Em 2019, o ecossistema de empreendedorismo e inovação brasileiro atraiu a atenção dos fundos de venture capital. Ao longo do último ano, foram cinco os novos unicórnios brasileiros – avanço que posicionou o Brasil como o terceiro país do mundo a mais produzir startups, neste período, com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão.
Nos primeiros dias de 2020, a proptech Loft integrou-se à lista, já enunciando que esse cenário deve se manter aquecido nos próximos meses. É o que indica também o Corrida dos Unicórnios 2020, estudo realizado pela empresa de inovação aberta Distrito. O levantamento aponta as 10 empresas mais promissoras a alcançarem o status de unicórnio.
As aspirantes, de acordo com o estudo, são as fintechs Conta Azul, Creditas e Neon; as adtechs Olist, Vtex e Resultados Digitais; a healthtech Dr.Consulta; a proptech MadeiraMadeira; a Buser, ligada ao setor de mobilidade e, por fim, a CargoX, de logística.
A lista foi elaborada a partir do cruzamento de uma série de dados do Distrito Dataminer, braço de inteligência e dados de mercado da empresa de inovação. Entre as variáveis consideradas, estão perfil dos fundadores, investimento captado, tempo entre as rodadas, fator multiplicativo entre série de investimento e tamanho de mercado.
“O ano de 2020 já mostrou que vem forte, com um janeiro agitadíssimo entre investimentos e aquisições no mercado nacional. Não temos motivos para acreditar que o ritmo de investimento vai diminuir por aqui. As condições macroeconômicas, combinando alta dos mercados com taxa de juros baixa, incentivam a tomada de riscos”, comenta Gustavo Gierun, cofundador do Distrito.
Unicórnios vs. IPOgrifos
De acordo com o Distrito, o Brasil possui hoje nove unicórnios: 99 Táxi, Ebanx, Gympass, iFood, Loft, Loggi, NuBank, Quinto Andar e WildLife. Tais empresas captaram, em 2019, mais de US$ 1,2 bilhão e outros US$ 175 milhões no primeiro mês de 2020.
Entram nesta lista apenas startups que atingiram valor de mercado superior a US$ 1 bilhão enquanto tinham capital fechado – conceito stricto senso, de acordo com a terminologia criada por Aileen Lee, da Cowboy Ventures, ainda em 2013, quando o Facebook adquiriu o Instagram. A fusão deu origem ao primeiro unicórnio da história. No mundo, hoje são 449 – 50% deles estão nos Estados Unidos, 25%, da China.
Para manter-se fiel à definição aceita pelo mercado internacional, o Distrito criou uma nova terminologia para identificar as empresas bilionárias de capital aberto. São os IPOgrifos, em referência aos seres mitológicos que têm corpo de cavalo, mas cabeça e asas de águia, os hipogrifos. O termo brinca ainda com a sigla em inglês IPO, que marca a oferta pública inicial de ações de uma companhia ao mercado.
“Quando falamos do modelo de crescimento exponencial e investimento de capital de risco que os unicórnios representam, devemos nos ater a empresas de capital fechado, que não devem satisfações a uma grande massa de acionistas”, afirma Gierun. São os IPOgrifos brasileiros a PagSeguro, a Arco e a Stone.
Fundadores
O estudo também traçou um raio-X dos fundadores dos nove unicórnios brasileiros. Na média, são 3,3 fundadores por empresa – e metade deles não havia aberto outro negócio quando fundaram as empresas que viriam a se tornar unicórnios. A maior parte, 93%, são homens. Entre os 30 fundadores, apenas duas mulheres: Cristina Junqueira, do Nubank; e Mariana Paixão, da Loft.
No que diz respeito à graduação, a Universidade de São Paulo (USP) segue como líder isolada no ranking das instituições de ensino que mais têm tais fundadores entre seus ex-alunos: são 13 no total. Na pós-graduação, destaque para as americanas Stanford e Harvard, que juntas formaram 12 dos 50 fundadores.
Quando falamos das startups aspirantes a unicórnios, as estatísticas guardam algumas semelhanças. No total, são 21 fundadores, todos eles homens. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é a que reúne maior número de fundadores: 5, todos da Resultados Digitais.
Fundos por trás dos unicórnios
Um unicórnio não se faz sozinho. São os investimentos de venture capital que permitem que as startups cresçam de forma exponencial, ganhem mercado e testem suas hipóteses sem que precisem, necessariamente, se bancar e lucrar logo de cara. Entre os fundos que mais investiram nos unicórnios e aspirantes brasileiros, estão Kaszek Ventures (16 rodadas), Monashees (15) e Redpoint Ventures (13). O fundo japonês Softbank merece também destaque pela participação em rodadas que juntas movimentaram cerca de US$ 1,5 bilhão.
Para ficar de olho
O estudo Corrida dos Unicórnios traz ainda uma lista de seis startups que, apesar de não integrarem o ranking de aspirantes, têm forte potencial para se tornar unicórnios, embora em um prazo mais longo. São elas a Neoway, de big data; a Zenvia, de marketing digital; a Recarga Pay, de pagamentos móveis; a Pipefy, de gestão de produtividade; a Zoop, solução de pagamentos da Movile; e a Weel, de antecipação de recebíveis.
Elemento surpresa
Na primeira edição do Corrida dos Unicórnios, lançada no início de 2019, uma importante startup ficou de fora como aspirante, tornando-se unicórnio poucos meses depois. Na época, a Loft tinha apenas seis meses de idade, mas já havia realizado uma rodada de investimentos de US$ 18 milhões. Em março, foram mais US$ 70 milhões e, por fim, em janeiro deste ano, outros US$ 175 – montante que a elevou ao status de unicórnio.
O Distrito então elaborou uma lista de jovens startups que possuem alto potencial de crescimento, atuam em um mercado gigantesco e que necessitam de capital intensivo por conta de seus modelos de negócio. São elas LivUp, de comidas saudáveis e congeladas; Volanty, de compra e vendas de carros; Kovi, de aluguel de carros para motoristas de aplicativos; Fazenda do Futuro, de proteínas vegetais e, por fim, a Mimic, de dark kitchens – como são chamadas as cozinhas industriais destinadas a restaurantes com foco no delivery.