A avaliação do valor de uma startup às vezes me parece um exercício “chutômetro” por parte do empreendedor, levado pela paixão à sua empresa e, por isso, dificilmente, citamos aqui esses valores. Se você me diz que a sua empresa vale R$ 500 mil e não tem nenhuma metodologia ou organização por trás, dificilmente esse valor ganha alguma credibilidade.
Mas existe mesmo uma maneira objetiva que pode tornar esses números mais claros? Segundo Rodolfo Zeidler, da consultoria Hirashima, existe sim. Rodrigo faz parte de um time que ajuda fundos de investimento brasileiros a avaliar pequenas e grandes empresas.
Separo para vocês alguns trechos da conversa que tive com Rodolfo:
Existe um momento certo pra fazer o ‘valuation’?
“O Valuation pode ser feito a qualquer momento. Mas existem as situações que são criticas e indispensáveis, como num processo de compra e venda ou um aporte. Fora essas situações, o próprio empreendedor pode querer avaliar quanto vale sua empresa para analisar suas opções. Muitos empreendedores não têm noção de quanto vale sua startup, então, quando você faz a avaliação, eles se surpreendem.”
Qual a metodologia usada?
“A metodologia mais comum é a do fluxo de caixa descontado, que se baseia na expectativa de resultados futuros. A gente faz a avaliação amarrada com dados concretos, dados de mercado, histórias de outras empresas, que passaram por situações semelhantes. Procuramos encontrar empresas que passaram por coisas comparáveis, pra tentar identificar o tipo de negócio e como que ele se desenvolve. Nós também vemos qual o potencial do mercado, o quanto uma empresa consegue chegar dentro do mercado em questão.
É comum fazer pesquisa de dados sócio-demográficos. Às vezes, uma empresa trabalha numa região geográfica específica e depende do nível de renda das pessoas, dos moradores daquela cidade, então acessamos esses dados para estimar o potencial que aquela empresa consegue atingir. Também analisamos as estruturas de custo. Tentamos estimar o quanto aquele serviço vai custar– seja o custo do serviço vendido, seja o custo da operação.”
O “buraco”
“Vemos muitas avaliações com buracos. Em algumas avaliações, a projeção está feita, os custos estão estimados, mas na base do chute e tem coisa que não confere. Às vezes, o investimento necessário para gerar aquela receita fica muito destoado do porte da empresa.
Sabemos que, em alguns casos, não tem como a empresa chegar a certo porte sem um dado investimento. Tentamos amarrar a projeção de forma que fique o mais consistente possível.”
Alinhando expectativas
“No final das contas, a avaliação é mais uma forma de conseguir alinhar as expectativas. Em algum momento, você vai precisar conversar com investidores, para negociar uma participação, um aporte, e é preciso sempre levar pra um lado objetivo. É mais fácil chegar com algo que possa ser discutido, e não arbitrar um valor pra empresa.
É muito mais fácil se chegar a um consenso no final da negociação quando você parte de premissas objetivas, quando você mostra o mercado, a quantidade necessária de investimentos e a razão de estar pedindo tanto por uma parcela de x% da companhia.
O empreendedor pode fazer a Valuation pra ver se vai atrás de investidor ou não. Às vezes, ele está atrás de um negócio muito bom e pode, simplesmente, tocar o negócio com sua receita.”
Esse serviço não fica muito caro para uma startup?
“Depende, entra a avaliação tanto do investidor quanto do empreendedor. São duas pontas de avaliação. Dependendo da startup, acredito que o valor não seja um problema. Existem vários níveis de avaliação e preços. Existem avaliações detalhadas que são mais caras, mas na startup, pela própria natureza da avaliação, pode ser feita uma estimativa de valor sem ser tão custosa.”