O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que Elon Musk, juntamente com o ex-candidato presidencial Vivek Ramaswamy, será responsável pelo recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (Doge). A função do bilionário estará relacionada à eliminação de burocracia, redução de regulamentos e cortes em agências federais.
“Quando falamos sobre a missão que o Trump está dando, ainda está incerto se será uma nova secretaria, um novo ministério, ou se ele estará apenas conectado a uma estrutura que fornecerá um plano como Trump pediu, com prazo até 4 de julho de 2026. A questão principal é o impacto que isso trará ao processo de regulamentação, com reflexos em várias áreas e setores, envolvendo inclusive diálogos com o Congresso, o Senado e o sistema de justiça. A natureza desses postos, por si só, já gera uma série de questionamentos”, explica Denilde Holzhacker, cientista política e professora de Relações Internacionais da ESPM.
Preocupação de Trump com gastos
Durante um comício de Trump em outubro, Musk afirmou que o orçamento do governo poderia ser reduzido em pelo menos US$ 2 trilhões, dos atuais US$ 6,5 trilhões, e sugeriu que o número de funcionários públicos poderia diminuir consideravelmente. Já Ramaswamy propôs, em 2023, a extinção de departamentos como o de Educação, Comissão Reguladora Nuclear, Receita Federal e FBI, sugerindo demissões em massa como burocracia em Washington DC.
Segundo a cientista política, a amplitude do papel que Musk vai exercer ainda não está clara, assim não é possível prevêr se ele será um funcionário do governo ou um conselheiro formal. O que é pode ser afirmado de imediato, de acordo com a especialista, é que o empresário exerce grande influência sobre o presidente reeleito, e é de se esperar que ele tenha um papel de destaque na política republicana.
Musk se insere aos poucos na política americana
Musk até recentemente se mantinha afastado da política, porém, sua postura mudou em 2020, ao criticar os lockdowns da pandemia, e intensificou-se desde então. Neste ano, Musk declarou apoio formal a Trump, após uma tentativa de assassinato contra o então candidato, e doou US$ 200 milhões para sua campanha presidencial de 2024, além de promover sorteios diários de US$ 1 milhão que acabaram sendo acusados de tentativas de influenciar o resultado das eleições.
O departamento do qual o empresário liderará, Departamento de Eficiência Governamental (Doge), é uma referência à criptomoeda Dogecoin, popular entre seus seguidores. “O nome foi escolhido fazendo uma referência a uma criptomoeda que o Elon Musk promove. Isso fortalece a percepção de que a visão deles sobre eficiência será mais profunda, mexendo com estruturas muito além das que se costumam ver em reformas administrativas tradicionais”, afirma a professora.
Na última quarta-feira (13), a memecoin promovida por Musk registrou uma valorização de 11% nas últimas 24 horas, e um aumento de 115% em sete dias, alcançando o valor de US$ 0,41.
Liberdade de trabalho do bilionário no governo é incerto
Não está claro se Musk conseguirá concretizar todos os cortes que propõe. Segundo o comunicado, o novo departamento terá papel consultivo, fornecendo “orientação de fora do governo”. “O papel de Musk no governo pode ter impacto em reorganizações internas nos Estados Unidos, mas se trata de um modelo essencialmente interno, focado na estrutura do Estado americano. A ideia é ‘desinchar’ o Estado, de uma maneira semelhante ao que está sendo tentado na Argentina, mas com um grau diferente de profundidade e impacto”, afirma Holzhacker
Musk reconhece os riscos e alerta que os americanos devem se preparar para dificuldades temporárias em troca de ganhos a longo prazo. “Dentro do Congresso, o ambiente será muito mais favorável aos republicanos, com menos resistência. Trump terá o Senado e a maioria na Câmara dos Deputados ao seu lado, além do apoio de muitos juízes federais. Para Musk, que não é visto de forma negativa, essa será uma via relativamente descomplicada. A verdadeira questão será como distinguir entre os interesses de Musk como empresário e o papel que ele desempenhará enquanto servidor público”, finaliza a cientista política.
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