Artigo escrito por Felipe Matos para publicação aqui no iG Startups by Startupi.
Quando o Diego me convidou para falar da experiência de 1 ano da Startup Farm aqui no Startupi, fiquei um bom tempo pensando em qual seria a melhor maneira de contar esta história. Foram tantos os empreendedores, histórias, pivots, mas principalmente, muitos aprendizados.
Pensei que o melhor então seria compartilhar um pouco destes aprendizados – e são muitos!
Desde o final de agosto de 2011, quando fiz a primeira edição do programa de aceleração em São Paulo, até o começo de setembro de 2012 quando terminou a última edição, no Rio de Janeiro, completamos 1 ano com exatas 100 empresas.
O mais bacana é que pude assistir por sete vezes transformações incríveis acontecerem em 4 semanas diante dos meus olhos, não só das empresas, mas principalmente dos empreendedores. Os resultados falaram por si. Quero compartilhar alguns números com vocês:
- 100 empresas aceleradas;
- 296 startup farmers, nossos empreendedores!;
- 150 mentores;
- 1500 horas de mentoria;
- R$ 18 milhões em investimentos levantados pelas empresas (e contando!);
- 2 aquisições;
- 23 farmers se demitiram dos seus antigos empregos durante a aceleração.
Foi difícil sintetizar tanto aprendizado em poucos pontos (é muita coisa, dava para escrever um livro!), mas vamos lá:
1. Sua solução não é meu problema
É muito comum os empreendedores chegarem no programa de aceleração viciados com sua solução. Muitas vezes, já gastaram um tempo desenvolvendo o produto e se apegam a ele. O ponto é que quase sempre a solução não está vinculada a um problema real de mercado. É comum ouvir que “o problema é a falta da minha solução”. Por isso, antes de focar na solução, procure entender e resolver um problema real de alguém, que de preferência esteja em um segmento relevante economicamente e crescente.
2. O segredo está nas pessoas
Não é a ideia espetacular, o modelo de negócios revolucionário, nem mesmo os parceiros estratégicos, canais de distribuição ou o dinheiro do investidor que farão a diferença. São as pessoas! Parece meio óbvio, mas todo o sucesso depende do time da startup e das pessoas das quais ela se cerca, dos fornecedores aos mentores e advisors. Vi muitos projetos maravilhosos caírem e muitos outros que nem pareciam tão bons se transformarem nas mãos de um time motivado e bem preparado.
3. A melhor característica do empreendedor: saber ouvir
Muita gente pode dizer que é a visão, paixão, persistência. Para mim, a maior característica de um bom empreendedor é saber ouvir. Saber ouvir o mercado, os clientes, seus sócios, parceiros e colaboradores. E saber ouvir o feedback de mentores e conselheiros. É muito comum os empreendedores se colocarem numa postura defensiva ao ouvir um feedback, rebatendo cada comentário ou crítica e deixando de refletir sobre algum ponto que talvez faça sentido. Não estou dizendo que o empreendedor deve seguir cegamente aquilo que um mentor, investidor ou mesmo o que o cliente diz. Mas que ele deve estar sempre aberto a ouvir, refletir, aproveitar o que faz sentido, ignorar o que não faz e responder rapidamente. Como mentor e como investidor, sinto que os melhores empreendedores são aqueles que após uma seção de mentoria, voltam algum tempo depois com comentários e respostas sobre aquilo que havíamos conversado.
4. Não tenha medo de pivotar – mas tenha um centro!
Pivotar, aportuguesado do inglês, pivot, nada mais é que mudar algum elemento do seu modelo de negócio (o segmento de clientes, o modelo de cobrança ou algum elemento da proposta de valor, por exemplo). Brincadeiras à parte, vejo empreendedores em três grupos: os que tem medo de pivotar, os que sabem como fazer isso e os que já pivotam rápido logo na primeira dificuldade. Você não quer estar em nenhum dos extremos. É comum ficar apegado ao negócio e resistir a fazer mudanças que estão sendo demandadas pelas validações de mercado. Quanto mais rápido e sem dor estas adaptações forem feitas, melhor. No outro extremo, vi empreendedores seguindo “ao pé da letra” a cartilha lean startup e a cada dificuldade, entendiam que “haviam invalidado suas hipóteses” e partiam logo para mudar o modelo.
Às vezes mudar até todo o negócio. Largar um negócio de pagamento digital para uma rede social de esportes não é pivotar, mas fechar um negócio e abrir outro! O pivô, como o nome sugere, tem que partir de um eixo, de um centro. No Startup Farm a gente usa a “pergunta pivô”, que é a pergunta feita pelo mundo que o seu projeto responde. “Como fidelizar clientes em pequenos estabelecimentos off-line?”, “Como medir o retorno das campanhas de marketing?”. “Quem viu meu vídeo?” são algumas das perguntas que já apareceram por lá. Se você traça um modelo de negócios para responder esta pergunta e ele não dá certo, pivote! Mas volte para a pergunta pivô e busque outra forma de respondê-la. O modelo pode mudar, mas a pergunta essencial é a mesma. Se ela também muda, não se trata mais de um pivot, mas de mudança de negócio.

