A educação a distância está deixando de ser um patinho feio para se tornar sexy aos empreendedores e, nesta onda, vêm os MOOCs (da sigla em inglês, cursos online abertos e massivos). Nos Estados Unidos, o New York Times publicou uma matéria em novembro do ano passado intitulada “O ano do MOOC”, que fala sobre o crescimento rápido do serviço por lá com iniciativas como o Coursera, o Udacity e o edX (todos associados a nomes de grandes universidades).
Por aqui, a tendência também está chegando e tem como um de seus líderes o professor e pesquisador João Mattar. “Não havia experiências com MOOCs em língua portuguesa”, contou João, em uma conversa por e-mail. Segundo ele, o nosso país precisa de modelos alternativos na educação à distância.
Leia a íntegra da entrevista que fiz com o professor:
Você está à frente da chegada ao Brasil dos MOOCs, que estão bombando lá fora. Você acha que esse modelo funcionará bem no Brasil? Por que você acha que esse modelo pode melhorar a educação à distância?
Estou à frente porque não havia experiências com MOOCs em língua portuguesa, então coordenei o MOOC EaD no ano passado, junto com o professor Paulo Simões, e neste ano estou coordenando o MOOC LP (Língua Portuguesa) que está sendo realizado no Redu [acesse a página para matrículas].
É preciso entender que já existem duas gerações de MOOCs: os que começaram com os conectivistas (desde 2009), que procuram realizar experiências pedagógicas com números elevados de alunos, testando novos modelos de interação e colaboração; e os que se desenvolveram no ano passado, em muitos casos com fins lucrativos, cujo interesse principal não é a interação e a colaboração, mas o ensino online em massa. Não há motivos por que os MOOCs não funcionariam no Brasil, por isso mesmo estamos pilotando essas experiências iniciais.
MOOCs são modelos para se fazer EaD em larga escala. Em um país com as dimensões do Brasil, precisamos de modelos alternativos aos de PDF e múltipla escolha para a educação a distância.
O que você está achando do desempenho dos MOOCs lá fora?
Foi uma explosão, principalmente nos Estados Unidos. Mas as empresas ainda estão testando modelos de negócios e a evasão é muito grande –boa parte dos alunos se matricula mas não faz ou finaliza os cursos. Essas questões precisarão ser enfrentadas.
Qualquer assunto pode ser ensinado num MOOC ou existe algum assunto que funcione melhor com o formato?
Como no caso da EaD, em princípio qualquer assunto. É claro que há cursos que exigem momentos presenciais, de contato cara a cara, em laboratórios, de prática, etc. É possível substituir essas situações, ao menos parcialmente, por atividades online, mas um curso online não precisa ser apenas online – ele pode propor, também, esse tipo de atividades fora do ambiente virtual de aprendizagem, com o posterior retorno dos alunos para a plataforma, para avaliar e discutir essas experiências.
Você também está envolvido na área de games. Como você acha que os games podem atuar na motivação da EAD? De que outras maneiras podemos usar os games na EAD?
Tenho um livro publicado pela editora Pearson, “Games em Educação: como os nativos digitais aprendem”, que procura responder a essas perguntas. Games são motivadores por natureza, por suas características lúdicas, interativas e colaborativas. Eles podem ser usados como atividades em cursos, mas há até experiências em que o currículo de uma disciplina é um game, ou seja, nesses casos ele é utilizado como o próprio ambiente de aprendizagem. Mas há desafios, como a formação dos professores para esses objetivos, a vinculação dos games aos objetivos da aprendizagem e ao currículo, infraestrutura e custo de produção, dentre outros.
Foto: alternatePhotography/Flickr (Acesse o original)