Por Bruna Galati
O início da trajetória de Wlado Teixeira foi desafiador. Nasceu em Jaú, interior de São Paulo, próximo dos anos 50, quando o parto ainda era feito em casa e isso foi uma complicação, uma vez que seu cordão umbilical estava enrolado no pescoço – mas o pequeno lutou pela vida. Oito dias depois, descobriram que ele estava com coqueluche, uma infecção respiratória que ataca os pulmões. “Eu bati na trave duas vezes e voltei”, conta.
Teixeira se lembra de crescer em um lar unido e grande, com três irmãos, e uma família com descendência italiana, portuguesa e francesa. Seu avô veio de Portugal para o Brasil e abriu uma confeitaria. “Meu pai acordava às três e meia da manhã para cuidar dos pães, minha mãe ficava no caixa e minha irmã mais velha cuidava de mim”, comenta sobre seu primeiro contato com o mundo dos negócios – através dos seus pais.
Sua primeira formação foi em engenharia mecânica, depois fez um mestrado em administração de empresas e finanças e ingressou para o mercado de trabalho em um banco norte-americano de investimento. O banco comprou uma usina de álcool no Mato Grosso do Sul e colocou o jovem Wlado para ser gestor do projeto.
“Na primeira visita à usina, vi 200 famílias de trabalhadores rurais em condições sub-humanas, morando debaixo de lonas pretas, sem nenhum recurso sanitário. Ao ver essa situação, o propósito me atropelou. Durante 2 anos, me dediquei de corpo e alma para viabilizar melhorias para aquelas famílias. Fui muito à Brasília em busca de financiamento para construir as casas. E consegui.”
Trajetória de Wlado Teixeira no empreendedorismo
Depois de um tempo, os sócios norte-americanos queriam vender suas partes do banco e voltar para os Estados Unidos e deixaram Wlado encarregado da função. Ensinaram para ele sobre valuation, algo que era novo para a época e o jovem fez um excelente trabalho de venda. Foi nesse período que abriu uma consultoria de M&A e aceitava transações de pequenas e médias empresas – que os bancos não davam tanta importância por terem valores menores.
Foram mais de 30 anos trabalhando como advisor de transações de M&A e, aos 59 anos, percebeu um nicho mal atendido na atividade de Crédito Imobiliário – os bancos terceirizavam esse serviço, o que tornava mais longo e trabalhoso. “Foi nesse momento que o universo me deu um sinal. Há algum tempo eu havia mentorado um colega a não vender toda sua empresa, vender apenas 70% e deu muito certo. Dois anos depois ele me liga dizendo que está com R$ 800 mil para me dar, em agradecimento pela ajuda”, explica Wlado, que usou o dinheiro para tirar sua ideia de startup do papel.
Mas, além do financeiro, era necessário ter uma equipe para desenvolver o sistema da startup. Teixeira ativou um contato antigo, que tinha uma empresa parecida com a sua ideia e fez um tipo de acqui-hiring – mas sem comprar a empresa do colega, apenas contratou os desenvolvedores, que trabalhavam pós expediente na tecnologia do seu negócio.
Em 2007, Wlado fundou, com mais dois sócios, a Vivere, startup de prestação de serviços de desenvolvimento e gestão completa das operações de crédito imobiliário de bancos, incorporadoras, construtoras e securitizadoras, desde a originação, até os final dos pagamentos dos recebedores, incluindo todo o backoffice. Em cinco anos a startup multiplicou a receita em 37 vezes. Em 2011, o Banco BTG Pactual adquiriu 30% e em 2013 foi vendida para a Accenture, com múltiplo de 30 vezes do valor investido. Na época, Wlado estava com 64 anos e sem intenção de parar.
De empreendedor para investidor
“Eu estava pensando na vida e não queria parar de trabalhar, treino todo dia, sou uma pessoa ativa, meu hobbie é mergulhar pelos mares e tirar fotos, mas não sabia o que fazer profissionalmente. Foi então que um jovem empreendedor me sugeriu trabalhar com startups, comentou que os mais novos me adoravam e eu tinha uma boa bagagem de vida”.
Wlado começou atuando em uma aceleradora de startup do Rio de Janeiro, onde conheceu Marcelo Sales, fundador da Movile – dona de apps de sucesso como o iFood, Sympla e Spoonrocket -, que deu dicas de investimento para o novo investidor-anjo. “Lá eu comecei e errei para caramba. Na minha primeira investida coloquei R$ 800 mil e a startup não deu certo. Depois adorei outro, mas não investi e o negócio decolou. Eu perdi quatro dias de sono porque a minha parte na empresa seria de 7% e ela estava valendo R$ 540 milhões”, compartilha.
O objetivo de Teixeira é trabalhar para o fomento do ecossistema de startups, sendo mentor, investidor e trabalhando nas bancas de análise de startups – tendo investido em 48 startups ao longo da sua trajetória como investidor-anjo. Hoje ele é diretor executivo e membro do conselho da GVAngels, mas sua história com o grupo começou em 2017.
O GVAngels foi idealizado por ex-alunos da FGV-EAESP e é um grupo de investidores-anjo que busca fortalecer o ecossistema de inovação e empreendedorismo no Brasil, promovendo o encontro entre empreendedores e investidores com experiência. Na primeira reunião do grupo, Wlado foi convidado e a parceria começou aí.
Tese de investimento
O time do GVAngels fez uma reunião para discutir a construção de uma tese de investimento e Wlado segurou as rédeas da conversa. “Eu queria ensinar os investidores a investirem, mas antes precisávamos estudar o mercado. Quando ficou claro para nós e para os membros investidores do que gostávamos, montamos uma tese e eu sigo até hoje.”
O primeiro ponto para Teixeira é o nível de experiência do empreendedor. “Claro, se eu ver um baita avião não vou deixar de investir, mas sempre analisamos o background do empreendedor e sua formação acadêmica”. Outro ponto importante é que ele, assim como a GVAngels, não investe em startups que não tenham um CTO como cofundador e que o serviço esteja terceirizado.
Wlado também busca empreendedores que além da visão estratégica da empresa, tenham uma visão operacional e consigam desenvolver táticas que sirvam tanto para o curto prazo como para o longo prazo. Essa característica ficou muito evidente durante a pandemia, quando os CEOs precisaram de soluções para manter seus negócios funcionando. O aporte também só acontece quando o empreendedor trabalha full time na sua startup – nada de trabalhar em outra empresa, reforça Wlado como um dos pontos fundamentais para acontecer um investimento.