Em sua participação no nosso Ping Pong, Bruno Mengatti, cofundador do Jánamesa, diz que sempre gostou de “fazer coisas que as pessoas pudessem usar e que aquilo fizesse sentido pro dia-a-dia delas”.
Ele está à frente do serviço de delivery criado em abril de 2012 com aporte da Mountain do Brasil*. No final do mesmo ano, eles receberam uma nova rodada, agora de R$ 1,5 milhão e, para 2013, a startup prevê receita de R$ 3 milhões.
Com atuação mais forte em São Paulo, onde fica a empresa, o Jánamesa anunciou recentemente uma expansão para o Rio e revelou planos de chegar a Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília ainda este ano.
Leia a entrevista na íntegra.
O que te inspira na vida e no trabalho?
O que me move são coisas que facilitem a vida das pessoas a minha volta (e a minha!). Sempre gostei de fazer coisas que as pessoas pudessem usar e que aquilo fizesse sentido pro dia-a-dia delas, então empreender foi um caminho natural – eu ia fazer coisas que ajudariam a vida das pessoas e elas me pagariam pra isso, pô, dream job!
No dia a dia da startup, o que mais me inspira é o time. Gosto da perspectiva humana de qualquer produto, e também acho que qualquer produto nada mais é se não o reflexo de quem ajuda a construí-lo. Assim, me motiva muito saber que muita gente trabalha comigo pro mesmo propósito – e é um dos assuntos mais importantes pra mim a felicidade do pessoal com o que faz na empresa, e a dedicação de cada um me inspira a trabalhar mais e melhor todos os dias.
Você lembra como foi seu primeiro contato com a tecnologia?
Vale qualquer tecnologia? O mais antigo que me lembro é de usar um toca-vinil de casa. Gosto de música desde sempre, e ficava intrigado com a máquina que ajudava a produzir os sons. Acho que quebrei uns dois toca-vinis de casa…
Meu primeiro contato com um computador eu devia ter uns 6 anos, na casa de primos aqui de São Paulo (na época, eu morava no interior). Fiquei maravilhado, bater no teclado e sair as letras na interface do MS-DOS pra mim era sensacional. Daí, aos 8, ganhei meu primeiro PC, um 586 com entrada só pra disquete, monitor de 14” tubão. Lembro que instalei o Windows 95 nele com nada mais nada menos que 13 disquetes!
Daí pra frente, a relação com tecnologia só estreitou. Fui fazer engenharia elétrica (ênfase em controle e automação) justamente por estar em constante contato com novas frentes tecnológicas, em software e hardware, e que me permitiriam construir coisas legais.
O que te fez começar a empreender? Como você se preparou para ser um empreendedor?
Comecei a empreender por conta de um trabalho final de um curso de negócios que fiz, ainda na faculdade! Isso foi o começo material, minha primeira startup mesmo, mas o que me moveu ao empreendedorismo foi quase a falta de opção – não há muitas coisas que eu faria com a paixão que sinto empreendendo. Como quis respeitar o que me movia, empreender foi o caminho natural.
Me preparei estudando e tentando. Acho essencial se educar nos temas que envolvem empreendedorismo. Finanças, marketing, tecnologia, desenvolvimento, operação, contabilidade, estratégia, negociação… Tudo isso pode ser estudado e aprendido. Mas não basta – você tem que fazer. Empreender é praticamente sinônimo de execução, daí o melhor jeito de se preparar pra empreender, ao meu ver, é empreendendo. E errando. E tentando de novo. Daí o conhecimento, unido da experiência, vira a tal sabedoria, que te ajuda bastante em cada nova tentativa.
Quando você começou esta startup, qual foi sua visão de sucesso?
A visão de sucesso do Jánamesa é uma só: ser a melhor opção pra pedir comida do Brasil. Pra isso, temos que garantir várias coisas: um ótimo serviço associado, produtos afinados com as necessidades dos consumidores, uma marca forte, um time engajado e motivado e de algumas (muitas) madrugadas produtivas!
No Brasil, todo mundo é meio técnico da seleção e quer escalar o time dos sonhos. Como você fez para escalar o seu time?
