* Por Cleber Muramoto
O impacto da transformação digital sobre o meio corporativo traz benefícios, desafios e uma série de questionamentos a serem resolvidos. Para organizações com pouca ou quase nenhuma expertise no tema, é natural que o debate se mostre ainda mais necessário, a fim de que a presença da tecnologia seja concebida com mais clareza e aderência. Certamente, um dos tópicos que merece destaque é a função do colaborador ante à automatização. Não é raro encontrar pessoas que, no mínimo, possuem dúvidas quanto ao nível de participação do usuário junto a ferramentas tecnológicas.
Como uma discussão historicamente recorrente, que mesmo em frente ao crescimento de empresas amadurecidas em termos digitais, continua a habitar o imaginário popular, existe um espaço bem-vindo para uma reflexão que não desconsidere essa parcela de receosos quanto a movimentos rumo à inovação. Parte da missão de quem oferece essas ferramentas, sem dúvidas, é demonstrar como a Inteligência Artificial (IA) não chegou para antagonizar o protagonismo das equipes de trabalho.
Nesse sentido, é preciso partir do princípio de que nenhuma companhia é similar à outra. Aspectos circunstanciais pesam e influenciam o formato e também o modelo de digitalização a ser implementado. Não se trata, jamais, de lançar a máquina no cotidiano operacional e esperar que a mesma resolva todos os problemas do negócio, dentro de um intervalo de tempo recorde. Demanda capacitação, planejamento estratégico e o suporte pontual de quem possui especialização na área. Isso não significa, em outras palavras, que os colaboradores estão excluídos dessa equação.
Como a IA serve à valorização profissional
Ao pensarmos na tecnologia como uma espécie de agente conciliadora, isto é, que chega para assumir determinadas etapas operacionais e conciliar uma rotina simplificada entre os departamentos, temos um a vaga ideia de como a IA pode funcionar internamente. No geral, ao olharmos para o volume de operações, é possível diagnosticar atividades de pouca atribuição estratégica, repetitivas e até mesmo exaustivas se conduzidas por profissionais. Esses procedimentos, apesar de essenciais para o funcionamento do negócio, pouco estimulam a capacitação individual e coletiva.
Para piorar o quadro, cenários corporativos como o citado anteriormente fomentam um ambiente de morosidade e riscos iminentes. Em um efeito dominó, a falta de agilidade prejudicará o desempenho das equipes, culminando em baixos níveis de competitividade. Outro ponto de atenção repousa na segurança dos dados, visto que informações armazenadas e manipuladas em sistemas manuais sofrem com a falta de artifícios que garantam a integridade dos materiais. Em tempos de Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a urgência por soluções de cibersegurança ganha caráter de obrigatoriedade.
Ao optar pela adoção de uma plataforma robusta de automatização, o gestor abre portas para uma nova concepção de cultura organizacional – e isso deve incluir, de modo prioritário, o redirecionamento dos envolvidos nos setores afetados. Logo, torna-se possível a liberação dessas pessoas para tarefas mais subjetivas, de alto teor estratégico, que se relacionem com o core business da organização. O resultado é a sustentação de um plano de fundo eficiente, seguro e agilizado, no qual os times encarregados por funções específicas centralizarão seus esforços somente nelas, deixando aspectos estruturais a cargo da máquina.
Para concluir, retorno à pergunta que intitula o artigo como base para uma afirmação final. Se levada ao extremo de suas características, sem uma abordagem ampla sobre seus verdadeiros propósitos, a Inteligência Artificial (IA) corre o risco de ser estigmatizada como um paradoxo dentro das empresas, o que não converge com a realidade dos fatos e nem com o mercado de inovação, que se encontra extremamente aquecido. Portanto, evitar estereótipos acerca do assunto e compreender, na prática, como a tecnologia pode beneficiar o negócio, é uma medida imprescindível para líderes comprometidos com a valorização do fator humano no ambiente de trabalho.
* Cleber Muramoto é Head de Pesquisa e Desenvolvimento na Nextcode. Possui Doutorado em Teorias de Gauge e mais de 14 anos de experiência na área de tecnologia.