Enviamos a alguns empreendedores uma série de questões sobre um modelo de negócio que é bem popular, mas tem poucos sobreviventes no longo prazo: o e-commerce. As margens são baixas e a máquina tem que funcionar como uma orquestra para que tudo corra bem.
Com vocês, as opiniões dos empreendedores (É dono de e-commerce e quer dar sua opinião também? O amanda@localhost está aberto a todos!):
Marcio Waldman, do PetLove
Quais barreiras você enxergou para a abertura de um e-commerce no Brasil?
Em 1999, eu tinha uma clinica veterinária e já conhecia a internet em outros países, e ficava vislumbrando os meus clientes comprando medicamentos e produtos sem ter que ir ate a clinica veterinária. Iniciamos o e-commerce e tivemos inúmeras barreiras como: baixa confiança da população em comprar com cartão de credito online, baixa confiança dos fornecedores de produtos veterinários no canal online, logística dos correios acostumada a pequenos volume como CD, DVDs, etc.
Por que você decidiu superar essas barreiras e abrir um e-commerce mesmo assim?
Porque tinha certeza que era uma questão de maturação de mercado, a população iria ver as vantagens de comprar online. Tinha certeza que iria construir algo benéfico para os meus clientes e para a população em geral.
Depois de aberta a empresa, quais são as principais dificuldades do setor?
Nos primeiros anos do e-commerce tínhamos dificuldades básicas como por exemplo os fornecedores não disponibilizavam imagens dos produtos e descrição dos mesmos. Nós mesmos que tínhamos que scanear folhetos ou fotografar e criar um descritivo para esses produtos. Tínhamos dificuldade em conseguir que os correios enviassem pacotes grandes de ração. Tínhamos dificuldade na logística reversa e no processo de troca.
Como vocês lidam com essas dificuldades?
Fomos tratando dificuldade por dificuldade, de forma individual e focada na resolução.
Vocês têm alguma dica para quem pretende tocar um e-commerce no país?
A minha dica é muito trabalho, determinação e foco na resolução de entraves.
Livia Abrarpour, cofundadora da Juv Acessórios
Quais barreiras você enxergou para a abertura de um e-commerce no Brasil?
Além de ter oportunidades no Brasil, é um pais com muitos desafios para qualquer startup. Existe a burocracia com o banco central quando a empresa vai receber investimento ou aporte, a demora de abrir uma conta em qualquer banco e receber um limite de crédito.
Por que você decidiu superar essas barreiras e abrir um e-commerce mesmo assim?
O mercado brasileiro ainda tem espaço para melhorar em muitos setores, bem como expandir e inovar em outros. Consumidores brasileiros estão mudando seus hábitos de consumo e a internet ainda é um mundo de oportunidades para explorar e crescer.
Depois de aberta a empresa, quais são as principais dificuldades do setor?
Impostos na importação. Dependo de qual é a mercadoria, sua empresa pode pagar ate 98% do valor do produto entrando no país! Não é à toa, que tudo é muito caro aqui em comparação com os Estados Unidos. Principalmente no setor de moda. Custos altos de logística com certeza é outra barreira e as taxas de tributação que variam dependendo da cidade.
Como vocês lidam com essas dificuldades?
Em termos de produto, fomos atrás de fornecedores que acreditavam no potencial da Juv e que já trabalhavam com grandes marcas no mercado. Ou seja, tinham qualidade e capacidade de entregar. Apesar de não pedir grandes quantidades no início, gradualmente começamos a mostrar que tínhamos potencial e que se começássemos a fazer uma parceria agora com eles, eles iriam lucrar no futuro com a gente. Com isso, conseguimos negociar a exclusividade de produtos e fomos capazes de produzir nossas peças sem ter custos elevados.
Vocês têm alguma dica para quem pretende tocar um e-commerce no país?
Manter o foco, ter paciência, ler todos os contratos e as linhas entre eles. Acredite que onde há uma vontade há um caminho!
Mário Fernandes, CEO e Cofundador da Mobly
Quais barreiras a Mobly enxergou para a abertura de um e-commerce no Brasil?
Observamos basicamente três desafios: conquistar a confiança do consumidor em comprar algo sem experimentar e ver, conquistar a confiança do consumidor em fazer o pagamento online e observar a qualidade dos provedores de logística para garantir a entrega do produto no prazo.
Por que a Mobly decidiu superar essas barreiras e abrir um e-commerce mesmo assim?
