* Por Elber Mazaro
Olá!
Como sempre faço, compartilho a origem ou a inspiração para os artigos que escrevo. Esse veio de uma demanda para criar um texto de apoio em um curso de Administração (EAD), onde participo com um módulo sobre o Mundo Digital.
Inicialmente, eu pensei que seria um tema muito óbvio, mas depois entendi que existem alguns pontos válidos para reflexão de quem está iniciando ou tentando entender essa relação da tecnologia, em geral e de maneira ampla, com os negócios e as organizações/empresas.
Também acho válida a mesma reflexão, de tempos em tempos, para quem, como eu está inserido há muito tempo nesse meio (no meu caso, mais de três décadas), porque às vezes, perdemos um pouco a perspectiva ou a visão integrada de como essa relação vem se desenvolvendo e para onde vai.
Outro acontecimento recente, que me inspirou, foi ver um vídeo de Robert Noyce, postado por um ex-colega da Intel. Noyce foi um dos fundadores da Intel, um dos criadores do microchip, das primeiras memórias e dos primeiros processadores, além de ser considerado um dos pioneiros do, tão falado, vale do silício (já pensou por que essa região tem esse nome/apelido?).
O vídeo citado, é de 1981, e Robert Noyce falava na tecnologia viabilizando coisas como o home office e trabalho de qualquer lugar, falava em mobilidade, grandes ganhos de produtividade, e outros avanços que estão se tornando realidade agora, 40 anos depois, e alguns, após o empurrão da pandemia.
O cara era genial, assim como Gordon Moore, sócio de Noyce na fundação da Intel (1968), mas que em 1965, criou a tal “lei de Moore”, que vale até hoje e diz que a capacidade computacional (dos chips) dobraria a cada 18 ou 24 meses, enquanto os custos se manteriam, e isso vale para os processadores, mas também para memórias-armazenamento e conectividade. Resumindo, você pode ter o dobro de performance a cada dois anos pagando o mesmo preço e isso ocorreu nos últimos 55 anos.
Bom, então qual é relação entre negócios, empresas/organizações e a tecnologia, ou melhor, como eu vejo esta conexão?
A melhor resposta que tenho é dizer que é simbiótica; mas não para todos e nem ao mesmo tempo, criando oportunidades e desafios, e por isso mesmo, entender um pouco dessa relação, tem seu valor.
Veja a definição de simbiótica, que escolhi para aplicar a essa relação: “Que se refere à simbiose, à associação de dois ou mais seres que, embora sejam de espécies diferentes, vivem em conjunto, compartilham vantagens e se caracterizam como um só organismo”.
Sempre que busco analisar algo, busco entender o contexto e o momento, nesse caso, da tecnologia no mundo e sua participação no ambiente dos negócios, ou empresarial/corporativo.
Muitas vezes esquecemos que nossa realidade não é a mesma de todos os demais habitantes do país ou do planeta. Isso ocorre principalmente, quando vivemos em um grande centro urbano (no meu caso, em São Paulo).
Hoje, apenas 60% da população mundial tem acesso à internet (pelo menos uma vez por mês) e no Brasil, estamos em 75%; portanto, não são todos que estão conectados ou ativos no tal mundo digital.
Outros números interessantes para considerarmos:
– Dois terços da população mundial possui um telefone celular;
– Mais de 4 bilhões de pessoas usam as redes sociais;
– Em um minuto:
- São assistidos 4 milhões de vídeos no Youtube;
- São feitas mais de 4 milhões de buscas no Google;
- São enviados 190 milhões de emails (haja SPAM);
- 19 milhões de mensagem em texto;
- Já são gastos, mais de 1 milhão de dólares, a cada 60 segundos, no mundo inteiro.
Essa perspectiva demonstra com números imensos, por um lado a grande presença da tecnologia na vida das pessoas e também nos negócios, mas por outro lado encobre um pouco, o gigantesco gap de algumas organizações, onde alguns tem muito, até demais, e outros não tem nada ou tem muito pouco ou algo muito antigo/obsoleto.
Cada pessoa e cada empresa ou organização precisa entender o seu contexto, o ambiente, o acesso e os hábitos dos seus clientes, em relação a tecnologia, para poder agir e ser bem sucedida, nos dias de hoje.
Outro destaque a ser feito para o mundo de negócios, é o fato de as empresas mais valiosas do mundo (considerando o valor das ações no mercado), são de tecnologia, como Apple (vale mais de US$ 2 trilhões), Microsoft, Amazon, Alphabet (Google), Facebook, Tencent…
Antigamente eram empresas dos segmentos petróleo-energia e bancos-financeiras, que dominavam a lista das 10 mais valiosas do mundo, com predominância de empresas dos Estados Unidos, enquanto hoje já vemos empresas da China, por exemplo Tencent e Alibaba, na lista das maiores.
Estamos ficando cada vez mais acostumados, com termos como unicórnios, que são empresas com valor de mercado igual ou superior a US$ 1 bilhão. Já temos várias no Brasil, e todas são de tecnologia.
