Começam a virar realidade no Brasil programas de empreendedorismo liderados por grandes corporações. Durante a Campus Party Brasil, rolou um painel denominado “Os elefantes também dançam” para discutir sobre o assunto. Participaram do painel Elis Queiros (Microsoft), Buno Rondani (Movimento 100 Open Startups), Rogério Tamassia (Liga Ventures) e Ale Borba (Google). Quem moderou o painel foi Tony Celestino, empreendedor com mais de 10 anos de experiência e Diretor Regional da Techstars Startup Programs, o maior ecossistema de empreendedores e startups do mundo.
De uns tempos pra cá vimos diversas iniciativas das grandes empresas como Google, Porto Seguro, Bradesco e Itaú com o intuito de se aproximar cada vez mais das startups. Mas o que ainda não está sendo feito pelas grandes empresas e pelos empreendedores para que essa conexão seja cada vez melhor?
Bruno Rondani, conta que o foco do movimento 100 Open Startups é aproximar as startups das grandes empresas, mas ele destaca que existe uma grande diferença entre inovação para startups e para as grandes empresas e ainda, cada comunidade tem a sua linguagem. É importante que ambos aprendam a falar a mesma língua.
Elis Queiros, conta que dentro da Microsfot eles tem discutido bastante sobre a falta da base de conhecimento de business e técnica por parte dos empreendedores. “Ainda existe um gap das startups saberem lidar e fazer negócios com as grandes empresas, as vezes o número de morte das startups é por falta de conhecimento de mercado, e financeiro. Hoje falamos bastante de tecnologia e em como capacitar as pessoas, mas sentimos falta de olhar os empreendedores como indivíduos, precisamos sanar esses gaps na área de negócios”, conta ela.
Rogério Tamassia, da Liga Ventures, que tem trabalhado à frente da Oxigênio, aceleradora de startups da Porto Seguro, conta que está rolando uma mudança na cultura da corporação. Ele conta que os funcionários tem se misturado com as startups para participar de mentorias. Já outros funcionários, atuam como mentores, ou seja, essa colisão de ideias gera um novo protocolo de comunicação que é muito bom para ambos os lados.
Ale Borba, destaca que é muito importante o empreendedor ter interesse em entender de outras áreas e as grandes empresas tentarem entender o lado do empreendedor.
E nessa dança dos elefantes, será que existe o risco dos elefantes esmagarem as startups?
Segundo Rogério, todo elefante que acaba pisando em alguma startup, acaba ficando conhecido como o elefante pesado e afasta as startups, o que hoje em dia não é nada bom. Ale Borba conta que as grandes corporações já perceberam que ter um ecossistema forte é importante para a corporação. “Para o Google, é bom que hajam boas startups de tecnologia que criem boas soluções, isso acaba beneficiando as grandes corporações.”
Bruno conta que o interesse das grandes empresas nas startups pode chegar ao desenvolvimento conjunto de soluções para inovar completamente seus modelos de negócio ou mesmo explorar frentes, como estratégia de atrair novos clientes e mercado
Elis destaca que o elefante não irá se transforar em uma formiga, mas ele irá se adaptar, o importante é ouvir, entender e existir uma troca de experiência entre empreendedores e as grandes empresas. Os empreendedores podem contribuir com a vontade de desafiar e pensar diferente, já o elefante pode colaborar com uma visão mais corporativa de negócio. É um aprendizado mútuo para ambos.
Durante todo esse processo, muitas startups estão mudando seu modelo de negócio e atraindo novos públicos, já os elefantes que não inovam, estão ficando para trás ou até morrendo, como o caso da Blockbuster. Um bom exemplo de elefante que conseguiu se manter foi as Lojas Americanas, com a implementação da Americanas.com.
Bruno destaca que esse movimento é o paradoxo da inovação. Quando uma empresa aceita que o que ela faz não funciona mais e descobre que quem está apresentando uma nova solução é uma startup, segundo ele, isso é algo muito difícil, mas que estará cada vez mais presente na rotina corporativa. “As grandes empresas que não entrarem em um relacionamento com as startups, vão ficar para trás”.