Escalar o time do Jánamesa é um exercício de honestidade e paixão. Sempre escolho pessoas que têm vontade de construir algo pra além de si mesmas e que querem mudar alguma coisa no mundo – nem que seja a mobília da sala. É essencial gostar de criar e construir pra trabalhar comigo.
Além disso, sempre escolho pessoas que discordam de mim em alguma coisa, enquanto estamos conversando. Faço isso porque acho que a diversidade e opiniões e posições é essencial pra construção de um negócio sólido, e discordâncias são a base de uma boa discussão. Fora isso, a pessoa tem que ser uma samurai ultra-eficiente no que se propõe a fazer e aprender o que não souber muito rápido.
Você gasta quanto do seu tempo com vendas?
Depende da sua definição de vendas – todo e cada segundo do meu trabalho mira vender mais pedidos no Jánamesa, seja trabalhando em novos produtos, novos parcerias, novos canais de marketing, etc. Mas, se falar especificamente de quanto tempo passo na frente que cuida da geração de pedidos pro Jánamesa mais diretamente, onde colocaria marketing, comercial e desenvolvimento de negócio, diria que é 80% do meu tempo.
Prefere bootstrap ou empreender com o dinheiro de sócios?
Acho que essa pergunta não é muito simples de ser respondida. A maior parte das startups que conheço que começaram como bootstrapping eventualmente recorreram a OPM (other people Money) pra crescer e escalar. É bem complicado construir um negócio em escala só com o dinheiro do faturamento dos primeiros meses de uma empresa de boostrap – e muito, muito lento, o que é um risco enorme, já que com tecnologia e internet a velocidade de construção de qualquer negócio aumentou muito.
Tendo isso em vista, acho que depende muito de qual ideia e como o empreendedor deseja executá- la. Algumas ideias são suficientemente encapsuladas pra começarem só com quem teve a ideia e seu time de founders e quando precisarem de dinheiro a mais, o investimento vai cumprir só o papel financeiro.
A maior parte das ideias, no entanto, é melhor executada quando sócios que aportem tanto capital quanto contatos, inteligência estratégica e entradas estratégicas em mercados interesse estão junto. De maneira geral, prefiro empreender com sócios, estejam ele colocando dinheiro ou só trabalhando com o suor e sangue pra fazer a ideia dar certo. Empreender com time é bem melhor que sozinho.
Você venderia sua empresa e se desligaria dela? Como isso aconteceria?
A perspectiva de boa parte dos empreendedores que estão em startups investidas por fundos é de ter uma saída, ou seja, vender a empresa a um valor que dê o retorno esperado a todos os investidores. Com o Jánamesa também temos essa visão, mas quero construir uma empresa rentável e que cresça por si só. É preciso primeiro cumprir a visão de ser o melhor serviço de delivery online do Brasil pra depois pensar em qualquer coisa.
Assim, pra vender o Jánamesa, preciso estar no comando de uma empresa rentável e crescendo, e que entregue o melhor serviço de delivery online do Brasil.
Para onde o mercado brasileiro vai? E as startups vão junto, vão na frente ou vão atrás?
O mercado brasileiro ainda é altamente dependente da indústria, e não acho que isso se esgote no futuro próximo. Num país com tantos recursos naturais a serem aproveitados, é natural que processemos os recursos em produtos. Não obstante, a indústria precisa de inovação constante e cada vez de meios para ser sustentável, por uma questão de sobrevivência: não faz sentido que ela esgote os recursos dos quais ela depende para existir. Logo, uma direção que vejo é de disrupção tecnológica que apoiem os processos industriais.
Além disso, cada dia mais cresce o poder de consumo do brasileiro, o brasileiro está cada ano com mais educação formal acumulada e exigindo cada vez mais conveniência. Assim, serviços e produtos pra satisfazerem a conveniência em diferentes sentidos já surgem e vão surgir com mais força ainda nos próximos anos.
Outra tendência que deve aparecer com mais força nos próximos anos é a de soluções comerciais para mobilidade urbana. Qualquer pessoa morando em São Paulo tem alguma critica ao trânsito da cidade – nem que seja achar feio! Logo, produtos que focarem em soluções para mobilidade urbana vão surgir pela explosão da demanda de melhor mobilidade.