Felipe ajudou a fundar também o Instituto Inovação e a Inseed (envolvida na gestão do Criatec)
5. Focar no negócio é o melhor jeito de atrair um investidor
Para mim, uma das esquizofrenias do hype das startups é ver empreendedores cujo objetivo número um é buscar investimento pra sua startup. Parece até que a missão da startup é ser investida e não oferecer um produto ou serviço que resolva um problema do mundo. O melhor investidor de uma startup para mim sempre é o cliente e, é claro, um aporte de investimento financeiro pode ser muito bem-vindo para permitir escalar o produto, crescer mais rápido, finalizar algum aspecto do desenvolvimento, expandir mercados… As startups que eu vi serem mais bem-sucedidas na captação de investimentos foram justamente aquelas cuja prioridade era fazer um bom produto, bem adaptado e uma demanda de mercado. Afinal, é isso que o investidor quer também. Quanto mais foco no seu negócio, mais próximo você estará de um investidor.
6. Colaboração é a chave de um ecossistema (e um negócio) de sucesso
Sou testemunha de como a colaboração é fundamental e transformadora de um ecossistema, de um grupo de empresas e de um negócio. Colaboração entre mentores, grandes empresas, startups de sucesso, consultorias de marketing, escritórios de direito e entre os próprios empreendedores. Foram mais de 150 mentores, de 49 empresas, incluindo diversos fundos de investimento e associações de classe trabalhando juntas para ajudar a formar novos empreendedores. E não falo só dessa colaboração entre mentores e entidades.
Ver em cada turma grupos de empreendedores trabalhando juntos, trocando experiências e ajudando uns aos outros foi emocionante e gratificante. É incrível como o simples agrupamento de pessoas numa mesma condição e senso de propósito, vivendo os mesmos problemas, é agregadora. Fiz amigos para a vida toda e sei que muitos fizeram também. Estou convencido que através de colaboração é possível construir startups muito melhores. E todo mundo ganha com isso.
7. O sucesso leva tempo
Quanto me perguntam “quais empresas do Startup Farm fizeram sucesso e tiveram êxito”, esse aprendizado vem mais forte. Muitas estão trilhando seu caminho muito bem, mas é cedo ainda para apontar sucessos definitivos. Mesmo se olharmos para os investimento e aquisições – que são apenas o começo da história para a empresa, veremos que todos os 12 casos aconteceram nas 2 primeiras edições (exceçãoo para o Qual Canal, da quarta edição, que recentemente recebeu aportes da 500 Startups).
A experiência do Startup Farm mostra que leva-se em média 6 meses (pouco mais de 1 ano em alguns casos) até que venha o esperado investimento. E como já disse, ele é só o começo da história. A startup deverá se provar, escalar, conquistar clientes, crescer. Provavelmente vai falhar em algumas direções, rever o caminho, errar, aprender, fazer de novo e, de tudo der certo, serão mais acertos que erros até um crescimento relevante que possa ser chamado de “sucesso”. O tal sucesso leva tempo. Desconfie das histórias de toques de midas, êxito repentino. Por trás de toda startup bem-sucedida, tem muito trabalho.
Espero que outras edições dos programas de aceleração Startup Farm aconteçam e que outras centenas de empresas venham, gerando mais aprendizados para compartilhar por aqui.
Cheers! =)
Felipe Matos
StartupFarm
Veja ainda um vídeo em que Felipe Matos fala sobre o contexto brasileiro de startups.
15 comments
O que EU aprendi no Startup Farm:
– Time é tudo.
– Ouça os mentores, ouça os feedbacks da galera… Mas seja bem cuidadoso ao aplicar os conselhos. Só você conhece bem seu negócio a ponto de saber o que é bullshit e o que realmente se aplica.
– Métricas são importantes mas é muito fácil se enganar com uma métrica que não significa nada. <a href="http://(http://techcrunch.com/2011/07/30/vanity-metrics/)” target=”_blank”>(http://techcrunch.com/2011/07/30/vanity-metrics/)
– Pitch é treino. Se eu ensaiava muito o pitch ficava foda. Se eu não treinava o pitch ficava lixo.
– Comunidade é uma parada muito louca. Eu me sentia um pouquinho parte do projeto de cada time. Trabalhar com a galera foi legal demais.
