* Por Elber Mazaro
O quarto artigo desta série aborda mais uma fase do desenvolvimento da minha dissertação para o Mestrado em Empreendedorismo que faço na FEA-USP, com o tema: como um executivo pode realizar sua transição para empreendedor. Após discutir qual é o problema a ser abordado na pesquisa, entendendo o que será estudado na teoria a partir de uma experiência prática, se faz necessário eleger um método.
Assim como em projetos corporativos, após se definir um objetivo claro, é preciso entender o contexto, o tempo para execução, os recursos disponíveis, entre tantos fatores que vão influenciar o planejamento e a execução.
A dissertação de um mestrado deve ser defendida em um prazo máximo de 30 meses. A orientação é para que se planeje o seu desenvolvimento em dois anos, guardando seis meses para imprevistos que possam comprometer o prazo original. No meu caso, considero a possibilidade de concluir em 18 meses, devido a minha atual disponibilidade de tempo, o que me permite concentrar esforços para concluir o mestrado.
As pesquisas no ambiente acadêmico, e as técnicas e métodos, seguem premissas idênticas às que são desenvolvidas nas empresas, e a grande diferença está no rigor e na profundidade, pois a empresa demanda projetos rápidos, que possam influenciar a tomada de decisão e que nem sempre são isentos como deveriam e nem tão profundos ou amplos. Já na academia o prazo está dado no processo, exemplo: 4 anos para um doutorado ser defendido; e há orientação e uma banca para que se respeite com rigor, uma metodologia para a pesquisa, análise e conclusão.
Basicamente, existem dois tipos: a pesquisa conclusiva, que normalmente é quantitativa, com métodos estatísticos e representatividade que permitem se chegar a uma conclusão; e a pesquisa exploratória, com métodos qualitativos, como levantamentos, entrevistas, grupos de foco, que não permitem qualquer extrapolação, mas servem para trazer mais luz e conhecimento sobre um tema, sem que se chegue a uma conclusão definitiva e replicável. Sem dúvidas, existem muitos métodos e técnicas, dentro destas duas categorias e a possibilidade de triangulações e mesclas entre eles, tanto para pesquisas exploratórias, quanto para conclusivas.
É comum em um mestrado de administração, que possui menos tempo que um doutorado e normalmente aborda temas conhecidos e já pesquisados de alguma forma, a escolha do método exploratório em um nicho de conhecimento. No mestrado profissional da FEA-USP, com foco em empreendedorismo, como a base é a experiência vivida pelo estudante em sua carreira, para que se tenha uma prática a ser estudada, é ainda mais comum a utilização de um método qualitativo/exploratório.
Eu defini, com base na orientação que recebi e nas aulas da disciplina de Métodos de Pesquisa, seguir a maioria, afinal, é a minha primeira empreitada no meio acadêmico. Como a pesquisa busca entender os principais aspectos de uma transição de executivo a empreendedor, e propor um processo que possa servir de referência, os passos decididos incluem a pesquisa bibliográfica sobre os principais pilares identificados na minha experiência, a consulta a especialistas para uma validação dos achados e uma pesquisa qualitativa, exploratória, utilizando o método de entrevistas em profundidade semiestruturadas (com roteiros), com empreendedores / profissionais que já vivenciaram pelo menos um processo de transição da função executiva, em um média ou grande empresa, para uma posição de profissional independente ou mais especificamente empreendedor. Definindo-se executivos como alguém que respondeu ou foi o próprio principal gestor do negócio no Brasil.
Nos quase 25 anos atuando como empregado não vi muitas discussões sobre métodos para o desenvolvimento de projetos importantes. Acho que isto poderia ser mais explorado pelas corporações. Normalmente, as grandes empresas se baseiam na experiência dos executivos que coordenaram o projeto e cada um faz do seu jeito e com o que o time conhece de método; ou então a empresa adota um padrão e sempre segue o mesmo método para projetos do mesmo tipo; e por fim também é comum ver a empresa contratar uma consultoria ou agência para que se defina a melhor abordagem ao problema.
O empreendedor precisa ainda mais da visão e entendimento sobre qual o método que será utilizado no seu projeto para, por exemplo, avaliar o mercado, conhecer o cliente, definir valores etc, e assim embasar a sua estratégia, o seu plano e o modelo de negócios. Existem muitas pesquisas que mostram maiores chances de sucesso para empreendedores que estão de alguma forma conectados ao meio acadêmico, o qual oferece um bom suporte neste desafio de métodos e técnicas para se identificar um problema e se pesquisar respostas, em especial as mais inovadoras, nas fronteiras do conhecimento.
Uma vez definido(s) o(s) método(s), é hora de por a mão na massa e partir para a qualificação ou validação do projeto e depois para a execução propriamente dita. Mas se não for dada a atenção devida a esta fase, como ocorre em muitas empresas, as chances de sucesso serão reduzidas. Busque o conhecimento e a técnica necessários, lembrando-se que a academia é muito boa nisto.
Elber Mazaro é cofundador do Descomplicando Carreiras. Assessor, consultor e professor em Estratégia, Marketing e Carreiras. Mestrando em Empreendedorismo na USP, com pós-graduação em Marketing e bacharelado em Ciências da Computação. Possui mais de 25 anos de atuação mercado de tecnologia e liderança de negócio, marketing, vendas, serviços e área técnica.