A conferência Brasil Canadá 3.0 rendeu muito para o empresário Erisvaldo Júnior: a Yupi Studios, desenvolvedora de games que ele comanda, ganhou a categoria de melhor startup no evento, em dezembro do ano passado. O prêmio foi conhecer algumas startups lá no país do Hemisfério Norte, em uma série de treinamentos promovidos pela Communitech, ONG que apoia empresas de tecnologia. Fez a visita recentemente e nos contou em detalhes para a gente como a experiência se desenrolou no dia a dia.
A empresa é sediada em João Pessoa, na Paraíba, onde, segundo ele, a cena de startups não para de crescer – eles mesmos já fornecem serviços para o Brasil, Estados Unidos e estão prospectando clientes no Canadá. Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista.
Do contraste entre as startups brasileiras e as canadenses
Sem sombra de dúvidas, a maturidade e a qualidade do ecossistema são a grande diferença, o que acaba refletindo diretamente na qualidade dos empreendedores e na ambição das equipes que compõem as startups canadenses, que visualizam casos de sucesso pessoalmente e na própria vizinhança. A região de Kitchener-Waterloo conta com tudo que um bom ecossistema de startups precisa: uma incubadora/aceleradora de peso internacional, a Communitech, ligada diretamente à Universidade de Waterloo e grandes empresas que estão a passos de distância como EA, Google, Blackberry e OpenText; mentores, investidores e fundos de investimento com experiência comprovada e ampla participação no ecossistema; um programa de aceleração chamado Hyperdrive que contempla não só o investimento inicial de US$ 40 mil mas também novos investimentos semente até a startup completar dois anos de vida, que as tornam maduras e preparadas para escalar e receber investimentos de Série A, B, etc.
Anteriormente tive a oportunidade de ser incubado pelo Start-Up Chile com a Yupi Studios. Passei seis meses em Santiago, Chile, e também tive a oportunidade de apresentar a nossa startup em San Francisco no DemoDay com as finalistas do Start-Up Chile. Dessa forma, não senti o contraste tão fortemente, principalmente em relação a San Francisco, mas ainda assim foi impressionante ver tantas startups bem-sucedidas, seja por bootstrap ou funding, e a facilidade de acesso que tive a muitas grandes empresas da região e de Toronto. Acho que temos muito a evoluir.
O cenário de startups na Paraíba
O cenário de startups na Paraíba está crescendo rapidamente nos últimos anos. Há uma incubadora chamada Parque Tecnológico da Paraíba (PaqtcPB) em Campina Grande que opera com startups eficientemente há anos. Em João Pessoa, foi inaugurado recentemente o primeiro espaço de co-working do estado, o Tot Coworking. O ecossistema está crescendo e já existem pelo menos três grupos de destaque: StartPB, GDA-PB (Game Developers Association – PB com startups de games) e, saindo do forno, Cuscuz Coffee formada pelos empreendedores locais e com apoio do Leo Uchoa. Há, ainda, o apoio do Sebrae-PB para essas iniciativas e para as startups locais, além da realização de meetups e reuniões periódicas entre os empreendedores. Falta ainda uma incubadora na capital e uma aceleradora de renome no estado, além, é claro, de investidores, que devem aparecer em um segundo momento. Mas empreendedorismo e startups já são termos comuns que permeiam os principais eventos de TI e as palestras nas faculdades e universidades do Estado. É um momento ímpar.
Startups no Nordeste
Segundo a ABS, a Paraíba é a quarta do Nordeste em quantidade de startups. O número certamente é maior, pois várias não estão cadastradas. Todavia, há cidades mais evoluídas nesse sentido. Embora eu não conheça em detalhes o ecossistema de cada uma delas, posso citar Recife, Natal, Fortaleza e Maceió como cidades com ecossistemas bem desenvolvidos. Pode-se dizer que a capital da Paraíba (João Pessoa) despertou tardiamente para esse movimento, mas com força, e hoje está tentando se equiparar às demais.
A Yupi Studios
Desenvolvemos games e apps para smartphones, tablets, smart TVs e redes Sociais. A Yupi Studios trabalha em duas vertentes, investindo 50% dos recursos (tempo) em cada uma. Os produtos são a primeira: temos um game no mercado focado em crianças e família, em parceria com a Tapjoy – líder mundial em marketing e monetização móvel – que nos forneceu funding e créditos de marketing para produzirmos o jogo. O game é chamado Yupies, já disponível worldwide para iOS e Android (App Store, Amazon App Store e, em algumas semanas, Google Play). Estamos trabalhando em ports para BlackBerry (fechamos parceria com a Blackberry) e Windows 8 (parceria com a Intel), logo também estará disponível na BlackBerry World e Windows Store até o fim do ano. Além disso, estamos atualizando o game constantemente, de acordo com as métricas e feedback que colhemos dos usuários. Por fim, o jogo estará disponível em português (seguido de uma divulgação maior no Brasil) ainda este mês. Felizmente, mesmo sem gastar 90% dos nossos créditos de marketing e antes de lançarmos na Google Play, já temos quase 100 mil downloads. A expectativa é de alcançar meio milhão de downloads até o fim do ano.