Eu acompanho o startup farm a algum tempo sempre vi com bons olhos , tanto que não vejo a hora de uma edição acontecer em Curitiba e ter a minha Startup aprovada . Depois de ouvir esta síntese do Felipe eu realmente entendo porque funciona tão bem , declarações sensatas , sem afetações e com maturidade para saber que cada Startup é um negócio e como negócio tem que ter seus fundamentos solidos.
Parabéns e espero poder estar com vocês em breve.
Eu acompanho o startup farm a algum tempo sempre vi com bons olhos , tanto que não vejo a hora de uma edição acontecer em Curitiba e ter a minha Startup aprovada . Depois de ouvir esta síntese do Felipe eu realmente entendo porque funciona tão bem , declarações sensatas , sem afetações e com maturidade para saber que cada Startup é um negócio e como negócio tem que ter seus fundamentos solidos.
Excelente post e pedindo licença ao Roberto, gostaria de dizer o que aprendi no Startup Farm RJ.
Como o próprio Felipe falou, saber ouvir é essencial, eu cheguei completamente aberto a escutar tudo e todos (mesmo sendo completamente apegado a minha startup), sabia que seria um exercício difícil porém essencial.
Saber ouvir os mentores obviamente é excelente, mas fica um dica: na primeira semana faça marque todas as mentorias depois ouça os feedbacks de mentores que façam sentido. Colher feedback é importante mas também é importante saber o que é importante para o seu negócio, senão isso pode deixar o empreendedor meio "barata tonta"
Lean Startup, pode ser clichê nos tempos de hoje, mas funciona. Build, Measure e Learn sempre a todo momento. Medir resultados é uma tarefa que faz uma diferença absurda pro negócio.
E como o Roberto falou, pitch é treino e mais do que isso, pitch é saber o seu negócio. Decore o que o seu negócio faz, entenda do seu negócio, tenha tudo na ponta da lingua, seja seguro. Isso faz com que você tenha o seu pitch sempre afinado.
Fiquei muito feliz de participar do Farm e fazer parte desta história recente é um orgulho.
Go Farmers :P
Seria interessante voce postar quais as empresas receberam investimentos
Como a mentoria eh paga seria ter interessantes o povo ter em maos exemplos solidos
Great post Felipe!
Parabéns Felipe! Excelente síntese de um trabalho e tanto. Sua experiência sintetizada nestas dicas podem ajudar muito os aspirantes que "ouvirem", refletirem e considerarem. Fico feliz em ter você também no time de autores do livro Emprendedorismo Inovador – Como Criar Startups de Tecnologia no Brasil. Um grande abraço, @neigrando
Obrigado pelos comentários, pessoa. Ze_Carioca, para citar alguns casos de investimentos e aquisições, temos, dentre outros:
O Entregador: http://startups.ig.com.br/2012/peixe-urbano-adqui…
Wabbers / Mobwise: http://startups.ig.com.br/2012/depois-de-o-entreg…
Listus: http://startups.ig.com.br/2012/startup-carioca-li…
Easy Taxi: http://startups.ig.com.br/2012/easy-taxi-recebe-a…
Qual Canal <a href="http://:http://startups.ig.com.br/2012/qualcanal-tv-ferramenta-que-monitora-repercussao-da-tv-no-twitter-inicia-incubacao-em-mountain-view/” target=”_blank”>:http://startups.ig.com.br/2012/qualcanal-tv-ferramenta-que-monitora-repercussao-da-tv-no-twitter-inicia-incubacao-em-mountain-view/
Sobre mentoria paga, eu diria que em outros programas de aceleração, você paga muito mais caro: com equity da sua startup, pense nisso.
Muito bacana este seu post Felipe. São coisas aparentemente óbvias, mas a gente nem sempre se dá conta.
Felipe.
Excelente post! Sintetizou tudo que os empreendedores precisam saber em especial o saber ouvir e nem precisa ser tanto dos mentores/investidores, mas dos seus clientes e apenas acrescentaria que o ouvir não só as palavras, mas principalmente o comportamento e as ações deles.
Abraços e que o continue contando com todo nosso apoio para o sucesso do StartupFarm.
Cassio
Parabéns pelo post, muito bom mesmo.
Felipe, você sabe uma média de equity que as aceleradoras pedem no Brasil?
Obrigado!
Dicas muito boas. Valeu Felipe.
Obrigado Professor Felipe! Sempre mto bom ouvi-lo! Excelente post!
O time do Qual Canal é mto grato ao Farm e a vc! Parabens pela iniciativa, afinal 100 startups em 1 ano, quase 300 pessoas mudando sua forma de pensar e viver do ponto de vista empreendedor é mto digno de reconhecimento!
Estamos sempre a disposiçao do farm! Conte conosco!
R
De 5% a 20%, as que eu conheço, Bruno.
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