Em junho de 1998, os colegas Romero Rodrigues, Rodrigo Borges, Ronaldo Takahashi e Mario Letelier tiveram um sonho: criar uma marca que fizesse parte da vida das pessoas. Noite após noite, os quatro estudantes dormiram no escritório trabalhando pesado no que chamaram de Buscapé. Mas não estava dando certo. Faliram. Várias vezes. Mesmo assim, continuaram desfazendo pesadelos e refazendo o sonho.
Conquistaram investimento nacional e internacional (coisa rara, na época, e ainda hoje difícil), compraram concorrentes, viraram um grupo (BuscaPé.com Inc.) e conquistaram a liderança em vários países (Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, México, Peru e Venezuela). Semana passada, após 10 anos de operações, venderam 91% do Buscapé para a multinacional de mídia Naspers Limited por US$ 342 milhões.
Como isso foi possível? Quer saber como conseguir isso também? E o que vai acontecer com o sonho? Entrevistei Romero um dia depois da venda do Buscapé e um dia antes de ele completar 32 anos de idade para conhecer as perspectivas. Para vocês, segue um bate-papo com o primeiro jovem “internerd” brasileiro a ser CEO de uma startup realmente meteórica.
Em busca da receita perfeita: a que se dedicar, onde investir
“Áreas de tecnologia são sempre muito interessantes. A Internet tem um baixo custo de distribuição, volume e escala – são os ingredientes certos! Acho fantástico a forma como o Twitter se tornou popular – mas estou mais facebookando do que tuitando. Seja em biotecnologia ou TI, ainda tem muita coisa para se fazer”.
Condições de temperatura e pressão: foco no recheio – a cobertura vem no final
“O sonho não era ganhar dinheiro, mas sim criar algo grande, uma marca que fizesse parte da vida das pessoas. Tínhamos ganho de escala, inovação, mas não existia naquela época o acesso ao capital. A primeira notícia de investimento na Internet brasileira foi entre setembro e outubro de 1999. Começamos desde o primeiro segundo com plano de negócio, que nos deu pé no chão e preveniu da loucura”.
Modo de preparo: dicas de gestão para dar água na boca e sabor de quero mais
“É muito mais paixão e tesão do que qualquer outra coisa que vai fazer a pessoa acordar cedo ou virar a madrugada só dinheiro não mantém o ritmo. Há uma série de dicas de gestão que eu poderia dar, mas no fim do dia o que acaba fazendo o DNA do empreendedor é uma mistura de garra com teimosia. Não aceitar ‘não’ como resposta é fundamental. Tem que ter estômago para batalhar – se não tiver isso, não aguenta”.
Corrigindo o tempero: nem tudo são sabores
“São momentos diferentes com jornadas diferentes. As horas trabalhadas lá atrás eram realmente insanas, não se compara. Botamos camas no escritório. Hoje é puxado mas a qualidade compensa. Duvido que algum sócio trabalhe menos de 12h por dia.
É difícil dizer algum erro grande. Houve vários, mas não olhamos muito para o retrovisor – para não bater o carro. Talvez tivéssemos feito diferente alguma parceria. Houve ao menos trás ou quatro vezes em que tivemos certeza de que a empresa tinha quebrado, mas estamos aí”!
Botando a cereja no bolo: tudo que é bom tem uma parte que pode melhorar
“Este negócio não era previsto, tenho que ser sincero. Aliás, a gente não imaginava uma série de coisas que encontramos pela frente. Pesamos alguns fatores para aceitar a proposta: continuarmos sócios do sonho que a gente suou para construir e gestão distante (também chamada hands-off) por parte deles, para continuarmos tendo liberdade de executar e propor.
Não nos tornamos um braço de uma grande empresa, continua tudo igual. A tecnologia vai continuar brasileira. Vamos continuar centralizando todas as operações na Vila Olímpia, em São Paulo, e manter as unidades de Pesquisa e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, Marília e Curitiba.
O negócio é muito bom para o Grupo Buscapé porque catalisa o sonho para níveis maiores. O Grupo Naspers não é apenas um investidor, tem toda uma história e quer continuar com a gente por muito tempo. Eles tem muito conhecimento de Internet, sites que são líderes na Rússia, na China, na Índia e no leste europeu. Quero aprender com eles e desenvolvermos o Buscapé ainda mais”.
Sobremesa