Ao longo dos últimos anos tem crescido o número de competições de planos de negócios, sessões de pitches e eventos ligados ao empreendedorismo no Brasil. Este é um desenvolvimento louvável, fruto da inserção das disciplinas de planos de negócios nas escolas e universidades, do aumento do número de startups de sucesso que têm se tornado vitrine, do número de fundos de venture capital, que são hoje mais de 180 organizações que contam com mais de 36 bilhões de dólares comprometidos, além do crescimento econômico do paÃs que proporciona que mais recursos sejam alocados em investimentos produtivos e novos negócios.
No Vale do SilÃcio, na Califórnia, estes acontecimentos já são bastante tradicionais. Só em um convite relativo ao ultimo mês de junho, estavam listadas 28 oportunidades nas quais os participantes teriam entre 60 segundos e 15 minutos para apresentar. Em setembro passado, mais de 2.000 pessoas se reuniram em San Francisco para assistir à apresentação das 24 empresas inovadoras selecionadas para o TechCrunch Disrupt, um dos eventos mais famosos do gênero, que contou com mais de 500 empresas inscritas e cerca de 70 palestrantes e painelistas, incluindo Eric Schmidt, CEO do Google na época. As empresas finalistas recebem prêmios em dinheiro e investimentos.
Os pitches, competições e encontros são importantes pelo seu papel no encorajamento da atividade empreendedora, pelo aprendizado que proporcionam, uma vez que muitas delas contam com aulas, workshops e sessões de aconselhamento, e na ligação entre empreendedores e fontes de financiamento. Somente em 2009, do total de investimentos realizados no Brasil, mais de 15% foram selecionados através destes processos e chegaram a receber aporte de venture capitalists (VCs) e angel investors que participavam das bancas de julgamento ou estavam na audiência, de acordo com o censo do setor realizado pela FGV. Além disto, é possÃvel atrair potenciais clientes e criar rede de relacionamentos.
Um reclamação constante dos investidores é, contudo, que os empreendedores por aqui ainda não estão preparados para participar deste jogo. Em primeiro lugar, eles são bastante inibidos. Normalmente o brasileiro não é treinado para falar em público. Além disto, não estão prontos para explicar como uma tecnologia pode se tornar um produto e conseqüentemente um negócio, para apresentar a validação de mercado, ou seja, mostrar que realmente existe demanda para aquele produto ou serviço, revelar como a empresa vai se sustentar e trabalhar com os riscos e a concorrência, apontar as qualificações da equipe que irá desenvolver o projeto e explicar o modelo de receita, apresentando projeções financeiras plausÃveis. Por último e talvez mais importante é falar da razão de estar ali. Apresentar em público deve ter algum objetivo. A ideia requer investimento? Se sim, de quanto? Para que e como vai ser usado o dinheiro? Como isso vai mudar resultados? Se a empresa está sendo mostrada pelo valor do feedback dos juÃzes, também é preciso deixar isto bem claro.
Diante destas falhas, apesar de toda a evolução recente, a única saÃda é educação. Vale a pena consultar a lista de eventos de ONGs como o SEBRAE e a ENDEAVOR, das escolas de negócios, os seed fori de investimento da FINEP, e ainda alguns eventos independentes como o BR New Tech, os vários TEDx e dos pontos de co-working, já comuns nas capitais. Vale aproveitar cada uma destas oportunidades para ouvir empreendedores experientes e para âvender o peixeâ. Mesmo que no começo se expor e organizar ideias possa parecer difÃcil, apresentar é como andar de bicicleta. Uma vez perdido o medo, a prática nunca se perde.
P.S.: Faz tempo que eu não escrevia para o Startupi. Para voltar, queria re-visitar um tema antigo, em resposta uma pergunta da Laura Pansarella, feita durante um workshop para professores da FGV na semana passada. Nas discussões, ela me perguntou como melhor se comportar em um pitch. Obrigado pela provocação, Laura ;-)!