Por Bruna Galati
Na evolução do ser humano, o fogo desempenhou um papel fundamental. A humanidade passou por diferentes fases da relação com o fogo, desde o uso ancestral para sobreviver até a Revolução Industrial, que trouxe a combustão controlada. No entanto, em tempos recentes, surgiu um “terceiro fogo”, um fogo sem controle, que ameaça o equilíbrio climático do planeta. Esse é o momento em que a startup brasileira umgrauemeio entra em cena, trazendo soluções para mitigar os impactos das queimadas, um problema que contribui com 20% das emissões globais de CO2.
A umgrauemeio é uma climatech que desenvolveu o Pantera, uma plataforma completa para a gestão integrada de incêndios florestais com módulos para prevenção, detecção e resposta rápida. O Pantera oferece recursos avançados para detecção de incêndios, permitindo a identificação de fumaça com o uso de inteligência artificial em 3 minutos. As câmeras giram 360º a procura de incêndios, funcionam 24 horas por dia e pagam um raio de visibilidade de até 30km (a depender do clima no local).
Além disso, a startup é responsável pelo monitoramento de 13,5 milhões de hectares de terra no Brasil, com 130 torres distribuídas por todos os biomas brasileiros, com projetos em desenvolvimento na Índia, Estados Unidos e Portugal.
Segundo Osmar Bambini, cofundador e Diretor de Inovabilidade da umgrauemeio, a meta da startup é não virar um colonialismo digital, aonde uma empresa chega em um local impondo regras de como plantar uma semente, por exemplo. “Se você faz isso, você perde a diversidade de grãos usados, acaba usando uma semente transgênica do negócio e estará tornando aquela região dependente da sua ‘solução’. É ajudar em busca de um benefício próprio. Não falamos de ecofuturismo onde a solução para tudo é a tecnologia, meio Elon Musk. Nós queremos fazer o bem e a tecnologia é um extra nessa caminhada”.
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História da umgrauemeio
A umgrauemeio é fruto da pivotada de outro negócio – fundado por Rogério Cavalcante em 2016 com o nome Sintecsys – que tinha soluções voltadas para agricultura. Com o aumento das queimadas na área agrícola e seus impactos, a antiga empresa percebeu que sua missão se estendia, então migrou para o setor florestal, onde começou a ganhar reconhecimento por seu compromisso em combater o fogo nas florestas.
Após um ano de aprendizados, os fundadores perceberam que a empresa havia se transformado completamente. Foi então que decidiram refundá-la e renomear para umgrauemeio. “Sabemos da urgência em endereçar as mudanças climáticas. Por isso, levamos em nosso próprio nome a meta a ser alcançada: manter a elevação de temperatura do planeta abaixo de 1.5°C. Somos orientados pelas melhores práticas em ESG e nosso trabalho é alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas”, afirma a startup em seu site.
A umgrauemeio reconhece que os incêndios florestais têm efeitos devastadores não apenas nas mudanças climáticas, mas também na biodiversidade (ODS quinze), na qualidade do solo e da água (ODS seis) e na saúde humana (ODS três). Os incêndios destroem ecossistemas e transformam paisagens, agravam a perda de biodiversidade e contribuem para problemas de saúde pública. Além disso, representam um impacto econômico significativo (ODS oito), com prejuízos anuais estimados em US$ 50 bilhões globalmente.
“Falamos sobre a saúde mental das pessoas também. Nas regiões impactadas por grandes incêndios as populações vivem em estado de ansiedade, de depressão, criança com síndrome do pânico. Além de que em regiões como a Califórnia os incêndios intoxicaram a água e novos tipos de câncer começaram a surgir em comunidades que consumiam essa água”, explica Osmar Bambini, cofundador e Diretor de Inovabilidade da umgrauemeio.
Soluções para os incêndios
Diante desse cenário desafiador, a startup desenvolveu o seu produto “Pantera”, uma plataforma completa de gestão de incêndios florestais que oferece soluções em diferentes módulos. No módulo de prevenção, a startup fornece alertas diários de risco, auxiliando operadores e usuários a compreender o nível de perigo de incêndio em áreas específicas, incluindo propriedades agrícolas, florestais, áreas de reserva e infraestruturas críticas, como linhas elétricas. Esses alertas permitem tomar decisões informadas, como a movimentação de brigadas de combate a incêndios ou a ativação de máquinas apenas em condições seguras.
Além disso, a startup oferece detecção de incêndios por meio de dois sistemas. O primeiro, baseado em visão computacional, emprega câmeras de alta resolução instaladas no topo de torres de comunicação para identificar focos de incêndio a uma distância de mais de vinte quilômetros em menos de três minutos. Isso possibilita uma resposta rápida, permitindo a identificação da dimensão e da propagação dos incêndios, bem como a localização da brigada de combate mais próxima.
“As câmeras funcionam em qualquer alteração na atmosfera de dia ou de noite e indica ao operador onde está o incêndio e quais são os seus riscos, além de que no nosso sistema tempos informações detalhadas do local, como áreas urbanas, rodovias, linhas de transmissão e até mesmo os vizinhos mais próximos. Essas informações são cruciais para uma resposta eficaz, pois permitem que as brigadas de combate tenham um entendimento completo da situação em tempo real”, afirma Osmar.
Essas informações fazem parte de uma rede inteligente de respostas ao incêndio florestal. O operador terá acesso a pessoa mais próxima do local do fogo e poderá confirmar como realmente está a situação. Essa colaboração direta entre membros da comunidade pode levar a uma resposta mais eficiente e, por vezes, até evitar a ativação desnecessária das brigadas, economizando tempo e recursos.
Também utilizam um método de propagação de foco para prever a direção que o incêndio pode tomar com base em fatores como o vento, o relevo e o tipo de vegetação. Essas previsões permitem que as equipes de combate tomem decisões informadas, como determinar se é seguro permitir que o fogo se propague em certas áreas ou se é necessário intervir para evitar danos a ecossistemas sensíveis.
O segundo módulo de detecção é baseado em satélites para complementar a identificação de incêndios florestais. Através do acesso a uma rede de mais de vinte satélites de diferentes órbitas e instituições, como a NASA e a Agência Espacial Europeia. A detecção por satélite serve como um backup para garantir a cobertura completa em áreas onde a detecção local pode falhar.
Escalabilidade da umgrauemeio
A umgrauemeio vende um pacote de soluções digitais baseado em preço por hectare por mês. Isso permite que os clientes adquiram suas soluções digitais completas, com um contrato típico variando de trinta a sessenta meses. A implementação, que não dependem de câmeras para detecção, pode ser concluída rapidamente em quinze dias. Caso os locais precisem de câmeras, a startup inclui a cobrança dos pontos para implementá-las. Para clientes em áreas onde a infraestrutura não está presente, a startup oferece uma solução completa que inclui instalação de câmeras, manutenção local e remota e hardware.
Atualmente a startup conta com 25 clientes em todas as regiões do Brasil. Seus clientes incluem empresas florestais líderes, como Suzano, Klabin e Sylvamo, além de projetos pioneiros de preservação, como o projeto Abrace o Pantanal – que garante uma vigilância intensiva em tempo real, 24 horas por dia, para proteger uma área de 2,5 milhões de hectares deste bioma.
Em 2022, a umgrauemeio teve faturamento de R$ 14 milhões. Esse ano a startup venceu o Desafio BCS Startup Challenge durante o evento Brazil Climate Summit que aconteceu em Nova York. E para os planos futuros, uma rodada de investimentos está na mira, que ajudará para o seu crescimento no Brasil e no exterior.
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