É, o RFID não deu muito certo para o consumidor final, mas essa tecnologia pode ter no B2B a chance de se tornar “sexy” e atrair investimentos. Quem mostra que isso é possível é o pessoal da RFIdeas, uma startup nascida na Universidade de São Paulo e incubada no Cietec.
O RFID não é exatamente uma tecnologia nova, mas ainda há muita falta de conhecimento. Por meio dela, é possível fazer a identificação automática de itens por radiofrequência –funciona como um código de barras, mas envolve muito mais tecnologia. “Só recentemente, o RFID começou a entrar em voga, porque antes não tinha custo competitivo”, explica Antonio Rossini, que ajudou a criar a RFIdeas com Lucas Almeida e Matheus Costa.
Na prática, o uso do RFID consiste na instalação de etiquetas eletrônicas em itens, e fazer a leitura dessas informações por meio de radiofrequência. Parece chato? Segundo os fundadores da RFIdeas, a consultoria Frost & Sullivan’s estima que essa “chatice” movimente US$ 1 bilhão em todo o mundo até 2017.
Entre as vantagens do uso da tecnologia no mundo corporativo, eles citam a possibilidade de ler vários códigos ao mesmo tempo ao fazer grandes inventários e reduzir os custos com logística.
Ao ouvir falar do sistema, logo pensei em como isso poderia ajudar no varejo: daria pra “ler” todos os itens do carrinho do consumidor sem ter que tirar nada. Mas, segundo os criadores da startup, a tecnologia ainda está longe de chegar ao carrinho do consumidor, pelo preço que a etiqueta tem. “Você pode ganhar agilidade no varejo, mas seria na questão da cadeia logística, já que a etiqueta é cara. Se você colocar uma etiqueta num pacote de Ruffles, deixa o produto muito caro”, explica Antonio. Por isso, os experimentos na área têm sido feitos na linha de produção, para identificar não os pacotes de salgadinho, mas sim monitorar a movimentação das caixas de pacote de salgadinho (os projetos-piloto realizados não são com salgadinhos, usei apenas como exemplo!).
“É uma tecnologia que entrega automação de processos de cadeias logísticas. Essa aplicação só faz sentido se você não encarece o produto que está recendo a etiqueta”, conta. Por isso, o negócio deles está no gerenciamento de produtos de tecnologia da informação e data center em grandes empresas.
“Fazemos o rastreamento do que acontece dentro da empresa. Instalamos uma série de leitores em notebooks ou computadores de datacenter, para saber o que entrou, o que saiu, e quando isso aconteceu”, conta Lucas. “No datacenter, por exemplo, você está sempre movendo os equipamentos, fazendo atualizações, aumentando o parque de equipamentos.” A RFIdeas promete monitorar o que acontece com os produtos e fornecer inteligência para que o dono da empresa conheça o ciclo de vida de seus equipamentos, para manter a operação da melhor maneira.
“A gente consegue reduzir os custos de inventário”, afirma Lucas. “O cliente também consegue planejar melhor suas compras, ele acessa o estoque e faz compras programadas. Antes isso era feito meio no ‘feeling’”, explicam os fundadores.
Segundo eles, antes, um funcionário que ia fazer o inventário de um data center, por exemplo, precisava entrar no local e ficar um tempo lendo as etiquetas e anotando. “É um ambiente insalubre e cada funcionário colocava os dados no sistema de um jeito”, conta Antonio. Os fundadores da RFIdeas calculam que o sistema antigo gerava uma taxa de erro de 20%.
A RFIdeas nasceu dentro do Cietec, a incubadora que fica dentro USP, em 2010. Um ano e meio depois, eles já tinham fechado clientes o suficiente para se manter e se mudaram para um escritório na avenida Paulista, em São Paulo. A companhia foi criada com dinheiro dos sócios, mas recebeu dois aportes não reembolsáveis de um programa de inovação da Fapesp no total de R$ 650 mil.
Outras companhias também enxergam oportunidades no RFID, criando projetos específicos de acordo com os clientes. Exemplos disso são a Acura Technologies, a Taggen e a Identix. Um projeto mais focado, que também nasceu na USP, é o CompartiBike, um sistema que usa o RFID para ajudar no compartilhamento de bicicletas.