* Por Caio Bretones
O aumento nas buscas por serviços digitais e de pagamento foram duas consequências diretas da pandemia e que tiveram grande impacto no mercado financeiro brasileiro. Essa recente movimentação fez com que instituições tivessem a necessidade de implementar novas tecnologias como forma de atingir e acomodar os hábitos da atual geração. A exemplo disso, podemos destacar as fintechs, que precisaram popularizar e diversificar o acesso a produtos financeiros com uma dinâmica diferente das instituições tradicionais. As empresas que aliam a tecnologia ao mercado financeiro conseguiram oferecer soluções bastante customizadas para o consumidor.
No evento Crosstech Latam 2022, realizado no mês de maio, pude conversar sobre as estratégias de crescimento e mudanças na indústria financeira nos últimos anos. Junto com outros especialistas, foi possível notar que há pouco tempo tratava-se de um setor bastante cadenciado. Com a chegada da pandemia, no entanto, o senso de urgência aumentou absurdamente. As empresas tinham o hábito de fazer tudo in house, ou seja, focar somente em um assunto, contudo, no período de crise, começaram a se movimentar para acelerar o processo de crescimento e foi desta forma que surgiu a necessidade e o crescimento das fusões e aquisições (M&A), como forma de agilizar a mesclagem rumo a tecnologia.
A pandemia foi, sem sombras de dúvidas, um grande catalisador do que chamamos de transformação digital, no entanto, construir o próprio braço de tecnologia ou produtos financeiros é um processo demorado. Empresas tiveram que se reinventar digitalmente e a transação de fusões e aquisições foi e está sendo uma forma de fazer isso acontecer. Essas movimentações possibilitaram que empresas que tivessem recursos e pensassem no futuro absorvessem companhias para agregar valor.
Quando pensamos em fusões e aquisições, existem alguns pontos referentes aos posicionamentos, mas primordialmente, é preciso oferecer o máximo de serviços que fazem parte de determinado ecossistema. A exemplo, podemos destacar o ano de 2021, que totalizou mais de mil M&A com valores acima de US$ 40 bilhões no Brasil – um recorde histórico. Como forma de exemplificar o conceito por trás do que ocorreu, destaco uma estrutura prévia na qual se desenvolvia apenas core banking, fundos de investimentos e tecnologia para cartões private label, e então adiciona-se outra empresa para gerar ainda mais valor aos produtos e começar a agregar outros valores, como software a prova de vida, validação documental, entre outros.
Qual motivo leva as grandes empresas a adquirirem startups? A meu ver, acredito no avanço tecnológico como fator essencial. Contudo, quando pensamos no motivo de empresas menores serem adquiridas, a questão de fusões e aquisições entra em cena. As aquisições passam a ser as bússolas que agregam valor ao ecossistema e norteiam o futuro das corporações tradicionais. Para as grandes empresas, absorver uma startup é muito mais lucrativo do que investir em tecnologia.
O mercado financeiro brasileiro está entre os mais avançados do mundo. De acordo com dados do hub de inovação Distrito, no Brasil, as fintechs atraíram US$ 3,8 bilhões em 2021, o dobro do que o setor recebeu no ano anterior. Esse valor representa o acumulado de 199 rodadas de negociação ocorridas entre janeiro e dezembro. Nesse mesmo período, seja como compradoras ou adquiridas, as fintechs brasileiras estiveram envolvidas em 44 transações de fusões e aquisições. As startups de finanças ainda são as mais representativas da indústria nacional de tecnologia em termos de número de empresas. Muitas pessoas perguntam, o que uma fintech nova precisa ter, fazer ou criar para ficar interessante para o investidor? Parece clichê, mas é gerar valor.
Estamos em uma curva de crescimento em relação às aquisições, o volume do primeiro trimestre foi absurdo e acredito que vá se manter por um longo período, tendo em vista a atuação da tecnologia em qualquer frente. O mercado está se tornando cada vez mais competitivo, e empresas que trazem novas tecnologias e soluções ainda não exploradas, têm vantagens sobre aquelas que são mais do mesmo.
Caio Bretones é sócio-fundador e CEO da Mobile2you, mobile-house especializada no desenvolvimento de aplicativos financeiros sob medida (tailor-made), com especialidade em fintechs e soluções digitais. A Mobile2you foi adquirida pela Dimensa Tecnologia, subsidiária da maior empresa de software da América Latina, a TOTVS em sociedade com a B3 S.A. – Brasil, Bolsa Balcão, ampliando assim a oferta de produtos e serviços para seus clientes e fortalecendo sua posição de liderança no segmento de tecnologias B2B para o setor financeiro e de fintechs.