Por Bruna Galati
Você lembra como eram as reservas de hotéis antes da internet? Eu nasci na era digital e acabei não pegando a fase onde era preciso esperar a data do feriado, ir até o local de destino e torcer para que o hotel tivesse vagas. A tecnologia facilitou a vida dos turistas, por permitir que se programassem antes com as reservas online e garantiu espaços na internet para que as pousadas fizessem suas publicidades.
Quem foram os precursores para que hoje tivéssemos facilidade para organizar viagens? Anderson Diehl, fundador da Angel Investor Club e investidor-anjo, teve uma ideia visionária quando tudo isso “ainda era mato” e nada explorado. Mas sua história começa em março de 1972, ao nascer em Porto Alegre.
Durante a infância, passava os verões na fazenda dos avós onde andava de cavalo, pescava e ajudava com os animais, além de brincar muito, o que garantia uma volta triste para casa ao final das férias. Com 17 anos, seu pai abriu uma pousada na Praia da Ferrugem, em Santa Catarina, e a fazenda ficou em segundo plano.
Início da carreira de Anderson Diehl
Mesada nunca foi uma opção na educação de Anderson Diehl. Dinheiro era uma recompensa que vinha de seus esforços. Ele lavava carros, engraxava sapatos e cortava grama dos vizinhos para ter sua própria renda, e isso aflorou seu instinto empreendedor. Ao ingressar na faculdade de administração de empresas, seu pai lhe deu uma empresa de material de construção – foi o início da sua jornada no mercado.
Alguns anos depois, devolveu a loja para o seu pai e começou a trabalhar com carteira assinada em uma empresa de eventos e feiras. Na época, para ganhar uma renda extra, vendeu seu carro e montou uma distribuidora de camisetas promocionais – o negócio bombava de 2 em 2 anos com as eleições. Em 1997, pediu demissão da empresa de eventos e começou a trabalhar com o Ministério da Previdência, ainda mantendo uma jornada de trabalho dupla, com vendas das camisas.
“O Ministério da Previdência foi um trabalho bacana, mas eu não era feliz, queria melhorar processos e gerar grande produtividade. Então, em 1998 fui fazer mestrado em administração de negócios com ênfase em marketing e em uma das palestras que fui, escutei sobre a internet. Fiquei maravilhado com o material dos mídia kits, com banners e algo novo. Sabia que trabalhar com internet seria um bom negócio”, comenta.
O começo do trabalho com a internet
Em 1999, indo para a pousada de seu pai, recebeu um folder com o seguinte site “praiadarosa.com.br”, e o insight veio na hora. “Pensei que se o site ‘praiadaferrugem.com.br’ for meu, todas as pousadas vão me pagar para ter publicidade no site. Sabia que a internet seria algo revolucionário, que mudaria o mundo”, explica Anderson Diehl sobre a época em que apenas 5 milhões de pessoas se aventuravam na internet – e leia nas entrelinhas o instinto empreendedor de apostar em algo novo e repleto de incertezas.
Em dezembro, Anderson pagou R$ 6 mil para desenvolverem o site e sua estratégia era ir de pousada em pousada para explicar o novo negócio. No final de janeiro, já tinha conquistado o dinheiro do seu investimento inicial. Os hotéis pagavam R$ 500 para aparecerem no site. Com o sucesso na praia da Ferrugem, o empreendedor quis expandir e comprou o site “gramado.com.br”, mas os resultados não foram imediatos.
Ele estava saindo da sua zona de conforto em Santa Catarina e buscava negócios no Rio Grande do Sul, era preciso se adaptar ao mercado local. Em abril de 2000, foi de terno de hotel em hotel para fechar acordos, mas o que ele não sabia é que os donos se esquivavam, porque apenas fiscais usavam traje formal por lá. Com a lição aprendida, mudou sua vestimenta, mas a resistência ao negócio continuava, porque os donos não queriam negociar com alguém de fora.
