* Por Fernando Taliberti
Em um dia ensolarado qualquer, dezenas de pessoas aproveitavam a piscina ouvindo as músicas populares que tocavam como som ambiente em um hotel. Alguns poucos até as acompanhavam cantando. De repente um músico se aproximou, se sentou sob uma tenda, plugou um microfone e começou a tocar seu violão e cantar. O estilo das músicas que tocava era exatamente o mesmo de antes e mal se podia notar uma diferença relevante no volume.
Imediatamente todos que ali estavam começaram a se virar em direção ao músico e cantar com ele.
O que será que mudou?
Não é difícil imaginar uma cena semelhante com um DJ assumindo uma pista de dança, ou com um executivo se levantando em uma mesa e proferindo um discurso recebido com aplausos. Naquele momento alguém assumiu a liderança e os demais decidiram segui-lo.
É interessante pensar que o músico não era alguém famoso, não era um líder reconhecido, mas usou de um artifício que fez com que o seguissem ao tocar músicas que seu público sabia cantar. Ele estava lá, “ditando” o que todos deveriam cantar e todos o seguiam. Músicas populares, no entanto, são eficazes para tornar um desconhecido um líder instantâneo.
Ainda assim, achei fascinante pensar que todas aquelas pessoas o seguiram naturalmente, me pondo a pensar que é da nossa natureza precisar de um(a) líder (por simplicidade seguirei me referindo a líder genericamente no masculino, embora acredite que precisemos de líderes em igual proporção de gêneros).
Um líder é uma referência, um guia, alguém que facilita nosso processo decisório ou decide por nós. A decisão é custosa para nosso cérebro e por isso seguir o líder é um hábito que economiza energia cerebral. Ser liderado traz conforto.
Não é o objetivo deste artigo questionar se isso é bom. Será que deveríamos ir contra esta tendência? Que deveríamos nos colocar alertas para não sermos liderados? É uma discussão complexa, em especial se considerarmos a infinidade de contextos aos quais podemos levá-la e em que seguimos líderes em seus domínios específicos: da pista de dança ao trabalho, da aula de spinning ao consultório médico, da viagem entre amigos à política.
Sempre haverá espaço e necessidade para um líder. Mesmo que a solução seja democrática, normalmente será necessário um líder para levar o assunto a uma votação. E é claro, acredito nas soluções democráticas, mas é importante lembrar que a democracia é também uma forma de escolher líderes. Aliás, uma pequena grande correção. A democracia é uma forma de levar líderes ao poder. E aí é que está a questão chave. O líder não é quem tem o poder, mas sim aquele que nós, na nossa busca por uma referência, optamos por seguir.
Quem está no poder tem uma ótima oportunidade de usar as ferramentas que esse lhe confere para assumir a liderança e se manter nela. Ao músico, foi dado o poder do microfone e do violão. Sem eles, assumir a liderança seria bem mais complicado. Coube à sua competência, no entanto, fazer a plateia escolher cantar com ele.
Não quero levar este texto para o campo da política, então que tal nos perguntarmos porque isso é importante para as organizações? Porque elas são feitas de pessoas. E por isso, para que atinja seus objetivos ela precisa de liderança. Não apenas de um líder, mas de liderança de cima abaixo. De pessoas que sigam, mas que saibam influenciar, tomar decisões e colocar as coisas em movimento. Uma organização sem liderança não sai do lugar, não atinge objetivos. Liderança é crucial para a cultura de uma organização de sucesso. No fundo é isso que define uma organização, um conjunto de líderes que seguem quando devem seguir e assumem a liderança quando ela está faltando, mesmo que isso signifique simplesmente tomar uma decisão solitária, sem precisar influenciar ninguém.
Não são escritórios, equipamentos, produtos, marcas. Nada disso faz uma organização, nada disso garante sucesso, nada disso leva ao objetivo. Agora mais que nunca está claro que não é um escritório que faz o trabalho ser feito, que não são as armas, nem mesmo as bandeiras que levam às pessoas à luta: é a liderança.
Fernando Taliberti é empreendedor brasileiro, fundador, mentor e investidor de startup, escritor e palestrante com foco em modelos de trabalho inteligentes, saúde mental, intraempreendedorismo, cultura de inovação e digital. Formado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também possui especialização em Product Growth Marketing pela Tera e mestrado em e-business e Tecnologias para Gestão pela Politecnico di Torino, Itália.