Qualquer movimentação do mercado, à frente, também vai se ligar cada vez mais a conceitos de sustentabilidade e responsabilidade social envolvendo seu produto ou serviço. Cada dia mais vai ser impossível não se preocupar com toda a cadeia de consumo em que se está inserido.
Dito isso, acredito que a economia brasileira vai crescer e se internacionalizar mais em todos os setores, e as startups serão líderes desse movimento. Tendo em vista que startup é uma condição (temporária) pela qual uma empresa passa, dizer que startups vão liderar o movimento da economia e indústria brasileira significa dizer que a economia brasileira vai se “startupar” – pelo simples motivo de que adotar as técnicas usadas numa startup para começar novos negócios, inovar e trazer resultados é a forma mais rápida e barata de construir e potencializar novas propostas de valor.
Você se sente realizado? já conquistou o sucesso? Sua noção de sucesso alterou conforme a trajetória da startup?
Eu me sinto realizado por trabalhar com o que amo. Sempre falo que empreender não é meu trabalho, é simples realizar o que eu sou. Acho que isso ajuda qualquer um a se sentir realizado.
Agora, não acho que tenha conquistado o sucesso e duvido que qualquer dia vá achar isso. Sempre acho que há algo a mais que pode ser feito e melhorado e superado, assim o sucesso se mantém confortavelmente sempre no horizonte – e eu sempre buscando o que está além do horizonte.
Quais startups te deixam mais feliz como cliente?
Sou um feliz cliente da Have a Nice Beer, Rabixo e Oppa! Além disso, acho que elas passaram um pouco do estágio de startup, mas não da essência: sou um eterno fã dos serviços do DropBox e do Evernote!
Se você fosse se tornar sócio investidor de uma startup, qual ou quais seriam elas?
Com certeza Space X, pensando em startups com buzz global! Sou apaixonado por exploração espacial.
Mas, aqui no Brasil, tem vários projetos que acho fantásticos, é difícil escolher de quais me tornaria sócio-investidor. Vou colocar duas aqui, porque algumas eu ainda não posso falar sobre: OndaLocal, que presta serviço de marketing online para negócios locais, e Nail On Wall, que reúne galerias de arte online pra tornar a venda mais acessível.
Quais dicas você daria para quem está pensando em empreender uma startup?
Comece. E comece logo, o quanto antes. Não porque você precisa ter pressa se não alguém vai roubar sua ideia (provavelmente não é sua primeira ideia a que vai dar certo), mas porque o empreendedor só se forma empreendendo. Dado o primeiro passo, o de começar, você vai perceber que dar o segundo é tão difícil quanto o primeiro, mas que é o único jeito de fazer a coisa acontecer. E quando você estiver a frente dos primeiros resultados, cada minuto de esforço vai ter valido a pena.
Seja sempre sincero, consigo mesmo e com os parceiros. Se foque naquilo que você faz bem e faça aquilo que te faz bem. Ou seja, delegue o que você não faz bem e não empreenda algo que não faz sentido pra você na esfera pessoal, se não vai ser impossível construir sucesso – empreender é doação total de si, corpo e alma, não dá pra se doar a uma mentira.
Se acostume a levantar – porque você vai levar vários e vários tombos. Os tombos podem ser desde escolhas erradas no dia a dia, que vai ter consequências com as quais você vai ter que lidar, ou pode ser tão grande quanto fechar uma empresa que não deu certo. O importante é aprender, se levantar e tentar de novo.
Além disso, uso as palavras de Douglas Adams, no livro “O Guia dos Mochileiros das Galáxias”, pra mostrar que aprender a levantar é aprender a cair: “Há toda uma arte, ele diz, ou melhor, um jeitinho para voar. O jeitinho consiste em aprender como se jogar no chão e errar.”
Por fim, empreender está relacionado a realizar sonhos. Se você não enxerga seus sonhos sendo realizados ao empreender, não empreenda. Mas se enxerga, deixe sempre um pé nas nuvens, e o outro no chão. Parou de sonhar, parou de empreender.
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