Inovação é consenso mundial. Possivelmente, não há nenhum país (você conhece algum?) que não tenha iniciativas e políticas de promoção da inovação. Quem está à frente, quer manter a liderança (p.ex., os EUA, com a Estratégia de Inovação do Governo Obama, de 2009 e 2011); quem chegou depois (Coréia, Irlanda…) ou está tentando chegar, como o Brasil, quer se aproximar dos líderes.
As empresas cada vez mais atentam para a inovação. Percebemos isso nos jornais de economia e negócios, na livraria do aeroporto, nas palestras para a qual todos recebemos convites etc. No Brasil, o cruzamento de dados de mais de 75.000 empresas em uma pesquisa do IPEA não deixa dúvidas: as empresas que inovam são mais produtivas, crescem mais, geram mais e melhores empregos.
Mas existem diferentes tipos de inovação e ainda há quem confunda inovação com alta tecnologia. Inovação diz respeito à produção de valor no mercado, o que pode passar ou não pelo desenvolvimento de novas tecnologias.
No Brasil, floresceu nos últimos anos o mundo das startups digitais, mas ainda é necessário fortalecer o ecossistema. Ao mesmo tempo, é difícil imaginar a economia inovadora que desejamos só com startups internet, precisamos ‘fortalecer a ponta hard’ do ecossistema e conectá-la com o mundo dos negócios. Uma recente edição da MIT Technology Review provocava na sua capa: “Prometeram-me colônias em Marte. Ao invés disso, obtive o Facebook”. É o reflexo de toda uma discussão mundial sobre a importância da inovação hard e a capacidade de resolvermos grandes desafios tecnológicos.
Nesse ambiente, quatro ideias chaves sobre inovação parecem ganhar cada vez mais adeptos (pelo menos para aqueles que estão brigando pela ponta):
- É preciso construir uma compreensão ampla do que é inovação, incluindo criatividade, design, artes, mídia e ‘sacadas’ de diferentes tipos;
- A inovação ‘dura’, tecnológica (desenvolvimento de novos materiais, moléculas, equipamentos etc.), é e sempre será muito importante e fator de liderança para países e empresas, e não se opõe às coisas mais ‘soft’;
- Só terão sucesso as organizações e países que conectarem essas duas perspectivas. Para isso, precisarão fazer uso de ‘novas ferramentas’;
- Inovação está intimamente ligada a empreendedorismo.
O desdobramento dessas ideias está acontecendo em diferentes frentes ao redor do mundo. Muitas coisas ainda são novas, até mesmo experimentos. Destaco:
- Para os governos: (i) promoção da inovação a partir de grandes desafios/problemas – a exemplo de Suécia (veja), Alemanha (veja), Coréia do Sul (veja) e outros., (ii) adoção de novas ferramentas, tais como aceleradoras, prêmios e desafios – a exemplo dos XPrizes (veja), p.ex., hackatons para o desenvolvimento de aplicações que usam dados públicos, centros de demonstração etc. – como faz o Reino Unido, através do NESTA (veja), e (iii) promoção da criatividade e da ‘formação’ em empreendedorismo. Muitas ferramentas surgidas nas empresas e empreendedores são incorporadas e escaladas por agências governamentais;
- Para as empresas: (i) criação de unidades de negócios que trabalhem como startups, (ii) adoção de práticas de open innovation, (iii) reforço das unidades de corporate venture, para incorporar as boas soluções desenvolvidas externamente, e (iv) busca de inovação e soluções tecnológicas com a orientação/gestão de parceiros externos – operações do tipo ‘inovação curada’ (curated innovation).
- Para as pessoas: (i) formação empreendedora através de modelos não tradicionais de educação – vale citar as americanas Singularity University e General Assembly e a brasileira Perestoika, e (ii) compreensão pelos profissionais de que empreender pode ser uma carreira.
O Brasil nunca mandou tanta gente estudar tecnologia no exterior ou gerou conhecimento científico e tecnológico como faz hoje. Mas ainda há muito a realizar para transformar esses ativos em valor econômico. Ainda estão em falta o ambiente, as competências de negócios e as estruturas empresariais capazes de habilitar esse movimento.
O evento que gerou o boom da indústria de venture capital nos EUA foi o IPO da Apple, em 1980. No Brasil, o ‘boom’ da indústria de VC, ainda tímido, data do final da década passada. A transformação de resultados de pesquisa tecnológica em produtos comercializados por empresas ganhou impulso nos EUA também em 1980, a partir do Bayh-Dohle Act. Uma legislação similar, a Lei de Inovação, somente foi adotada no Brasil em 2005, e ainda há muito o que fazer para que o marco regulatório seja o ideal e tenhamos condições humanas (competências) e materiais para pô-la em prática com sucesso. Em resumo, chegamos depois no jogo da inovação, mais de 20 anos depois, e ainda lutamos para implantar soluções que há muito estão estabelecidas nos países líderes.
Ao mesmo tempo em que precisamos recuperar o tempo perdido devemos dar conta de uma realidade econômica, de negócios e social que é hoje mais complexa do que no passado. Precisamos combinar velhos (subvenção, empréstimos e bolsas de pesquisa para projetos de P&D etc.) e novos instrumentos (aceleradoras, prêmios/desafios, projetos demonstração etc.) de promoção da inovação. A construção de novas formas de parcerias público-privadas (PPPs) é chave para esse processo e são animadores exemplos recentes como o Start-up Brasil.
A construção dessas novas soluções irá criar espaços, necessidades, oportunidades e desafios para o Brasil, as empresas e os profissionais. Vamos em frente!