Uberlândia vem se firmando como um dos principais polos de empreendedorismo e inovação do país. O município, que hoje reúne cerca de 250 startups mapeadas, segundo autoridades locais, tem avançado de forma consistente na articulação entre universidade, governo, iniciativa privada e comunidade empreendedora — um modelo que vem transformando a economia regional e atraindo atenção nacional para o Triângulo Mineiro.
A realização do Techstars Startup Weekend Summit, em outubro, marcou um ponto simbólico dessa consolidação. O encontro reuniu cerca de 100 líderes de comunidades de startups de 15 estados brasileiros, evidenciando a capacidade de Uberlândia de sediar grandes eventos do setor e de integrar a cena nacional de inovação.
“O Summit voltou ao Brasil depois de oito anos, e Uberlândia foi escolhida entre várias cidades, inclusive capitais como Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Isso mostra a força e a união da comunidade local”, explica Danilo Picucci, representante da Techstars no Brasil.
A escolha da cidade não foi por acaso. Uberlândia tem se destacado por uma atuação consistente de líderes locais, aceleradoras e hubs que ajudaram a construir um ambiente de negócios inovador e colaborativo. De acordo com Ferdinando Kun, facilitador da comunidade UberHub, o movimento local de startups começou há cerca de 12 anos, em sintonia com o crescimento de polos como o São Pedro Valley, em Belo Horizonte. “Hoje temos um ecossistema maduro, com mais de 290 startups, dezenas de cases de sucesso e cerca de R$ 6 bilhões em investimentos e aquisições nos últimos seis anos”, afirma.
Entre os setores com maior presença estão agro, logística e tecnologia da informação — vocações naturais da região, impulsionadas tanto pela forte base empresarial quanto pela infraestrutura universitária. “Uberlândia é o município com o maior número de startups do agro no país, com mais de 40 empresas atuando nesse segmento”, diz Kun. “Esse cenário é resultado de um ambiente que une empreendedores experientes, grandes companhias que demandam tecnologia e universidades que formam mão de obra qualificada.”
Universidade como eixo da inovação
A presença da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é apontada como um dos pilares do ecossistema. A instituição tem desempenhado papel estratégico na formação de profissionais e na geração de pesquisa aplicada, com foco crescente na transferência de tecnologia. “A inovação nasce na pesquisa, mas não pode morrer na pesquisa. A universidade tem que gerar conhecimento e transferi-lo para a sociedade”, afirma o reitor da UFU, professor Cláudio Ramos.
Nos últimos anos, a UFU vem investindo na criação de centros de inovação, como o Centro de Empreendedorismo e Inovação — com unidades nos campi Santa Mônica e Ituiutaba — e na estruturação do Parque Tecnológico TecnoUFU, que deve ser inaugurado em 2026. O investimento total é de R$ 13 milhões, sendo R$ 10 milhões da Finep e R$ 3 milhões da Fapemig.
“Nosso objetivo é conectar a universidade à sociedade, criando um círculo virtuoso entre pesquisa, incubação e negócios. Hoje temos mais de 900 registros de propriedade intelectual e cerca de 17 empresas incubadas ou associadas aos nossos ambientes de inovação”, explica Luciana Silva, diretora de Inovação e Transferência de Tecnologia da universidade. Segundo ela, o novo parque tecnológico será fundamental para ampliar a capacidade de incubação e consolidar a transferência de conhecimento científico e tecnológico da universidade para o mercado.
Luciana destaca ainda que a UFU atua desde a educação básica para disseminar a cultura empreendedora. “Temos o Laboratório de Inovação, que já capacitou mais de 130 alunos da rede pública em projetos de iniciação científica. Muitos deles criam soluções reais para problemas da comunidade, o que reforça a importância de começar o empreendedorismo desde cedo”, afirma.
Conexão entre academia e mercado
A aproximação entre universidade e setor produtivo é apontada por empreendedores como uma das vantagens competitivas de Uberlândia. Para Victor Eduardo Silva, gerente de ecossistemas do Brain, hub de inovação ligado à Algar Telecom, esse alinhamento é um diferencial importante. “A UFU se coloca como parceira ativa do ecossistema. Professores e alunos participam de projetos com startups, e o espaço da universidade é usado para atividades de formação e capacitação, como o UberHub Code Club”, comenta.
O Brain, que é um dos signatários do Pacto pela Inovação, atua conectando empresas, startups e governo. “Temos visto empresas grandes acreditando, startups nascendo e recebendo investimento, e isso atrai mais talentos. Nossa missão é ajudar a formar pessoas e atrair investimentos para a cidade, fortalecendo todo o ecossistema”, diz.
O avanço do ambiente inovador em Uberlândia também está ligado à cooperação institucional. A prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, tem participado ativamente de programas e convênios com a UFU, Sebrae, Aciub e outras entidades. “O que temos hoje é um momento muito especial, com instituições que nunca dialogaram tanto. Essa integração entre universidade, empresas e governo é o que permite que os resultados apareçam”, observou o reitor Cláudio Ramos.
A articulação entre esses atores é formalizada pelo Pacto pela Inovação de Uberlândia, que reúne dezenas de instituições com o objetivo de criar uma estratégia integrada para o desenvolvimento tecnológico da região. O pacto tem sido fundamental para a execução de projetos conjuntos e para a atração de novos investimentos, além de fortalecer o papel da cidade no contexto nacional de inovação.
Uberlândia no mapa da inovação
O reconhecimento de Uberlândia como polo de inovação se reflete também na percepção de entidades nacionais e internacionais. “Uberlândia foi eleita no Startup Awards como a melhor comunidade empreendedora do Brasil, o que mostra que a cidade conseguiu construir um ambiente coeso e colaborativo, com diferentes atores trabalhando juntos por um mesmo propósito”, reforça Danilo Picucci, um dos organizadores do Techstars Startup Summit na cidade.
O evento organizado pela Techstars, que aconteceu no espaço do Brain, contou com representantes de mais de 50 comunidades e 60 cidades brasileiras. Segundo Ferdinando Kun, a realização do Summit no interior do país tem significado simbólico. “O evento nunca havia ocorrido fora de uma capital. O fato de termos trazido para Uberlândia mostra a força coletiva das comunidades mineiras e o amadurecimento do nosso ecossistema”, afirmou.
Próximos passos
A expectativa é que, nos próximos anos, o ecossistema local se torne mais estruturado e especializado, com programas focados em verticais como inteligência artificial, agronegócio e logística. “Uberlândia já tem cursos e iniciativas em IA, e começa a criar programas voltados para suas vocações naturais. Daqui a alguns anos, veremos startups cada vez mais verticalizadas e maduras”, projeta Victor Eduardo Silva.
O Parque Tecnológico TecnoUFU e o Polo Tecnológico de Uberlândia, ambos em fase de implantação, devem consolidar a infraestrutura necessária para essa próxima fase de crescimento.
“O objetivo é ampliar a densidade de empresas e criar uma estrutura sustentável para o desenvolvimento tecnológico. Temos um cenário otimista a longo prazo”, resume Ferdinando Kun. Com o fortalecimento da base universitária, a participação ativa de empresas e a realização de eventos de relevância nacional, Uberlândia confirma seu lugar entre os principais polos brasileiros de inovação — e desponta como referência de desenvolvimento tecnológico fora dos grandes centros urbanos.
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