Às vésperas da Copa do Mundo mais escrota dos últimos tempos (ou tão escrota quanto as outras), cada vez mais as pessoas falam: imagina na copa.
˜ Imagina isso na copa, imagina aquilo na copa, a copa é um absurdo, o que vão fazer com aquele estádio no estado X? Será que vai acontecer que nem na Africa do Sul, que abriram os portões? É o fim do mundo! Meus Deus! E as manifestações? ….˜
Não há motivos para celebrar, mesmo. A montanha de dinheiro que está sendo gasta sem retorno algum na base carente do país (saúde, educação, transporte público e tudo que todo mundo já sabe) é revoltante. Sempre odiei futebol, há anos que não vejo nenhum jogo. Não torço mais para nenhum time. Acho que, em termos de comparação, é a mesma política do pão e circo que, em pleno século 21, ainda persiste. Fanatismo em todos os aspectos não é saudável, inclusive no futebol – mas isso é assunto para outro artigo.
Apesar de tudo isso, eu nunca esperei tanto um jogo de futebol, quanto o da abertura da copa. Por que? Se resume a um brasileiro, e sua equipe extraordinária. E não, ele não é jogador de futebol, mas sim um neurocientista, Miguel Nicolelis.
Sou fã demais do cara. Brasileiro, palmeirense, posso dizer que Nicolelis é um verdadeiro jedi. Foi uma das grandes inspirações por trás de um dos meus primeiros projetos.
Miguel Nicolelis é um cara absurdamente apaixonado pelo que faz. Tive uma oportunidade, na UFABC, de assistir a uma palestra dele. Foram incríveis 2 horas em que eu nem pisquei.
Durante todo o tempo, entre conceitos de ondas cerebrais e interfaces humano máquina, vinha uma piada ou outra sobre o palmeiras. No final, ao apresentar o Projeto Andar de Novo, ele se emocionou, junto com as outras tantas pessoas lá presentes. Nunca vi alguém tão intenso, com um propósito tão grande no que faz.
O exoesqueleto, que fará um(a) jovem brasileiro(a), que sofre de lesão medular, usando a atividade elétrica cerebral, caminhar ate o centro do gramado e realizar o chute inaugural da copa do mundo é apenas um dos motivos.
Seu projeto é o expoente máximo do uso criativo da tecnologia. Que não precisamos nos contentar com o ordinário do dia a dia. Que podemos ousar e ser mais, que podemos alinhar desenvolvimento econômico e tecnológico com impacto social.
O meu maior orgulho de ser brasileiro, no país da copa, não é pelos jogadores de futebol, que ganham mais dinheiro do que podem gastar para manter todos alienados na frente de uma caixa preta, que não vai trazer beneficio nenhum ao país, a não ser o entretenimento barato. (Ok, acabei de falar contra o fanatismo e mandei essa. Simplesmente esqueçam, ok?)
O meu orgulho é desse brasileiro, que está a frente de um dos maiores projetos sociais com uso da tecnologia do mundo.
Hoje em dia, tudo é “disruptivo” e as pessoas nem sabem ao certo do que estão falando. O projeto Andar de Novo é verdadeiramente disruptivo. De acordo com a Scientific American: “é um projeto que vai além do limite da ciência atual, e com grande potencial de impacto.”
Da palestra que eu assisti, consegui gravar o audio do finalzinho, onde você pode ler a seguir ou ouvir:
Miguel Nicolelis: “No dia 12 de junho de 2014 na cerimônia de abertura da copa do mundo, onde mais ou menos 2 bilhões de pessoas esperam ver mais do que elas pensam ser o Brasil, mais do estereótipo que foi construído há 100 anos mundo afora do que é o Brasil, país do futebol, da música e da alegria. Mas o que nós queremos é, de certa maneira , surpreender o mundo, na abertura da copa, no momento crucial, no primeiro chute da copa do mundo, realizar no chute da copa do mundo, no país do futebol, o Brasil, um gol da ciência brasileira para toda a humanidade. Um jovem, uma jovem brasileira, que sofrem de uma lesão medular, usando a atividade elétrica cerebral para usar o exoesqueleto, ter postura ereta novamente, caminhar até o centro do gramado e realizar o chute inaugural da Copa do Mundo. Mostrar para todo o planeta que aqui existe mais do que futebol, alegria, música. Que aqui também existe ciência, ciência capaz de verdadeiramente transformar a humanidade, saindo daqui, do mesmo lugar do pessoal que vai ganhar a copa.”
Logo depois, ele mostrou, sob aplausos incessantes e lágrimas no seu rosto, o primeiro clipe do projeto Walk Again: “Um pequeno chute para o homem, um gol gigantesco para a humanidade”. Para saber mais sobre o projeto, leia aqui.
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