Por Alexandre Alves, sócio-fundador do Instituto Inovação e Diretor da Inseed Investimentos, atua diretamente na montagem, acompanhamento e gestão de risco da carteira de Fundos da Inseed
Nos últimos 20 anos termos como “empreendedorismo”, “inovação” e “capital de risco” se tornaram cada vez mais comuns no contexto de empresas e negócios no Brasil. Mas na prática, para muitos ainda restam dúvidas: como funciona este mundo onde investidores, empresas e seus empreendedores tentam se entender, se desvendar?
Em lados extremos deste universo podemos encontrar dois grandes grupos: o primeiro é formado pela jovem comunidade de empreendedores dos negócios digitais (TI/web), que já nascem buscando investidor, participando de programas de startups e aceleração e apresentam com frequência seu pitch para atrair investidores. Tem sido cada vez mais comum estes empreendedores encontrarem um crescente número de pessoas interessadas em viver a experiência de ser um investidor anjo. Seja em carreira solo, quanto por meio de redes de investidores, estes investidores estão inspirados pelo ideal de reproduzirmos no Brasil as histórias de gente que “ganhou dinheiro e fez diferença investindo nas empresas digitais quando estas ainda eram só promessa/ projeto”. Neste grupo há também negócios além do mundo TI/Web (ex.: biotecnologias, novos materiais, energia, meio ambiente, franquias, agronegócios e tantos outros), onde atuam os Fundos de Investimento de seed / venture capital, que tem como principais propulsores os agentes institucionais (BNDES, FINEP, Bancos e Agências Regionais de Fomento).
Na outra extremidade, um segundo grupo é formado pelas grandes empresas, tanto as listadas em Bolsa de Valores quanto as médias e grandes corporações de capital fechado. Junto deste mercado estão os fundos de private equity, os constantes movimentos de fusões e aquisições, as operações financeiras mais sofisticadas baseadas em dívidas/ debêntures conversíveis, os grandes projetos de infraestrutura, fundos imobiliários. Vez ou outra, alguns projetos são tão ambiciosos quanto à capacidade de atrair investidores e grandes somas de recursos, quanto incertos em seus desafios de execução.
Entre estes dois extremos há o grupo intermediário formado por um amplo universo de empresas dos mais diversos setores e cadeias de valor. É neste segmento que encontramos os empreendedores um pouco mais calejados e os negócios que já ultrapassaram os “vales da morte” dos anos iniciais, mas que ainda não alcançaram o “nirvana do crescimento acelerado e sustentável”, onde todo o seu potencial de expansão poderia ser realizado. São negócios que ultrapassaram o primeiro milhão de faturamento mensal ou anual, mas que não dominam ainda a equação para dobrar, triplicar, multiplicar estes números daí pra frente.
Porém, sabem que tal equação envolve necessariamente a aquisição de mais recursos e se veem diante de algumas opções para obtê-los, como por exemplo:
a) Crescer por conta própria num ritmo gradual, reinvestindo e mantendo a autonomia sobre o controle dos rumos da empresa (“cheguei sozinho até aqui e deu certo”).
b) Investir de forma mais acelerada, contratando financiamentos de curto (capital de giro), médio (equipe / marketing) e longo (instalações, infraestrutura, máquinas, tecnologias) prazo. Aumenta a exposição da empresa quanto ao nível de endividamento e alavancagem financeira. O empreendedor mantém-se como controlador da operação e torna-se o principal avalista da dívida.
c) Ligar o motor turbo da expansão e aumentar a capacidade de investimento e competitividade da empresa, trazendo um sócio investidor com boa capacidade de aporte financeiro (ex.: Fundos de Investimento) e de perfil ativo na definição e execução da estratégia de negócios, agora bem mais ambiciosa. Dilui a participação acionária, podendo manter-se como acionista majoritário e como executivo líder, mas consente em dividir gestão mediante regras de boa governança (conselho de administração) e contração de novo(s) executivo(s).