Mas o mais interessante sobre o Yupies não é a quantidade de usuários, mas que fomos capazes de aprender muito sobre User Analytics com ajuda da Tapjoy e também a entender melhor o nicho de mercado infantil. Queremos usar o Yupies como ponto de partida para o projeto que estamos desenvolvendo, a Yupi Play, que pretende ser a primeira rede de entretenimento educativo do Brasil que conecta pais, crianças e professores. O projeto já está em andamento e estamos fechando parcerias com provedores de conteúdo do mercado infantil que possuem personagens que as crianças adoram para que a plataforma comece com o pé direito. É o nosso grande foco para o segundo semestre e, possivelmente, para os próximos anos.
A segunda vertente é enquanto parceiros de desenvolvimento móvel. Além da nossa linha de produtos, atuamos como Mobile Development Partner de algumas empresas nos EUA e no Brasil, como HubSpot por exemplo. Fornecemos gerência de projeto, desenvolvimento, arte e consultoria em app analytics e monetização e procuramos fechar contratos de longo prazo. Preferimos ter dois ou três parceiros fixos a fazer uma dezena de apps para inúmeros clientes distintos, pois não temos a intenção de nos tornar uma app factory.
História dos fundadores
A Yupi foi fundada por mim e por Marcus [Oliveira]. Tenho duas graduações em tecnologia (Bacharel em Ciência da Computação pela UFPB e Tecnólogo em Sistemas para Internet pelo IFPB), mais de cinco anos de experiência em desenvolvimento mobile e também professor de cursos de pós-graduação em desenvolvimento mobile. Já Marcus é um designer profissional há mais de 10 anos e um talentoso artista, com trabalhos para HP, Shell e outras grandes empresas. Atualmente, atuo como CEO/CTO e Marcus como o CCO (Chefe de Criação/Arte) da Yupi.
Funcionários
Além dos sócios, a equipe da Yupi conta com três funcionários em tempo integral, já em escritório próprio, além dos prestadores de serviço. Procuramos deixar a nossa folha a mais enxuta possível para podermos focar no desenvolvimento dos produtos e não ficarmos reféns de serviços de desenvolvimento de apps ou investimento externo.
Ideia e foco
A Yupi Studios é uma ideia que vem ainda da universidade, quando eu trabalhava em uma empresa privada da mesma área aqui em João Pessoa como desenvolvedor e Marcus como artista, por volta de 2009. Começou como hobby home-office e abrimos o CNPJ em 31 de maio de 2011.
Diferencial de mercado
A Yupi Play – rede de games e apps para crianças em desenvolvimento pela Yupi Studios – resolve o problema das iniciativas isoladas na área de jogos educacionais para crianças de 2 a 12 anos de idade, tanto em casa quanto na escola. O pai tem uma plataforma segura e um selo de qualidade para garantir que o seu filho está se divertindo e aprendendo com o jogo em questão, podendo monitorar o seu aprendizado e amizades feitas na rede de perto através do seu dashboard. Além disso, contam com um sistema de recomendação de novos games de acordo com o perfil da criança e seu grau de aprendizado nos mais diversos conceitos. Concomitantemente, os professores estão conectados na mesma rede e podem acompanhar os alunos individual e coletivamente, além dos diretores das escolas terem o comparativo entre as turmas e até mesmo com as outras escolas. Também há um SDK para terceiros desenvolverem seus games compatíveis com a Yupi Play, além de consultoria na produção e métricas do jogo. No fim, temos uma comunidade formada por todos os responsáveis pela educação da criança, digital e compatível com as principais plataformas do mercado: iOS, Android e Windows.
Vantagens do produto oferecido
A principal vantagem para os pais de comprarem os games da Yupi Play ao invés do Angry Birds ou outro jogo de puro entretenimento é o embasamento educacional implícito no jogo e o dashboard que ele tem acesso para acompanhar de perto a criança nas mais diversas habilidades cognitivas. Trabalhamos em um sistema similar ao de Achievements para prover uma forma rápida e eficaz do jogo medir o progresso da criança em cada uma das áreas do conhecimento. Além disso, enfatizamos que a Yupi Play recomenda outros games/apps para a criança de acordo com seu perfil e grau de conhecimento, forma uma rede segura com amigos da mesma faixa etária sob supervisão dos pais (é necessária a pré-aprovação e pode ser feito o monitoramento das interações) e permite que o tablet seja fornecido para a criança livremente para que ela desfrute de um ambiente seguro e saudável, com conteúdo apropriado para a sua idade.
Investimentos
Em pouco mais de dois anos, A Yupi foi incubada pelo Start-Up Chile, recebendo US$ 40 mil de investimento, além de ter fechado parceria e recebido investimento da Tapjoy para a produção de games para iOS e Android.
Recebemos alguns prêmios menores, como o patrocínio da OpenText para a semana de negócios no Canadá. O melhor é que não houve distribuição de porcentagem da empresa em nenhum dos casos e a única que detém porcentagem de algum projeto da Yupi Studios (Yupies) é a Tapjoy. Nós nos consideramos afortunados por ter tido essas oportunidades, principalmente por não estarmos situados geograficamente em um hub de tecnologia.