A Jestor, empresa que desenvolve uma plataforma de gestão para startups e PMEs, acaba de receber R$ 1,8 milhão de investimento, em rodada liderada pela empresa de venture capital Canary. Criado por Bruno Bannach e Guilherme Pinheiro, o SaaS permite que usuários acompanhem suas empresas da maneira que bem entenderem, programando e adicionando recursos por conta própria, e já tem mais de 5 mil sistemas criados.
O principal diferencial da Jestor (pronuncia-se como “gestor”) é oferecer um sistema altamente customizável de acordo com a necessidade de cada cliente, mirando empresas de menor porte (pequenas e médias), geralmente desassistidas nesse sentido. “Antes da gente, não havia uma solução que pudesse fazer o básico, com relatórios, métricas de acompanhamento e fornecer a possibilidade de gerenciar o negócio do seu jeito – e não como os sistemas de gestão te obrigam. O mais próximo disso era o Salesforce, mas só o custo de utilizá-lo é maior do que o faturamento de muitos negócios”, diz Bannach.
Ele fala com conhecimento de causa. Além de ter fundado, ao lado de Pinheiro, a Tunneling, que presta serviços de tecnologia B2B (vendida em julho deste ano), sua mãe é dona de uma farmácia no interior de Santa Catarina. Na tentativa de ajudar a avaliar o andamento da empresa, ele percebeu como informações tão essenciais como a receita do negócio ficavam dispersas. Era trabalhoso demais ter acesso, analisar e acompanhar os números – tarefa essencial para quem quer melhorar processos e ver o negócio crescer.
Como funciona
Além de permitir o controle de áreas como estoque, vendas e financeiro, a plataforma ainda tem uma App Store própria para que usuários acrescentem funcionalidades que desejarem ou precisarem. “A nossa proposta é criar maneiras de o empreendedor ter um sistema exatamente como ele gostaria. O sistema tem de se moldar ao negócio – e não o contrário”, explica Bannach.
Com a Jestor, para dar uma ideia, o dono de um empreendimento consegue agendar e receber uma mensagem de WhatsApp toda manhã, trazendo o faturamento da empresa do dia anterior. Outro exemplo: ao fechar uma venda no sistema, é possível encaminhar um contrato preenchido para os clientes, avisar ao time quando for assinado (por Slack ou WhatsApp), emitir nota fiscal, além de atualizar todas as métricas financeiras, vendas e metas do time. Com todas essas tarefas executadas pelo sistema, o tempo do ciclo de venda diminuiu, assim como os riscos de erro, liberando a equipe para focar no que importa.
A startup oferece três planos diferentes para demandas diferentes. O Plano Empreendedor traz soluções básicas e acesso a App Store, mas não é programável. Já com o Plano Pro, é possível modificar todo o sistema, numa estrutura parecida com a de um código aberto. “É como se você tivesse uma folha em branco e pudesse desenhar o que gostaria de adicionar ao sistema e ir dando vida à solução para o seu negócio”, diz.
Por fim, o Plano Programador é voltado para desenvolvedores criarem soluções dentro da plataforma – e faturarem com isso. Esse braço da Jestor funciona basicamente como um marketplace de devs, mas com alguns diferenciais. “Se o cliente precisa de uma personalização ou automação e não sabe como fazê-la, a gente assume o trabalho de entender o que ele precisa e de traduzir isso para um programador.”, diz Bannach.
Para atrair esses dois públicos (donos de empresas e desenvolvedores), a Jestor tem empenhado esforços para reduzir fricções no produto, com um sistema fácil e intuitivo para ambos os lados. Hoje, alguém com algum conhecimento técnico já consegue fazer diferentes customizações, desde mudar a tela do sistema e integrar com outros recursos até programar back-end e front-end.
Um dos planos para o curto prazo é desenvolver uma funcionalidade para que mesmo pessoas que não saibam programar possam criar automações mais simples do tipo if/then (se acontecer x, então y) direto na interface do sistema. Para atividades mais complexas, ainda será necessária a atuação de um programador. “Nossa aquisição de clientes, hoje, está mais em startups, justamente pela característica tech do produto. Mas queremos atrair PMEs. Estamos trabalhando para melhorar a estrutura e permitir que todos consigam construir o que precisam dentro do sistema”, afirma Bannach.
Gestores de muitas viagem
Esta não é a primeira vez que Bannach e Pinheiro se lançam como empreendedores. No começo de 2019, a dupla fundou a Tunneling, que presta serviços de tecnologia a outras empresas. Pinheiro liderava tecnologia, enquanto Bannach era responsável pelo comercial. Programador desde os 12 anos de idade, aos 15, Pinheiro já vendia sites e fazia sistemas para clientes (seu interesse por tecnologia começou por conta de jogos para PC).
Mais tarde, se tornou CTO da Plaay, startup brasileira de streaming de música que ficou conhecida como o Spotify brasileiro. Desde aquela época, ele já identificava a demanda por um sistema eficiente e completo para a gestão de negócios e estudava a possibilidade de desenvolver um protótipo, como hobby mesmo.
Bannach, por outro lado, construiu trajetória no mundo de business: estudou economia na FGV, iniciou sua vida profissional na Goldman Sachs, depois foi para IBM como trainee de vendas e fez cursos de empreendedorismo e economia na Tilburg University e na University of Amsterdam, na Holanda.
Os dois se conheceram em 2016 quando trabalhavam na startup Voxus, de mídia programática para e-commerces. Pinheiro era CTO desde a fundação da empresa e Bannach chegou depois, como business developer. À frente da parte comercial, este pegava feedbacks importantes com os clientes e aquele desenvolvia a tecnologia. Foi aí que descobriram que formavam um bom time, criaram a Tunneling e decidiram empreender de novo, ainda antes de saírem da antiga empresa.
O problema que queriam atacar ficou evidente – e a ferramenta já estava quase pronta. Só faltava um nome. Dar liberdade de atuação ao usuário foi o que definiu a escolha por Jestor. O uso da letra J, segundo os fundadores, é quase um ato de rebeldia, para deixar claro que eles são livres para escreverem o nome da startup do jeito que quiserem, assim como cada empreendedor deve ser livre para criar uma plataforma capaz de suprir suas necessidades.
Crescimento na pandemia
Por um ano, a Jestor sobreviveu quase que exclusivamente com investimento da dupla. Em um primeiro momento, chegaram a oferecer o produto de graça para pegar o máximo de feedbacks possível de usuários e, assim, aprimorar o sistema.
No começo da pandemia da covid-19, começaram a cobrar assinaturas (quem abriu a conta antes, continua utilizando a plataforma de graça). Entre março e julho deste ano, o número de usuários ativos cresceu 5,2 vezes. Além disso, o MRR (Monthly Recurring Revenue) aumentou mais de 8,7 vezes de lá para cá.
A rodada de R$ 1,8 milhão liderada pela firma de venture capital Canary contou também com a participação de Renato Freitas (99), Paulo Silveira (Alura) e FEAP. “A empresa quer ajudar startups e PMEs a terem acesso mais fácil a dados, métricas, além de poderem criar sua própria plataforma de gestão. O fato de ser uma plataforma realmente customizável, que permite os usuários a melhorarem o sistema e torná-lo mais personalizável e intuitivo para empreendedores é um aspecto do qual gostamos muito. Além disso, Bruno e Guilherme têm experiência no mundo de tecnologia e são fundadores com perfis complementares, capazes de atrair bons talentos para sua missão”, diz Marcos Toledo, cofundador e sócio do Canary.