Após um ano de recordes em investimentos, as startups começaram 2022 movimentando ainda mais o ecossistema de inovação. Em fevereiro as empresas brasileiras receberam US$ 763 milhões ao longo de 40 rodadas de aportes, segundo levantamento do Distrito, plataforma de inovação aberta e transformação digital da América Latina.
Embora o número de investimentos esteja aumentando gradativamente, muitos empreendedores ainda têm dúvidas sobre os processos de captação, quais investimentos buscar no início da companhia, o que fazer para atrair investidores e como preparar um pitch matador.
Para ajudá-los nesse processo, demos início a uma série de matérias com dicas práticas de importantes investidores e empreendedores do mercado.
Em março, em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, convidamos diversos nomes femininos renomados do ecossistema. Carolina Strobel, sócia operacional da Redpoint eventures, empresa de capital de risco, é a convidada da vez.
Por onde começar?
Carolina Strobel explica que antes de buscar uma captação, o empreendedor precisa entender se sua startup ou empresa realmente precisa de investimento e para quando. Quem define essa necessidade é o business plan, ou seja, as projeções de despesas, recebimentos e crescimento do negócio.
“Precisa também de um pitch que detalhe os financials do plano estratégico, que inclua informações detalhadas sobre time, problemas a ser solucionado, tamanho de mercado endereçável, MVP, entre outros. Uma bela apresentação sobre os planos da empresa”, afirma.
Depois de verificar se será necessário um investimento, o time fundador tem o dever de conferir quão robusto deve ser o cheque para a primeira fase da startup. Avalie o tamanho da escala ou do impacto que deseja criar, quanto dinheiro e em qual setor precisa investir para alcançar esse objetivo e calcule uma previsão do tempo que levará para isso acontecer.
A pesquisa de campo sobre as formas de financiamentos disponíveis no mercado também é fundamental. Verifique a estratégia e visão de resultado (financeiro/estratégico/escala/impacto) de cada grupo investidor. Além de avaliar quem são as pessoas e entidades com capacidade de financiamento para o seu business específico. Essa etapa é necessária para evitar um “não” durante o seu pitch por falta de match entre investidor e empreendedor.
“É importante verificar quem tem condições de adicionar valor em cada fase do negócio. É o que chamamos de smart money, muito mais do que dinheiro, mas conhecimento, conexões, experiência na área”, reforça.
Quais investimentos procurar?
Segundo a sócia, as startups em fases iniciais geralmente são financiadas pelo FF (friends and family). Este é o momento em que o time fundador aporta valores importantes para o desenvolvimento de MVP (Minimum Viable Product) e para analisar o modelo de negócio.
Depois vem as duas fases de capital semente, pré-seed e o Seed, onde grupos de investidores-anjo, fundos de Venture Capital e Corporate Venture Capital (organizações que investem em startups estratégicas para o seu business) avaliam e investem no negócio por meio de empréstimos conversíveis em ações. “No início também existem outras oportunidades de financiamento como crowdfunding, venture builders e alguns financiamentos governamentais”, lembra.
A partir do momento que a empresa começa a ter mais tração, clientes e MVP evoluído, é hora de buscar um fundo de Venture Capital de investidores de Série A – primeira série de investimento com valores volumosos em equity. E assim segue, até as rodadas mais avançadas, que primam por aumentar a escola da startup, conhecida como capital de growth. Como já dito por Carolina, avalie a fase da sua empresa e busque os investidores adequados conforme o tipo do seu business.
Trajetória
Carolina é conhecida por ser uma das mulheres pioneiras do mercado de fundos de capital de risco, que iniciou a carreira em 2001, na Intel Capital. Formada em direito e trabalhando na área jurídica de um banco, se surpreendeu quando recebeu o convite de uma chefe da Intel Capital para voar até o Vale do Silício para aprender a atuar com Venture Capital.
Com a alma de investidora que sempre teve, embarcou para o novo desafio. Participou de operações e aprendeu sobre como os fundos atuavam na América Latina. Ao voltar para o Brasil, já era diretora da Intel Capital e conselheira da Abvcap – Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital, entidade sem fins lucrativos que visa o desenvolvimento da atividade de investimento de longo prazo no Brasil, nas modalidades abrangidas pelos conceitos de private equity, venture e seed capital.
A curitibana implantou importantes projetos para a área de investimentos. Em 2016, criou o Guia de Investimento Anjo & Documentos Legais, que serve de referência para incremento no conhecimento de investidores, empreendedores e demais agentes do ecossistema de capital empreendedor.
