* Por Eduardo Cosomano
A guerra pela audiência nos meios de comunicação é um fenômeno muito antigo. Eu, que cresci nos anos 90, me lembro das disputadíssimas tardes de domingo entre Faustão e Gugu, com direito a toda sorte de constrangimentos, daqueles que a gente não sabe se ri ou se tapa o rosto de vergonha.
Já no período entre o final da primeira década de 2000 e o começo da segunda, a explosão das redes sociais e dos smartphones sacudiu o mundo da comunicação. Os olhos dos consumidores passaram a ficar plugados nas telinhas e os meios mais tradicionais de comunicação começaram a disputar a atenção dos seus leitores e patrocinadores com os influenciadores. E em dado momento, começaram a perder essa disputa. Perder feio.
Isso aconteceu por uma série de variáveis. Uma delas é que os influenciadores utilizam uma linguagem mais emocional e menos formal, o que transmite uma sensação de sinceridade e conexão com quem está assistindo. Além disso, esse formato gera likes e comentários, alimentos fundamentais do algoritmo, que é quem manda nas redes sociais. Com a audiência em alta, houve migração de investimentos de marketing, o que fomentou ainda mais a adesão maciça às redes sociais como meio de comunicação.
Em paralelo a isso, cresceu na sociedade um sentimento de rejeição aos veículos de imprensa, fenômeno alimentado por interesses políticos, mas também pela falta de qualidade de apuração jornalística de muitos veículos, cabe fazer a autocrítica. E isso piorou: com a migração de investimentos de marketing e a necessidade de produzir conteúdos mais rápido, muitas redações foram juniorizadas, o que comprometeu ainda mais a qualidade das informações. O que se viu foi uma corrida desesperada por atenção e performance, ainda que isso sacrificasse a qualidade. Foi como tentar segurar o sabonete no chuveiro.
Mas, como o tempo é senhor da razão, as coisas começaram a se equilibrar, curiosamente por conta dos graves problemas que esse novo cenário criou. Na mão dos algoritmos, muitas empresas viram suas marcas patrocinando sites de conteúdo comprovadamente falso, e elas sequer sabiam disso, uma vez que os anúncios apareciam automaticamente diante uma programação focada exclusivamente em performance. Essas informações falsas começaram a se espalhar e causar graves transtornos para a sociedade de forma geral, o que inclui prejuízo para essas empresas.
Movimentos antivacina ou questionamentos bisonhos acerca do formato do planeta acumulam milhões de seguidores nas redes. Só faltou questionar se água molha. As empresas também começaram a ser cobradas por seus consumidores a tomarem as rédeas do conteúdo que patrocinavam, ainda que não soubessem. Assim, a qualidade do conteúdo voltou a ganhar os holofotes. E as empresas precisavam se plugar com quem tem como seu corebussiness a responsabilidade com a qualidade de informação.
O Startupi ganhou destaque por trazer notícias apuradas e bem estruturadas sobre o mercado de startups e inovação, ambos nasceram quase juntos, por assim dizer. É um veículo que faz isso há tempos, com foco e com qualidade. Tanto é que está aí, registrando um extraordinário exit. Quem está de olho nas notícias já sabe que o veículo foi adquirido recentemente pela Bossanova Investimentos, companhia de venture capital dirigida por João Kepler, que já atingiu o marco de mil startups investidas no Brasil. No momento, é a empresa referência no setor. Ela sabe que precisa de informação de qualidade. Por si só, esse ideal já seria uma radiografia emblemática da análise acima. Mas ele não é o único. Nos últimos anos, o Magazine Luiza comprou o Canaltech e o Jovem Nerd; o portal Startups recebeu um investimento milionário do Startse e da ContaSimples; a Exame foi vendida para o BTG; e a Infomoney adquirida pela XP Investimentos. Além disso, estamos vendo cada vez mais veículos altamente segmentados surgirem, como Brazil Journal, NeoFeed, Reset, entre outros.
Não se trata de uma disputa entre conteúdo ou performance, trata-se de harmonizar essas duas forças e direcionar um conteúdo cada vez mais qualificado para seu público. A qualidade do que se fala (felizmente) ainda importa.
Eduardo Cosomano é jornalista, fundador da agência EDB Comunicação, e coautor do livro Saída de mestre: estratégias para compra e venda de uma startup, publicado pela Editora Gente.