“Quando você começa a empreender, você tem que ter um pouco de ingenuidade e loucura. Eu estava numa combinação da minha fase de vida de ingenuidade de acreditar e a loucura de não calcular, porque se você calculasse mesmo, ninguém empreenderia”, com essa afirmação, Marisol Kiyoko Nakabayashi Cruz Guevara, CEO da Vou de Nekô, inicia o papo com o Startupi.
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A trajetória empreendedora de Marisol é uma jornada marcada por experiências únicas, paixão pela sua cultura e um desejo de construir conexões através da comida asiática. Ela nasceu no interior de São Paulo da mistura do Japão com a Colômbia e sempre teve contato com a comida asiática. Na graduação, veio para a capital para fazer Relações Públicas e para conseguir sair do sofá da avó, vendia marmitas na faculdade e no estágio que conseguiu no Buscapé, na área de marketing.
Na busca de conquistar um espaço próprio, começou a trabalhar no Grupo Pão de Açúcar, onde passou por diferentes áreas, do administrativo à área de segurança alimentar em logísticas para marcas exclusivas. Depois de alguns anos, tirou um sabático para explorar o mundo. Marisol passou dois anos fora do Brasil e conheceu 40 países.
Com a pandemia, voltou para a casa da mãe, no interior de São Paulo, e ingressou novamente no Grupo Pão de Açucar, a na área de delivery. Enquanto trabalhava no setor, Marisol sentiu a falta de opções que refletissem a riqueza da gastronomia asiática, distanciando-se dos estereótipos comuns. Foi nesse momento que a ideia de fundar a Vou de Nekô começou a ganhar forma.
Vou de Nekô conecta culturas e sabores
A proposta da Vou de Nekô vai além de entregar refeições, é sobre criar uma experiência culinária que celebra a diversidade e conecta as pessoas asiáticas às suas raízes, além de espalhar a cultura para todos. “Eu sempre negava as minhas raízes, porque não queria ser diferente, só queria ser eu. E nesse processo de tentar promover a gastronomia e a cultura, me fez entender o processo de identificação como pessoa, como indivíduo”, afirma Marisol.
A CEO conta que na escola se sentia diferente e outros alunos faziam questão de apontar suas diferenças. Por exemplo, enquanto a maioria levava pão com frios de lanche, Marisol levava bolinhos de arroz, algo comum de se comer às 9h na sua cultura, e muitos criticavam essa escolha. “Eu enfrentei algumas questões do tipo ‘volta para a sua terra xinguilingue’, sempre me chamaram de japa, japinha, japonesa e nunca pelo meu nome. Isso acaba impactando pouco o processo de identificação e só porque meus olhos são diferentes? O resto é tudo igual, por que eu não posso ter a minha identidade?”
Além da entrega de delivery de comida asiática, a plataforma busca promover a autoaceitação e o orgulho das raízes culturais asiáticas, para além do conhecido sushi e da comida japonesa. Os destinos disponíveis para os clientes “viajarem” são Japão, Coreia, China, Índia, Taiwan, Tailândia, Vietnã e Hawaii, nos Estados Unidos. Ao acessar o Vou de Nekô, que por enquanto só está disponível em São Paulo, também é possível conhecer um pouco da história do estabelecimento e de seus fundadores.
“Quanto mais você conhece a sua própria cultura, suas raízes, mais você começa a sentir o oposto da negação, que é o orgulho. Você desenvolve uma autoaceitação maior, e isso tem sido positivo para mim, que já passei por muito preconceito. Todo mundo merece se sentir em casa. A casa é onde você escolhe ficar, não necessariamente onde tem raízes. Mas se suas raízes culturais não são fortes, você cai, não tem sustentação”, reflete Marisol.
Para construir a primeira base de restaurantes, a CEO teve ajuda de criadores de conteúdo como o Achados da Liberdade e o Além do Sushi, que indicaram os primeiros locais. Ela foi em cada estabelecimento contar a ideia, uma vez que ainda não tinha o aplicativo estruturado, e provar os produtos. A comunidade asiática a ajudou e foi através de feedbacks e novas indicações que o Vou de Nekô chegou a mais de 60 restaurantes cadastrados atualmente. Em setembro, a startup recebeu seu primeiro investimento-anjo, tendo como líder da rodada Angélica NKyn, investidora-anjo de destaque.
Próximos passos do delivery asiático
Atualmente, o aplicativo cobra uma taxa de 17% por pedido e a empresa atingiu o break-even com um pouco mais de um ano de operação – sendo fundada em setembro de 2021. As entregas dos pedidos são feitas em parceria com empresas de logística e no futuro a Vou de Nekô quer desenvolver uma versão do aplicativo com entregas próprias.
Além disso, será implementado na plataforma um tipo de avaliação diferenciada dos outros players do mercado. As avaliações dos restaurantes serão feitas por pratos, assim, os estabelecimentos conseguem evoluir, caso precisem, e entender quais são os produtos mais pedidos pelos seus clientes.
Para os próximos passos da startup, Marisol destaca a importância de proporcionar uma experiência completa, permitindo que os usuários não apenas desfrutem da culinária, mas também explorem o mercado, as escolas, a beleza, a música das diversas culturas asiáticas. A proposta é criar um espaço inclusivo e educativo para todos.
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