Rogério afirma que existe cada vez menos resistência das grandes empresas em se aproximar das startups, pois elas perceberam que se continuarem fazendo a mesma coisa há 20 anos, elas irão falir.
Elis destaca que como seres humanos, as grandes empresas tem certo apego de “minha ideia”, “meu projeto”, “meu negócio”, mas como as coisas estão mudando de forma muito rápida ao longo do tempo, estamos aprendendo, e desenvolvendo cada vez mais a capacidade de ouvir e aprender com os erros. “Estamos nesse processo de aceitação e superação, então acredito que nos próximos anos vamos ver mais casos de sucesso do que de fracasso”, acrescenta.
Outro tema levantado durante o painel foi a revolução que o Netflix fez no mundo do entretenimento no mundo inteiro. “Quando estamos criando uma startup sabemos que ela é um unicórnio quando começa a incomodar um mercado tradicional, assim como o Uber e o Airbnb”, destaca Tony. Os elefantes precisam aprender a lidar com os unicórnios.
Rogério acrescenta dizendo que o número de jovens que tem como objetivo empreender ao invés de seguir uma carreira executiva tem aumentado muito. “Feliz é a geração que consegue ir atrás dos seus sonhos e empreender”. Rogério destaca também que a figura do intraempreendedor será cada vez mais comum e que as grandes empresas passarão por uma grande transformação nunca vista antes.
Para Elis, precisamos trabalhar cada vez mais o conceito de empreender, para ela é possível empreender em uma startup, dentro das grandes empresas ou em uma lojinha de bairro. “O importante é plantarmos a semente do empreendedorismo nas pessoas, é importante estar perto das ideias e aberto as transformações”.
Para finalizar, cada um deixou sua dica para os empreendedores que querem se aproximar das grandes empresas. Confira abaixo!
Para Bruno, se você quer de fato empreender, o proposito que você tem com as coisas que você gosta é muito importante, mas além disso, é importante se alinhar, organizar e se adaptar para fazer coisas que sejam relevantes. É importante fazer parte de movimentos de inovação e trabalhar melhor com os recursos que você detém.
Ale destaca que se você quer empreender e se aproximar das grandes empresas, a primeira coisa que você precisa ter é contatos, se relacionar com pessoas envolvidas nisso e participar de eventos. Ale conta que muitas vezes existem pessoas despreparadas, portanto é importante treinar e estudar. “Se preocupe com coisas não técnicas, não dê o passo maior do que você pode, não conte com investimento, vá com calma!”.
Rogério afirma que hoje existe um mar de possibilidades para os empreendedores, visto que também existe um mar de problemas onde empresas buscam soluções. Segundo ele, muitas vezes as startups focam apenas em mercados como, pet, social e baladas, porém existem outros problemas que as grandes empresas estão enfrentando e caso você tenha uma solução, sua chance de virar um negócio é muito maior. “Se pegarmos exemplos de startups que estão fazendo sucesso hoje no Brasil elas estão lidando com esses problemas, é o caso da Conta Azul e Nubank”.
Elis deu um exemplo real que aconteceu com ela. Ela estava acompanhando de perto o Imagine Camp, programa da Microsoft em que jovens submetem uma série de projetos. Ela conhecia todos os detalhes dos 6 grupos finalistas que tinham ideias maravilhosas, mas ela conta que eles falharam na hora do Pitch, sem saber apresentar de forma atraente o seu produto. “Não adianta pensar apenas na sua solução, é preciso pensar em como encantar aquele investidor e em como você vai vender a sua ideia. Fiquei triste de ver projetos maravilhosos desclassificados não pelo produto, mas pela apresentação”.
Todo empreendedor deve procurar melhorar sua capacitação, buscando referências, livros, experiências de outros empreendedores, participando de eventos e pensando sempre como melhorar o seu negócio. Continue ligado no Startupi e acompanhe as novidades.