Segue na íntegra artigo escrito pelo comunicador Pedro Sorrentino para publicação no Startupi.
A imagem é meramente ilustrativa, foi escolhida por mim (editor) e não representa nenhum ponto de vista, especialmente do autor (Pedro) ou do Startupi.
Após passar um ano e meio pesquisando sobre o papel das mídias digitais na eleição americana, tendo viajado pelo estado de Nova Iorque em busca de histórias no período do pleito de 2008 e gravado um vídeo documentário sobre o assunto, fica uma senhora inquietação sobre como será a adaptação das técnicas de Obama para o Brasil. Algo que já é realidade e deve crescer ainda mais. Todos os candidatos irão ter presença no universo digital, mas isso não significa muita coisa.
Obama não foi o primeiro a se utilizar das ferramentas digitais, da lógica da sociedade em rede e da capacidade que os meios digitais tem em alinhar, reunir e transmitir a mensagem do candidato. O movimento para o primeiro candidato digital surgiu com Lawrence Lessig e Howard Dean, em um singelo guest post que deu origem em 2002 a um movimento chamado Dean For America (Hoje chamado de DFA – Democracy For America).
Com um botão para doação via cartão de crédito e um forte grupo no MeetUp (espécie de Yahoo! Grupos) ele arrecadou U$ 25.4 milhões*. Vale lembrar que em 2002 não tínhamos Twitter, Facebook, You Tube entre muitos outros.
Resumidamente podemos apontar que Obama foi muito bem sucedido pelos seguintes motivos:
- Presença Digital Inteligente: todos seus adversários possuíam sites complexos e repletos de informação. John McCain, John Edwards e Hillary Clinton também estavam presentes nas redes socais e nos canais 2.0, mas foi apenas Obama que segmentou ao máximo sua mensagem, trabalhando os nichos e ouvindo o que todos tinham a dizer. Uma incrível compreensão da lógica digital e da capacidade de ouvir e falar.
- Sincronia de Mídias: no total Obama arrecadou U$ 750 milhões para sua campanha, com 67% proveniente da internet. Contudo, desse valor apenas 1,9% retornou para os meios digitais*2. Isso mostra como não se pode desprezar as mídias tradicionais. A equipe de Obama soube muito bem onde aplicar as verbas arrecadadas, de anúncios no Super Bowl, até a compra experimental de Banner em video-games.
- O articulardor e o símbolo necessário: é como dizer que Obama estava no lugar certo na hora certa, preparado para o momento. Uma crise econômica em conjunto com o ranço da era Bush serviram muito bem de combustível para um candidato da oposição muito bem articulado como ele. Obama representava a mudança em todos os sentidos, da cor de sua pela até a postura e maneira como espalhava seus ideais e projetos.
Essa é a combinação ideal para que uma eleição com forte presença digital seja bem sucedida. Uma mistura entre mudança, organização social (digital ou não) e sincronismo de mídias. Agora e como fica o Brasil depois da eleição de 2008, se pensarmos em 2010?
Não fica. Simples assim. Veremos uma mobilização digital gigantesca, mas será algo que não trará mudanças práticas de imediato. O movimento #forasarney está aí para comprovar. Em 2010 não iremos além da revolução do Retweet. A internet social ainda é uma seara de nicho no Brasil, todas as estatísticas comprovam isso. Seja o número de celulares 3G com plano de dados ilimitado, acesso a banda larga ou mesmo a produção de conteúdo.
Dentro deste mundo digital vivemos em uma bolha, muito pequena que não vai do Oiapoque ao Chuí. Está mais para uma ponte aérea Rio-São Paulo. Um mundo reduzido, com pouca verba e sem muita capacidade de ação fora do próprio entorno.
Os meios tradicionais tem um peso gigantesco na eleição Brasileira. Se isso aconteceu nos EUA, aqui com certeza não será diferente. No mundo online “engajadinho” a maioria já sabe em quem vai votar e ponto. Seria converter para os já evangelizados. O desafio digital desta eleição é conseguir fazer nossos pais clicarem em um e-mail marketing ou postar algo em um fórum colaborativo, caso contrário viremos cenas e repetições de um cyber-fascismo chato e tedioso. É preciso mais, mas no tempo certo.
São duas perspectivas que o atual cenário digital nos permite fazer se pensarmos no palco político de 2010. A primeira será um forte exercício de benchmarking, no qual os organizadores das campanhas deverão pescar muitas informações em tempo real, podendo utilizar o campo digital para muitos testes e brainstorms para ações que ultrapassem essa esfera.
A segunda é o grande break-even para qualquer campanha digital política. Conseguir que o seu público alvo atue de alguma forma, de preferência nas ruas onde as coisas realmente acontecem. Quem mobilizar o nicho para o mundo real ultrapassará a revoluçãozinha do RT, para algo maior, capaz de mudar a maneira de se fazer democracia no Brasil, no melhor estilo grassroots movement.
* Este valor é referente ao dia 30 de Setembro de 2003 – A eleição aconteceu em 2004.
* 2 Dados Retirados do Livro –Campaign ’08: A Turning Point For Digital Media
Este artigo foi escrito pelo comunicador Pedro Sorrentino para publicação no Startupi.