A tecnologia tem valor como negócio e para os negócios, deixando de ser apenas uma infraestrutura que suporta as organizações, para estar no centro da geração de valor para os clientes e stakeholders (core business), passando por toda a cadeia produtiva e indo até o marketing digital. É a transformação digital, tão falada em alguns meios, onde o negócio se transforma pela tecnologia.
Podemos olhar o papel da tecnologia nos negócios, observando as transformações que estão ocorrendo durante a pandemia de covid-19, como uma amostra. Mudanças no modelo de trabalho, nas reuniões, no comércio, nos serviços, no consumo e nos hábitos, tanto para pessoas físicas, como para as jurídicas.
Quase tudo foi para o mundo digital, para a internet, para os apps, etc. Quem estava preparado se deu bem, e quem não estava precisou correr atrás do prejuízo, enquanto infelizmente muitos sucumbiram, também pela dependência do modelo físico, impactados por um enorme conjunto de restrições.
Outro elemento desse contexto é a demanda contínua por inovação, por reinvenção dos negócios, por novos modelos, processos, produtos, abordagens, etc.
Qual é o motor da inovação?
É a tecnologia (do meu ponto de vista)!
Veja como a tecnologia contribui para a evolução da posição dos clientes nas relações de mercado. Hoje, os clientes estão cada vez mais bem informados, pois tem acesso amplo à muita informação e até a muita opinião, também.
Isso faz com que os clientes fiquem mais exigentes, conscientes dos seus direitos, com mais opções de escolha e com uma voz mais ativa, tendo a chance de se expressar, muitas vezes a sua insatisfação, e até com uma capacidade de mobilização e influência junto a outros clientes e ao mercado como um todo, criando movimentos ao redor de causas e comunidades.
Também na análise do contexto podemos observar a evolução histórica dos negócios e da tecnologia em si, pelo conceito original das revoluções industriais.
Estamos vivendo a revolução industrial 4.0, que na verdade nem usa mais o termo industrial, porque tudo está sendo revolucionado pela tecnologia no mundo das organizações e da sociedade, indo muito além das indústrias, as quais já não são mais as principais fontes de desenvolvimento e criação de riquezas.
Lembrando que a revolução industrial 1.0, se aproveitou do uso da tecnologia de máquinas a vapor, enquanto a 2.0 tomou como base o uso da eletricidade e a 3.0 o uso de computadores.
A revolução 4.0, ficou mais complexa, e por definição, a tecnologia está integrando o mundo físico, com o mundo digital e com o biológico. As transformações dessa revolução são consideradas em função da sua profundidade, amplitude, velocidade e do impacto sistêmico/de ruptura.
Já não falamos em uma tecnologia isolada como impulsionadora da revolução e sim de várias, nessa versão 4.0, como: IA (inteligência artificial), IoT (internet das coisas), economia compartilhada, criptomoedas, blockchain, robótica, etc.
Novamente, o que precisamos entender é que podem existir negócios ao redor do mundo, que ainda vivem a revolução 1.0 (pensando em tecnologia e nos demais elementos da administração de empresas); outras estão na 2.0 (com eletricidade, mas sem computação, seguindo o modelo de linha de produção de Ford, do início do século 20). E muitas empresas, em especial as pequenas e médias, de segmentos tradicionais, ainda estão começando a revolução 3.0 (usando alguma tecnologia computacional).
Já as empresas e organizações de ponta; e olhando o movimento de startups, está claro que não são só as grandes; estão nascendo ou se transformando digitalmente, por necessidade, para sobreviverem e existirem, ou por oportunidade, para inovarem e atenderem demandas e desejos com algo novo, diferente e na maioria das vezes mais eficiente.
Estamos vivendo a era da informação (o item mais valioso nas economias e sociedades), com uma avalanche de dados disponíveis e nos bombardeando, e onde a globalização e a digitalização se confundem, com o que chamo de “algoritmização”, onde os algoritmos influenciam e até definem o que pensamos, conhecemos / aprendemos, usamos, gostamos, etc.
E os produtos das empresas?
Sem inovação eles virão commodities, isso é a “comiditização”, e quando isso ocorre, vende quem tem o menor preço, porque tudo parece igual/nivelado, e às vezes quem tem o menor preço é quem erra na conta.
O mundo digital está se tornando ubíquo e essencial no mundo dos negócios, onde a tecnologia e a inovação, estão viabilizando, acelerando, impulsionando, suportando, conectando, etc as organizações e a sociedade.
Com essa contextualização, podemos entender melhor essa relação entre os negócios e a tecnologia, e como o entendimento desse mundo digital é fundamental para organizações e profissionais, de qualquer área, portanto, espero ter contribuído com alguma perspectiva e assim todos podem por as mãos-a-obra.
Elber Mazaro é assessor/consultor, mentor e professor em Estratégia, Tecnologia, Marketing, Carreiras/Liderança e Inovação/Empreendedorismo. Atua há mais de 25 anos no mercado, liderando negócios no Brasil e na América Latina. Possui mestrado em Empreendedorismo pela FEA-USP, pós-graduação em Marketing e bacharelado em Ciências da Computação.