* Por Felipe Oliva
O momento é de mudanças para as startups em todo o mundo. Com o fim da era da abundância de capital, os investidores buscam hoje por novos caminhos, mais saudáveis para os negócios. De acordo com a consultoria americana Carta, os aportes caíram 26% nos dois primeiros meses deste ano. Com o sinal de alerta ligado, uma das alternativas para reverter esse quadro e melhorar os units economics está ao redor da criação das comunidades em torno das startups.
A nova ordem não passa apenas pelos indicadores de crescimento sempre em alta, mas sim pelos resultados entregues. Aumentar de tamanho por si só talvez não seja mais o caminho mais adequado, o que nos leva a refletir sobre novas maneiras de continuar evoluindo de forma mais racional.
Some esse cenário o alto custo dos anúncios, tornando o modelo tradicional insustentável para as empresas. Estudos do Business Insider e do Media Post mostram que o CPM aumentou 89% no Facebook e chegou a ficar 108% mais caro no Google e YouTube. A conta não está fechando e uma revisão nas estratégias se tornou a maior prioridade.
Escolher novas formas de crescimento passa inevitavelmente por um ponto que merece mais atenção e pode ser visto com mais estratégia aos que estão ou desejam entrar no ecossistema das startups – o crescimento das comunidades.
Precisamos deixar claro que as comunidades são diferentes de uma audiência. Mais do que apenas assistir ao que é feito, as pessoas participantes de uma comunidade atuam na criação, são ouvidas e se tornam parte fundamental de todo o processo, se tornam autoridades. O desejo é tão grande que uma pesquisa publicada pela CMX mostrou que 86% das empresas apontam que as comunidades são críticas para as missões. Além disso, 69% pretende aumentar o investimento nessa área já neste ano.
Os benefícios dessa mudança de pensamento são vistos nas tomadas de decisão. Com o objetivo de servir sua comunidade, uma startup com esse pensamento irá fazer as escolhas sempre pensando no melhor para os membros desse espaço. O engajamento delas alivia a pressão pela busca por investimentos e torna o futuro muito menos dependente da necessidade de se tornar um unicórnio — uma missão que está mais difícil a cada dia.
Com um custo-benefício muito maior, o crescimento de uma comunidade reduz a necessidade de investir milhões em anúncios espalhados pela internet. Além de oferecer menos gastos, o retorno obtido com as estratégias focadas em comunidades gera um crescimento sustentável e muito mais sólido. Essa cultura acaba sendo benéfica para a startup, para as pessoas envolvidas no modelo e traz uma mensagem para todo o mercado de que precisamos rever alguns conceitos para alcançarmos um futuro mais seguro para todas essas empresas.
Além do crescimento, comunidades também trazem um diferencial como estratégia, relacionado à fidelidade. Isso significa que clientes que se sentem parte de uma comunidade estão muito mais propensos a continuar como clientes por muito mais tempo.
Outro ponto importante é também a vontade dos investidores. Como vimos que o dinheiro não entra com a mesma intensidade que antes, os projetos que dependem menos de investimento e mais das comunidades construídas ao redor tendem a ser mais interessantes para a captação de recursos. Com isso, o valor levantado será usado de forma mais consciente e poderá gerar um retorno mais interessante para quem decidir fazer o aporte em uma nova ideia.
Esses negócios precisam ser saudáveis e as comunidades são o caminho para que isso aconteça. Fica inviável pensar em startups crescendo gastando tanto dinheiro em anúncios e não observando o enorme potencial de engajamento que ela pode ter. Investir com esperteza pode diminuir a necessidade por grandes investimentos e fazer com que menos recursos sejam alocados em soluções muito mais eficientes.
Um exemplo de sucesso é o segmento de influenciadores digitais, que possuem comunidades dos mais variados tamanhos, mas sempre com um grande engajamento e participantes fiéis. Tais comunidades cresceram de forma orgânica e hoje se transformaram em grandes negócios. Por isso, realizar ações em torno delas se tornou algo natural para os criadores de conteúdo e milhões de marcas já perceberam as vantagens de optar por essa via — que está cada vez mais mais larga e movimentada.
Atuando há tanto tempo nessa área, percebo que o marketing de influência está mais importante do que nunca e que as possibilidades são enormes para quem investe em comunidades. A substituição dos anúncios por novas estratégias de comunicação é uma das principais tendências do mercado e começar agora será o diferencial para as empresas.
Se você está se perguntando se ainda há tempo de começar, posso garantir que a resposta é positiva e que os resultados vão te surpreender. Para isso, conheça qual é a sua comunidade, dê uma chance, e cultive um bom relacionamento para que o seu futuro seja muito mais brilhante na colheita dos resultados.
* Felipe Oliva é cofundador e CEO da Squid