No mês passado, o setor de mobilidade foi pego de surpresa com a notícia do encerramento das operações da Vela Bikes, revelada aqui na Startupi. Depois de quase 10 anos operando, optaram por fechar a empresa e leiloar os ativos.
Tive a oportunidade de conhecer de perto a história da Vela, já que também ajudei a fundar uma startup no segmento de mobilidade, a E-Moving. A Vela sempre teve um produto excepcional. Com bom acabamento, tecnologia de ponta e um design invejável, a Vela ditava tendências no segmento de bicicletas elétricas. O founder também era um cara resiliente e inovador.
Além desta notícia deixar muitos tristes, ela traz a reflexão sobre a relação entre a busca pelo lucro e o impacto que uma startup tem no mundo.
Para entender melhor, o que pode está acontecendo, não só com a Vela, mas sim com outras startups que geram valor à sociedade, vale destacar que após um período de crescimento vertiginoso durante os anos de 2020 e 2021, impulsionado pela pandemia de Covid-19 e uma abundância de capital no mercado, as startups entraram em seu “inverno” mais congelante.
De acordo com análises recentes da consultoria Sling Hub, os investimentos em startups no Brasil totalizaram US$ 5,2 bilhões (aproximadamente R$ 26,5 bilhões) em 2022, marcando uma queda de 50% em comparação ao ano anterior, quando atingiram a marca de US$ 10,5 bilhões. Essa tendência de recuo não se limitou ao Brasil, estendendo-se por toda a América Latina, onde os investimentos diminuíram em 35%, passando de US$ 18,4 bilhões para US$ 12 bilhões.
O que antes era um ambiente de alta liquidez e recordes sucessivos de captação, deu lugar a um cenário de incertezas e desafios para as startups, sinalizando um “inverno” para o setor.
E dentro deste cenário, sem entrar nos méritos dos desafios estratégicos e operacionais do negócio, fica a reflexão sobre o papel de uma startup no mundo e na sociedade e o quanto a dinâmica do mercado prejudica o amadurecimento do negócio até que ele cause o impacto que foi idealizado pelo fundador.
Uma empresa de bicicletas elétricas, como a Vela, ajuda na redução de emissões de CO2, reduz o trânsito, traz mais felicidade e produtividade para o seu cliente, e está diretamente ligada a tendências ESG. E mesmo assim, ela é obrigada a fechar suas portas.
Agora, imaginem se o Uber fechasse as portas lá no início por não ser lucrativa. Ou se as startups de energia solar não tivessem investimentos para conseguir viabilizar suas placas solares. Certamente viveríamos em um mundo mais atrasado e com menos conveniência e conforto.
Essas startups enfrentam um dilema complexo: como prosperar em um mercado que muitas vezes prioriza o lucro sobre o propósito? Mesmo que o setor esteja vivenciando um momento crítico, a resposta pode residir em apoio governamental, acesso a capital e conscientização do consumidor. Empresas e consumidores precisam reconhecer o valor dessas iniciativas e apoiar ativamente seu crescimento.
Em um ecossistema onde os investidores buscam rentabilidade e que um negócio tem que ser viável economicamente para prosperar, a pressão por resultados é a causa da morte de startups que deveriam viver por muitos anos e amplificar cada vez mais o seu impacto no mundo e na vida das pessoas. E a cada episódio como este, infelizmente, o nosso mundo perde um pouco a oportunidade de evoluir.
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