* Por Gabriela Accorsi
Atualmente eu sou cofundadora de uma startup e responsável pelo desenvolvimento do nosso produto. Durante a minha trajetória nesse meio corporativo e competitivo, percebo que as ações precisam ser analisadas o tempo todo e, quando necessário, o redirecionamento precisa ser feito de forma ágil.
Uma das formas mais eficazes para fazer essa análise é através da pesquisa. Afinal, não podemos desenvolver um produto sem levar em consideração a opinião de quem irá utilizá-lo. Contudo, antes de entender como o outro entende e vê a minha ideia, é preciso ter em mente que nós já possuímos uma opinião formada sobre ela. Hoje, chamamos as ideias de hipóteses, porém, apesar do nome, na maioria das vezes nós acreditamos piamente no que estamos propondo. Diante desse contexto de um mundo de opiniões, uma das tarefas mais complicadas e importantes é tentar fazer com que as nossas crenças não interfiram em nossas decisões.
Quando fazemos uma pesquisa, por exemplo, é preciso tomar cuidado para que nossas ideias não direcionem a resposta do entrevistado. Digamos que eu quero saber se a pessoa gostou de uma funcionalidade na minha plataforma. A pergunta feita nesse contexto não pode ser algo como “Você gostou dessa ideia?”. Isso porque, quando a pergunta é feita dessa maneira, o entrevistado acaba sendo fortemente induzido a responder de forma afirmativa, mesmo que sem convicção.
O exemplo acima é apenas uma das formas de como um viés pode afetar uma pesquisa. Existem diversas maneiras para que um viés distorcido acabe afetando e transparecendo durante um trabalho. Para evitar esse problema, precisamos estar atentos diante dessas situações, por isso vou discorrer sobre cada um deles.
Viés de confirmação
Este viés se dá quando eu já possuo uma ideia formada e no fim a pesquisa acaba buscando apenas pessoas para confirmarem o que eu já acreditava. Este é o caso mais simples de identificar, porém é também o mais recorrente. Esta perspectiva começa na criação de uma hipótese. Exemplo: “Eu acredito que as pessoas tem receio em clicar em um botão de cor vermelha pois elas acham que vai ser um botão de negativa (Ex. cancelar)”
Ao entrevistar as pessoas, eu acabo tentando induzir a outra parte a dizer o que eu quero ouvir. Muitas vezes para comprovar que eu tinha razão. Porém, como devemos agir nesse momento? É importante formular a pesquisa de maneira que o cliente traga o feedback sobre isso. Nesse sentido, por exemplo, é possível pedir para uma pessoa fazer a ação e analisar para ver a reação dela. A partir daí é possível tirar conclusões e confirmar hipóteses.
Viés de consenso
De certa forma parecido com o viés de confirmação, o de consenso acaba se baseando numa falsa ideia de que todo mundo pensa igual. Um bom exemplo acontece quando tratamos de opiniões de grupo, quando a bolha em que você vive acaba afetando o seu julgamento. Por exemplo, podemos pensar que a maioria das pessoas assina o Netflix, quando na verdade essa frase acaba sendo baseada somente no meu redor.
Não é porque a grande maioria das pessoas no meu círculo acredita em algo, que isso seja verdade. Aliás, vale dizer que neste caso do viés de consenso, as pessoas tendem a agir com o pensamento de que se alguém pensa diferente, é porque está errado. Nem cogita a possibilidade de que exista uma outra realidade.
Viés de recência
Nossa memória às vezes acaba sendo falha, não é mesmo? O viés de recência trata exatamente sobre isso. Ele ocorre quando a gente pega a última opinião ou informação que recebemos e guarda como se fosse mais importante do que as outras. Um exemplo prático disso acontece quando um investidor se baseia apenas nas últimas notícias e estatísticas do setor e ignora todo o histórico e comportamento do mercado na hora de tomar uma decisão. É sempre importante fugir desse viés analisando os dados em uma linha temporal mais ampla.
Viés de primazia
O caso do viés da primazia é justamente o contrário do de recência, já que agora estamos falando de quando as pessoas consideram apenas as primeiras impressões sobre a situação e ignoram as opiniões mais recentes. A resolução desse problema passa pela mesma solução que o caso anterior, ou seja, ressaltando a importância de se analisar uma coleta de dados ampla e entender a média entre esses dados.
Viés inconsciente
Este é o viés do preconceito. Você já inicia a pesquisa estereotipando um determinado grupo de pessoas. Este é um caso mais comum do que se imagina, em que acabamos generalizando e estigmatizando certos grupos, tanto para o lado positivo, quanto para o negativo, vale dizer. O importante aqui é entender que não se pode presumir opiniões e comportamentos antes da pesquisa de fato. Tratar o entrevistado de maneira neutra é muito importante para garantir respostas mais assertivas para sua pesquisa.
Custo irrecuperável
Como já dizia a música “eu não vim até aqui pra desistir agora!”. O viés do custo irrecuperável é quando você não consegue mudar o direcionamento da sua ideia por conta do tempo e/ou dinheiro que gasto nela. Neste momento, a pessoa acaba se prendendo tão fortemente a ideia inicial que tenta fazer com que as pessoas concordem que ela para sustentar que seu trabalho não foi em vão.
Este caso é facilmente resolvido com checagens constantes de evolução. Faz um item, checa se ele funcionou e se tudo realmente fez sentido antes de passar para o próximo passo. Isso faz com que você faça mudanças de direção sempre priorizando o resultado correto.
Portanto, ao iniciar uma pesquisa, é muito importante avaliar se ela foi desenvolvida com algum tipo de viés, ou se ela presume alguma coisa sobre o entrevistado. Lembre-se de que uma pesquisa serve para descobrir o que as pessoas pensam e não para confirmar que a sua ideia está correta.
* Gabriela Accorsi é COO e cofundadora da La Decora