Ele tem 33 anos e é considerado um gênio bem-sucedido. Nasceu na Guatemala, estudou Computação na Duke University (em Durham, na Carolina do Norte), dá aulas na Carnegie Mellon University (em Pittsburgh, na Pensilvânia) e já lançou ao menos 2 produtos que foram importantes na web: participou da criação do Captcha (aquelas palavras que você precisa preencher nos formulários para comprovar que é uma pessoa) e do ReCaptcha (nova versão do Captcha que aproveita as inserções dos usuários para a digitalização de acervos – e foi vendido para o Google). Ele também chegou a criar o jogo ESP (que foi comprado pela Google também), mas este já foi descontinuado.
Há três anos, dedica-se ao sistema de aprendizagens de línguas Duolingo. Mas antes de falar do app atual, vamos nos ater ao perfil de Luis von Ahn, para entender a natureza dos projetos.Em 2006, entrou na lista da Popular Science como um dos 10 cientistas mais brilhantes – e ganhou a “Bolsa Gênio” da Fundação MacArthur. Conforme o site da universidade, o sucesso dele está não no que ele faz, mas no que você (eu, tu, nós, vós, eles) com as coisas dele.
A explicação passa pelo Captcha. O nome é bonitinho sim, parece “gotcha” (“te peguei”), mas é um acrônimo para Completely Automated Public Turing Test to Tell Computers and Humans Apart: teste de Turing público automatizado para dizer se você é um computador ou um humano. Ou seja: nasceu como desafio cognitivo, e logo foi utilizado como ferramenta anti-spam.
Agora, ao digitar as palavras na caixa do ReCaptcha, você ajuda a digitalizar textos que foram escritos antes da era do computador. As palavras que você vê foram tiradas diretamente de textos antigos que estão sendo digitalizados e armazenados em formato digital para ser preservados e ficar mais acessíveis para o mundo. Visto que algumas das palavras nos textos são difíceis para os computadores processarem, a tecnologia – adquirida pelo Google em 2009 – está usando os resultados de seus esforços para ajudar a decifrá-las.
“Criamos o Captcha sem a intenção de ganhar dinheiro. A ideia era apenas aproveitar que agora podemos ter milhões de pessoas usando a mesma tecnologia, trabalhando pela mesma causa”, contou Luis na mesa de café da livraria em que nos encontramos. “Google adquiriu ReCaptcha, aí continuei dando aulas e pensando no que mais fazer, até que eu e meu sócio tivemos a ideia de criar a Duolingo“, narra.
Criado três anos atrás, o Duolingo nasceu do questionamento de Luis: como podemos encontrar 100 mil pessoas para ter o conteúdo da Internet traduzido do inglês para outras línguas? E das outras línguas para inglês? E de graça? “No Duolingo, milhões de pessoas investem seu tempo aprendendo línguas mas também traduzindo textos”, esclarece Luis. A startup recebeu uma primeira rodada de investimentos de Ashton Kutsher (veja matéria em que Kutsher fala sobre startups), Union Square Ventures (de Fred Wilson – veja matéria) e Tim Ferris, e uma segunda rodada da Union Square, acompanhada pela New Enterprise Associates (onde trabalhava Eugene Chung, atual diretor da aceleradora Techstars em Nova York – veja matéria).
“Mesmo agora, não criei o produto para ter faturamento. Criei para que as pessoas pudessem aprender outras línguas, especialmente o inglês, de forma gratuita. Já existem outras soluções para aprender línguas, mas muitas pessoas não podem pagar. Hoje, inglês é a língua que as pessoas mais querem aprender no Duolingo, seguida do francês. Português está em quarto ou quinto lugar”, posiciona. Questionado sobre o objetivo do investimento recebido, Luis aprofunda um pouco mais. “O Duolingo é uma ferramenta gratuita para os usuários, mas temos um produto corporativo que consiste em vendermos traduções de artigos para publicações, como portais”, comenta, citando a CNN como um cliente. A prática se assimila ao uso do Recaptcha, considerando que são os usuários do Duolingo que acabam traduzindo o material.
Pouco mais de vinte pessoas trabalham para a empresa, praticamente todas nos Estados Unidos, apenas uma fora, que está em Porto Alegre: Kerley Tolpolar, responsável por ajuste de tradução e atendimento aos usuários brasileiros. Na sexta-feira, Kerley e Luis reuniram-se em São Paulo com algumas dezenas de usuários brasileiros e na quarta-feira Luis deve palestrar no Rio de Janeiro, no evento WWW 2013 (organizado pelo consórcio W3C/NIC/CGI), ao lado de Tim Berners-Lee (criador da WWW) e Miguel Nicolelis (neurocientista inovador). Veja abaixo o vídeo de uma palestra que Luiz proferiu no TED, sobre colaboração online massiva.
Dica: há um concurso cultural até as 13h de hoje, pelo qual você pode concorrer a ingressos do evento e assistir aos painéis do Start-Up Brasil – e de Luis – amanhã. Participe.
Também, Luis Van Ahn vai fazer um encontro com empreendedores digitais. Essa parte da programação é aberta, gratuita. Inscrições neste formulário.