Após trabalhar por quase 17 anos no setor jurídico da Intel Capital para América Latina, braço da companhia para venture capital, private equity e fusões e aquisições, e dois anos como diretora de inovação da varejista Restoque, Camila virou a nova sócia da Redpoint eventures, no final de 2019.
Fundada em 2012, a Redpoint eventures é uma empresa de capital de risco, que investe nas primeiras rodadas de financiamento das startups (estágios seed, early e growth). Sua missão é apoiar os empreendedores brasileiros do mercado digital em sua jornada para criar empresas de rápido crescimento. Gympass, Rappi, Creditas, Tembici e Olist são alguns negócios de sucesso que têm o apoio e investimento do fundo.
Strobel é a primeira líder mulher do time e atua como operating partner (sócia operacional) com foco na estratégia de talentos, desenvolvimento de negócios das startups e em iniciativas ligadas ao âmbito jurídico e de relações com investidores do fundo. Todas as negociações de Venture Capital passam por suas mãos. “O momento mais marcante da minha carreira foi quando me reuni, como sócia, com quem considero ter sido o melhor time de venture capital no Brasil: Anderson Thees, Manoel Lemos, Romero Rodrigues, Rodrigo Baer e Flavio Pripas – a Redpoint eventures. Me senti entre iguais, valorizada de forma equânime, como nunca antes”, afirma.
Pitch matador
Para Carolina o pitch matador deve ser dividido em quatro pontos fundamentais:
1- Pessoas: qual o time vai colocar este business de pé e seguir com ele por, pelo menos, grande parte da jornada; quais as especialidades, background, diversidade e experiência deste time; qual o propósito, ambição e a dinâmica entre eles; são complementares?
2- Problema: existe a possibilidade de endereçar esta dificuldade e criar um business mais eficiente?
3- Produto: o MVP, ou o conceito é válido para endereçar o problema? É escalável?
4- Mercado: É grande e permite escala? Quais os concorrentes atuais e qual a situação deles em termos financeiros e estratégicos?
Não esqueça de usar seu networking. Tenha uma apresentação impecável e treine com amigos, mentores, investidores – as sugestões deles serão válidas, mas não perca sua essência. “Sempre tenha ‘skin in the game’ ou seja, entre no risco junto com todos. Não dá para esperar que vai receber um super salário, por exemplo”, completa.
Investimentos mais marcantes da carreira
A sócia inicia sua resposta dizendo que cada investimento que faz é especial. Existe uma relação com o founder e vai além do aporte financeiro. “É a execução da realidade de um sonho que é sonhado junto. Eu curto o caminho, a jornada, a execução que 100% das vezes não é fácil, e por isso é bem difícil falar de apenas um investimento”, relata.
Mas Carolina cita o investimento na Vittude, referência em psicologia on-line e saúde emocional corporativa, healthtech que chegou a Redpoint eventures por meio do sócio Romero Rodrigues. A empresa teve um crescimento significativo nos últimos anos, com uma base de clientes que saltou de 7 empresas em 2019 para 160 companhias atendidas.
Nomes como Banco do Brasil, SAP, Sky, Grupo Boticário, Saint Gobain e outras startups, como a Adventures, Inc, oferecem o serviço da Vittude como benefício, que é utilizado por cerca de 600 mil pessoas.
Esta semana, ela recebeu um aporte Series A de R$ 35 milhões. Liderada pela Crescera Capital, a rodada contou ainda com a participação da Redpoint eventures e Scale Up Ventures, da Endeavor. O investimento será para o crescimento do número de empresas atentas à saúde mental de seus funcionários.
A sócia reforça que a empresa é liderada e foi fundada por uma mulher, a Tatiana Pimenta e compartilhou uma frase dela: “Em várias ocasiões, sentei para conversar com fundos que não estavam a fim de ouvir pelo fato de eu ser uma mulher. Mas as coisas estão mudando”. Camila termina dizendo que o fundo existe para investir em negócios inovadores e também protagonizados por mulheres. “Vamos mudar o mundo junto com ela [Tatiana] e com muitos outros”, completa.
Para conferir a última matéria desta série do Startupi, clique aqui! A última entrevistada foi a Camila Farani, sócia-fundadora da G2 Capital.
* Foto destaque: Carolina Strobel, sócia operacional da Redpoint eventures.
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