A Decoy Smart Control, desenvolvedora de soluções biológicas para controle de pragas, recebeu R$ 810 mil em recursos públicos oriundos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Com o aporte, a empresa, fundada em 2015, irá investir nas tecnologias para os mercados de avicultura e apicultura.
Com o intuito de revolucionar os campos e promover mudanças nos padrões de consumo, em um laboratório de 80 metros quadrados no Supera Parque de Inovação e Tecnologia, a empresa teve um crescimento de 1560% no primeiro semestre deste ano – em relação ao mesmo período de 2019 -, a startup já recebeu R$ 1,8 milhão em investimentos privados desde 2015.
Agora, dos R$ 810 mil aportados da Fapesp, a Decoy irá direcionar R$ 160 mil ao desenvolvimento de uma solução para controle biológico do besouro cascudinho da granja (Alphitobius diaperinus), que causa prejuízos à avicultura, e R$ 650 mil para pesquisa de um produto biológico contra o ácaro Varroa (Varroa destructor). Estes ácaros parasitam colmeias de abelhas da espécie Apis mellifera e contribuem para o distúrbio do colapso das colônias e desaparecimento da espécie.
Os projetos estão sendo executados pela bióloga Dra. Tatiana Magalhães, CTO da startup, e pela bióloga e pesquisadora Dra. Larissa Elias.
Solução para controle do besouro cascudinho da granja
A avicultura é um segmento de destaque no agronegócio brasileiro e o país é líder mundial em exportações de carne de frango, suprindo a demanda de mais de 150 países. O cascudinho das granjas, entretanto, é uma das principais pragas que acomete a avicultura intensiva no país – e em todo o mundo.
Dentre os danos causados destacam-se a perda de peso das aves, transmissão de vírus, fungos e bactérias causadores de doenças, com destaque para a salmonella, e destruição da infraestrutura das granjas. Os meios de controle da praga atualmente empregados se baseiam em inseticidas químicos, que têm agravado problemas de resistência, são ineficientes e altamente tóxicos ao ambiente e ao avicultor.
Diante desse cenário, a Decoy está desenvolvendo uma alternativa eficaz, e com base em princípios sustentáveis, para o controle do cascudinho da granja por meio de agentes biológicos. “São demandas atuais do agronegócio a busca por tecnologias modernas e sustentáveis que gerem produtos com menor impacto ambiental e alimentos mais saudáveis”, pontua Tatiana. “Diferente dos produtos químicos tradicionais e disponíveis no mercado para o controle do cascudinho, a Decoy trabalha na oportunidade de transformar o conhecimento científico acerca da interação patogênica entre fungos e insetos em um produto de controle dessa praga em aves confinadas ou não”, completa.
A oferta a base de fungos permite o controle adequado das infestações pelo cascudinho da granja, pois os microrganismos usados como agentes biológicos são inimigos naturais desse besouro e apresentam alto grau de especialização, atingindo especificamente esses parasitas. “Desse modo, ao contrário dos atuais inseticidas químicos disponíveis, o biodefensivo não tem efeito algum sobre os frangos, homem ou ambiente. Essa opção de controle não tem efeito sistêmico e não deixa resíduos na carne, contribuindo para a segurança alimentar associada a esses produtos”, destaca a bióloga.
A solução biológica contra ácaros
A apicultura mundial vem sendo afetada por um fenômeno, chamado Síndrome de Colapso das Colmeias, que leva à perda de ninhos de abelhas. Dentre as possíveis causas estão o uso de pesticidas, mudanças climáticas, doenças e infestações pelo ácaro parasita Varroa destructor. No Brasil, cada vez mais efeitos negativos de infestações pelos ácaros em ninhos de A. mellifera têm sido observados, especialmente no sul do país.
De acordo com a Decoy, as formas de controle do parasita usadas atualmente incluem acaricidas químicos sintéticos, que vêm perdendo eficácia nos últimos anos, pois a maior parte das populações de ácaros desenvolveram resistência aos compostos. Dada a ineficácia dos produtos, o uso de substâncias não regulamentadas para controle do ácaro também é feito de forma irregular, causando problemas sanitários graves e com consequências imprevisíveis.
“Os produtos químicos são tóxicos ou letais para as abelhas, e os resíduos desses compostos se acumulam na cera dos ninhos e contaminam os produtos da colônia, como mel, cera e pólen, que não podem ser comercializados, gerando grandes perdas econômicas”, explica Larissa.
Por esta razão, a startup busca desenvolver o primeiro controle biológico do mundo contra esse ácaro, maior praga da apicultura mundial e um dos responsáveis pelo colapso das abelhas. Sua formulação é composta por fungos que são inimigos naturais do parasita. Ao serem aplicados na colônia, as pragas são infectadas pelos fungos e morrem. “A solução possui uma série de vantagens em relação aos químicos, como o fato de não gerar resíduos no mel e outros produtos da colmeia, não causar a morte das abelhas e não gerar pragas resistentes com o uso prolongado”, ressalta Larissa.
Para a bióloga, o acaricida biológico apresenta uma tecnologia que está alinhada ao mercado de alimentos orgânicos, que vem apresentando um crescimento mundial ao longo dos últimos anos. “Há um movimento de busca por segurança alimentar, saúde e bem-estar, que tem impulsionado o mercado de alimentos orgânicos e, consequentemente, o mercado de insumos para produção desses alimentos”, explica. “O desenvolvimento de uma solução que oferece controle eficiente e seguro da praga pode ser um grande aliado na recuperação das colmeias no mundo todo. A preservação das abelhas é um dos temas ecológicos e econômicos mais importantes hoje em dia e nossa solução vem ao encontro das demandas existentes”, conclui Larissa.