foi adquirida pela Totvs) e, na Totvs, gerente de Inovação Tecnológica e gerente executivo de Novos Negócios. Foi passar um ano estudando em Stanford, experiência a partir da qual combinou com Cosentino o início da unidade Totvs Labs, que já tem um ano de atividade em Mountain View (uma das cidades integrantes da região que chamamos de Vale do Silício).
Laércio Cosentino, co-fundador e CEO.
Inicialmente engenheiro elétrico e estagiário na Siga, ele foi desenvolvendo habilidades e resultados até tornar-se o CEO e trazer a empresa o patamar em que se encontra hoje. Assista ao vídeo em que ele explica a trajetória da empresa – bem como os pilares de cultura e negócios que nortearam o crescimento.
Minha visão
Tudo começou com uma startup, em uma época em que fazer e vender software era bastante experimental; não se podia ter certeza sobre um modelo de negócio repetível e escalável no mercado que mal começava a usar software e era dominado por grandes empresas estrangeiras. O fato de a Siga seguir em frente, não apenas sobrevivendo mas crescendo e inovando no modelo de negócio, só aconteceu por meio de bastante empreendedorismo – e, mais à frente, devido a muito investimento em aquisições e fusões de empresas que, em seu início também eram startups.
O estabelecimento, há um ano, tanto da divisão de Corporate Venture Capital como do laboratório de pesquisa no Vale do Silício, não é inédito – nem ao se tratar de empresas brasileiras. Com investimentos minoritários, a exemplo do que fez com a uMov.me, não compra de controle, a Totvs pode, da mesma forma que o Buscapé vem fazendo, aumentar seu leque de tecnologias e produtos, complementando e consolidando suas soluções para fornecer negócios robustos e competitivos.
Olhados isoladamente, os esforços não brilham pela inovação e ousadia. Mas só de imaginar o esforço necessário para alinhar os objetivos e a execução (de um grupo formado pelo resultado de ao menos 49 empresas, com inúmeros acionistas na bolsa de valores, com o peso da regulação, do legado e da concorrência, em meio às incertezas sobre o andamento da economia brasileira e global, perante inúmeras possibilidades sobre o futuro da tecnologia e dos negócios), penso que o movimento tem uma mistura de sólido, robusto, coerente, versátil e aberto, o que pode proporcionar ao mercado mais surpresas – além do Fluig, lançado semana passada durante o evento Universo Totvs, consolidando todos os tipos de solução da empresa em uma plataforma cloud, mobile e social.
Vem coisa por aí. Para empreendedores, a abertura pode ser ímpar e ajudar a levar soluções startup por fortes canais de distribuição. E, não menos importante (embora nem tanto notado): o tudo-em-um Fluig, a uMov e as próximas startups a serem investidas significam também que um grande número de pequenas e micro empresas, que ainda não tenham soluções integradas de negócio, poderão contar com um fornecedor com tudo que se espera: tradição, qualidade, inovação, atendimento (pela grande capilarização ds franquias, por exemplo) e especialização. As startups são importantes para a Totvs porque são o seu passado, continuam surgindo e se juntando ao grupo e provavelmente seguirão como futuros clientes, futuros líderes internos, futuros negócios, futuras soluções.