* Por Fabiano Nagamatsu
Transformação digital é um termo que pode ser visto como subjetivo e muitas pessoas não entendem exatamente do que se trata. Até porque, sim, ele abrange uma ampla variedade de atitudes – configurada por uma mudança cultural dentro das empresas e sua relação com o público.
É comum que companhias tradicionais vejam a transformação digital e a rapidez com que as mudanças ocorrem no mercado como uma pedra no sapato. Essa categoria específica de empresários, principalmente em pequenas e médias empresas, já tem sua forma de operar e provocar mudanças estruturais acaba custando altos investimentos e demanda uma revolução na forma de pensar dos profissionais.
Se uma equipe está acostumada com os processos sendo feitos de um jeito, a transição pode encontrar barreiras. No entanto, para que uma corporação mantenha sua relevância no mercado, ela precisa entregar o que ele procura, não o caminho contrário. O “sempre fizemos assim” não é um argumento válido.
Além da troca de equipamentos e computadores, não se muda um setor econômico. O que se altera, são as pessoas e seu comportamento. Quem, hoje em dia, espera mais de uma semana para receber uma encomenda em sua casa? Quem prefere perder tempo ao telefone em um atendimento ao cliente quando outras empresas oferecem chatbots para resolver problemas recorrentes? O mercado de hoje demanda agilidade e é o papel das corporações oferecê-la.
Agilidade tem tudo a ver com startups. É por isso que cada vez mais corporações têm investido em processos de inovação aberta, ou open innovation. Eles se referem exatamente a uma colaboração entre startups e empresas tradicionais para trazer a mudança cultural da transformação digital para dentro delas. É interessante que ela nunca ocorre de dentro para fora: é preciso trazer profissionais com uma nova perspectiva para que ela aconteça de verdade.
As startups já nascem com conceitos que as empresas tradicionais precisam: escalabilidade de risco, mercado de incerteza, visão holística, criatividade e inovação, modelos replicáveis e, principalmente, a agilidade – errar rápido e aprender rápido é uma característica fundamental para elas. Porque, quando se percebe um erro em um curto período de tempo, é mais fácil e mais barato ajustá-lo.
Por outro lado, as empresas tradicionais também oferecem vantagens para as startups. Elas têm uma operação e atuação no mercado já estabelecida, público consumidor definido e estabilidade. Hoje, a inovação aberta bem vista é aquela na qual se dá oportunidade para as startups por meio de investimento, com ou sem coparticipação em seus lucros, mas que incentive seu crescimento para que os resultados retornem para o negócio investidor com suas ideias inovadoras.
Ambos os empreendimentos precisam encontrar sinergia entre si. A relação de inovação aberta somente é bem sucedida quando a inovação trazida pela startup faz sentido para a empresa tradicional: seja na questão logística, operacional, recursos humanos, ou mesmo na parte fabril. Elas precisam contribuir entre si para acelerar processos, reduzir a equipe alocada para trabalhos repetitivos e aumentar o número e qualidade de profissionais em cargos estratégicos. Assim, fazendo com que o trabalho renda bons frutos para ambos os lados, trazendo lucro, eficiência e mudança cultural. É desta forma que apoiamos a transformação digital para fora de nossas bolhas e para toda a sociedade brasileira.
Fabiano Nagamatsu é cofundador da Osten Moove e mentor de negócios no InovAtiva Brasil, maior programa de aceleração de startups da América Latina, indicado dois anos consecutivos entre os 10 mais influentes em mentoria e investimento do Startup Awards 2019, iniciativa da Abstartups, e finalista como mentor do ano em 2020 e 2021.