As duas primeiras opções são as mais usuais; a terceira ainda não é algo tão comum no Brasil. Mas em uma roda de conversas desde grupo de empresários é possível ouvir: “E aí, como vai a vida agora que ficou rico com o investimento do Fundo?” Esta pergunta reflete apenas uma das várias imagens e mitos que rondam a decisão de aceitar um sócio investidor. Afinal, a entrada de um sócio com este perfil é o ponto de partida de uma nova fase do empreendimento e não o ponto de chegada onde “agora se acabaram todos os problemas”…
Alguns critérios podem ser úteis para avaliar o momento de buscar um novo sócio para o negócio. Destacamos abaixo dois destes que podem ser usados como referência:
1) Posicionamento de mercado (x) capacidade de se manter competitivo
Empresas que conquistaram seu lugar ao sol enfrentam concorrência por todos os lados, a começar pelas pequenas e ágeis empresas inovadoras, dispostas a sacrificar margens a todo custo pra entrarem no mercado. Elas apresentam ofertas de valor mais modernas, que acabam por atrair a atenção daquele cliente sempre impelido a “experimentar” alguma solução inovadora. Depois pelos concorrentes diretos, sempre em busca de diferenciação e por fim, concorrência das grandes corporações que estão indo disputar nichos em mercados onde antes não atuavam, usando suas forças de marca e poder de fogo. Neste cenário, ganhar uma musculatura adicional – traduzida em aporte de recursos (cash in) – para deslanchar os projetos de investimentos, atrair peças chaves para a equipe, revitalizar a saúde financeira e aumentar participação de mercado com força de vendas e ações qualificadas de marketing, representa fator decisivo entre quem vai crescer e quem vai ficar pra trás.
2) Planejamento e estratégia (x) capacidade de execução
Muitas empresas foram criadas e mantidas à imagem e semelhança do talento e competência de seus fundadores. Uma visão adequada e um bom timing de decisão são fatores determinantes nas trajetórias de empresas bem sucedidas. Mas o que nos leva até um determinado ponto pode não ser mais suficiente para cumprir, com o mesmo sucesso, novas etapas do ciclo de vida da empresa. As decisões ganham em complexidade, o ambiente de negócios, tanto o macro quanto o micro, é sempre cercado de incertezas e o fôlego precisa ser renovado. A entrada de um novo sócio impõe ritmos de boas práticas de gestão, também chamados de governança. Práticas como orçamento anual, avaliações mensais, pauta de assuntos estratégicos sempre à vista, ajudando a empresa a não cair na armadilha de trocar o importante pelo urgente, trazem fôlego novo e aportam outro olhar sobre os desafios de negócio. Além de revisitar a estratégia, a presença de um novo acionista permite a implantação de novos investimentos, e deve ser capaz de assegurar a execução da visão estratégica.
Há dinheiro e há bons projetos
Pelo lado dos investidores há um crescente interesse, tanto nacional quanto estrangeiro, por empresas que se encontrem neste ponto de decisão “crescer ou crescer”, pois é justamente neste universo – de empresas em estágios intermediários da jornada empresarial – que estão localizadas as oportunidades substanciais de expansão acelerada e com uma boa relação de risco / retorno. O clichê “sobra dinheiro, faltam bons projetos” que muitos gostam de alardear quando se referem ao desafio de desenvolver o mercado de capital de risco no Brasil está ficando no passado.
Cada vez mais investidores e empresas estão buscando se encontrar, se conhecer e conversar sobre projetos de expansão e oportunidades de investimentos que geram resultados para todos. Ter um sócio investidor pode deixar de ser uma questão – por receio ou desinformação -, para ser uma opção bastante viável para empresas que tenham projetos arrojados de expansão. Além de ser uma ótima oportunidade de renovar e fortalecer uma geração de empreendedores qualificados, visionários e de alta performance.