Entendemos que havia muito espaço para abrir algo no mercado de móveis e artigos para casa. Há um ano e meio, quando surgiu a Mobly, não existia nenhuma loja online específica de móveis e artigos para casa no Brasil, era um mercado enorme e sem competição naquele momento. O Brasil viveu um boom de real estate nos últimos anos e este movimento costuma ser seguido por maiores vendas de móveis. O consumo do brasileiro tem aumentado significativamente, com a migração de uma fatia grande da população da classe D para C e C para B.
Embora a utilização de internet no Brasil ainda seja muito baixa, comparada com outros países desenvolvidos, mas tem crescido rapidamente e há uma forte tendência de aumento da adoção do e-commerce ao longo do tempo. O consumidor está cada vez mais acostumado a comprar pela internet e este hábito tem a tendência de continuar crescendo vigorosamente.
Depois de aberta a empresa, quais são as principais dificuldades do setor?
Destaco três: atrair gente boa para trabalhar em uma startup, os desafios da logística e os desafios de TI para montar um site fácil de navegar e comprar.
Como a Mobly lida com essas dificuldades?
Primeiro, quanto à confiança de comprar algo sem experimentar e ver, trabalhamos desde o início fortemente para que o site permita ao cliente a melhor experiência possível. Para isso, optamos por ter um site proprietário e equipe própria de TI, de forma que temos flexibilidade para definir nossas prioridades e funcionalidades que facilitem a navegação.
Quanto à logística, também optamos por não terceirizar a operação e desenvolver nossos próprios sistemas, para ter mais controle dos processos e conseguir responder mais rapidamente aos clientes. Em relação às pessoas, o Marcelo, Victor e eu (os três sócios), desde o começo sempre nos dedicamos muito em todos os processos que dizem respeito a gente. Gente boa atrai gente boa e, por isso, o fato de termos trazido pessoas com altíssimo potencial e altamente comprometidas bem no começo permitiu a Mobly dar o segundo, terceiro e demais passos.
A Mobly tem alguma dica para quem pretende tocar um e-commerce no país?
O maior investimento é cercar-se de gente boa desde o dia zero. É fundamental pensar que a internet é o canal de vendas da loja, mas muitos dos aspectos são idênticos a qualquer outra loja física. Por isso, nunca perder o foco no cliente, no produto e na entrega.
Alykhan Karim, CEO do Sonoma
Quais barreiras você enxergou para a abertura de um e-commerce no Brasil?
As barreiras são muitas. Sendo um estrangeiro, o processo fica complexo. Tem que achar um sócio brasileiro para estar no contrato social da empresa e confia-lo como administrador. Os custos podem custar entre entre R$ 4 mil e R$ 10 mil, dependendo na contador, despachante e escritório de advocacia usado. O Sonoma demorou um mês para receber autorização de funcionamento, mas para outras empresas de e-commerce (inclusive alguns dos maiores sucessos dos últimos 18 meses) o processo de abertura demorou até 5 meses.
Uma outra questão é a residência permanente no país, o qual só pode ser conseguido (por estrangeiros) com um investimento de R$150mil reais que vem de fora pra dentro. O custo da obtenção deste visto é de R$ 4mil e R$10 mil e também demora, em média, três meses, requerendo uma volta ao país de origem para obtê-lo. Além disso, por ser um mercado extremamente competitivo, a contratação de pessoal com experiência é um processo demorado.
Por que você decidiu superar essas barreiras e abrir um e-commerce mesmo assim?
Por 3 motivos: crescimento do setor, falta de sites/ofertas interessantes em vários verticais que já deram certo fora, crescimento no mercado particular da nossa empresa (vinho).
Depois de aberta a empresa, quais são as principais dificuldades do setor?
O imposto é a principal dificuldade. É uma barreira para oferecer preços competitivos, ajudar com o custo de frete, oferecer embalagens seguros e tomar conta de overestoque eventual gerado por erros no transporte ao mesmo tempo de pagar impostos altos interestaduais – dificulta muito também o processo de abastecimento de produtos.
Vocês têm alguma dica para quem pretende tocar um e-commerce no país?
Sim. É preciso pensar com cuidado e tentar criar uma marca. Os maiores verticais já tem “superstores” e já não da mais para concorrer em relação a preço com eles. Se você consegue fazer uma coisa diferenciada e atrair pessoas a um estilo ou uma coisa própria que não pode ser copiado, diferenciado, vai ter sucesso.
Foto: Fosforix/Flickr