“Visitei várias pousadas e não vendi nada, até que um belo dia, entrego meu cartão e perguntam se sou parente de fulano por conta do meu sobrenome Diehl, a minha resposta foi dizer que era possível ter parentes espalhados por lá. Foi aí que fechei minha primeira venda e tirei o Santos do meu cartão de apresentação.”
No primeiro ano de Gramado, Anderson Diehl fez apenas 3 vendas e entendeu que a facilidade na praia da Ferrugem era devido ao fato de que grande parte dos donos de pousadas eram argentinos e usavam a internet para se comunicar com seus parentes por e-mail. Eles não viam essa tecnologia como um limbo, diferente dos profissionais do Rio Grande do Sul, que ainda não tinham aderido aos computadores. Mas os negócios começaram a melhorar com o boca a boca.
Em novembro de 2001, os donos de pousadas que não tinham aderido à publicidade no site estavam sem reservas para o ano novo, porque eles precisavam esperar pelo “walk-in” – ida do cliente na data comemorativa para confirmar se o hotel estava com vaga. Enquanto que as pousadas que tinham abraçado a publicidade online já estavam sem reservas para o final de ano e com poucos quartos para o início de janeiro.
Foi aí que, com alguns sites de praias no ar, o empreendedor deu mais um passo para o desenvolvimento do seu negócio – que batizou de PONTO TUR VIAGENS E TURISMO LTDA. Encontrou um dono que estava desesperado sem reservas e falou que colocaria o hotel dele no site de graça, desde que ele pagasse 15% de comissão nas vendas. Menos de um mês depois, a pousada estava lotada.
“Eu tinha feito mais de R$ 4 mil e foi bem um modelo de startup, porque eu pivotei de publicidade para reservas. Em 2003, já eram 23 sites e foi o ano que comprei o saopaulo.com.br, que nos pertence até hoje. Eram sites de destinos turísticos em 5 estados do Brasil, os principais eram Gramado, Canela, Porto de Galinhas, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Foi neste momento, recebendo mais de 2,5 milhões de visitas por mês, que vi a oportunidade de começar a expandir os negócios para vendas de passagens aéreas, e posteriormente, aluguel de carros”, explica Anderson Diehl.
Expansão para aluguel de carros
Anderson Diehl gastava em torno de R$ 10 mil por ano para viajar e fazer seu networking, então, antes de expandir para os aluguéis de carro, fechou uma parceria com a Gol, no início da companhia aérea. A ideia era que eles tivessem publicidade nos seus 23 sites, pagando por ano o valor que ele gastava para voar, mas a empresa negou e ele entrou em um programa de afiliados da Gol, com 4% de comissão de tudo que vendesse. Foi um tiro certeiro, afirma o investidor-anjo.
“Utilizo muito dessa minha jornada nas mentorias com as startups. Porque eu já tinha o CAC – custo de aquisição de cliente, que era a reserva de hotéis e poderia expandir meu negócio, oferecer passagens aéreas, poderia alugar carros, tudo isso elevaria meu ticket médio sem um novo CAC. Ter uma visão ampla de como evoluir conforme o mercado é fundamental para uma startup.”
Em 2006, ele teve a ideia de criar o “alugueldecarro.com.br”, colocou um projeto com todas as locadoras do Brasil e fez uma agenda de duas semanas em São Paulo para visitá-las e vender seu produto. Driblou os comentários de que não daria certo e no final, na época, apenas a Localiza não aceitou a proposta. “Foi bacana que quando visitei a AVIS, me perguntaram se eu já tinha vendido algo e blefei dizendo que alguns nomes tinham aceitado. E assim criei a maior operação de aluguel de carros na internet no Brasil, atendendo todas as capitais do país e cidades menores onde as locadoras AVIS, HERTZ, BUDGET, UNIDAS e MOVIDA tinham operações.”
Em 2011, o empreendedor percebeu o crescimento deste mercado de reservas on-line, e como não detinha uma tecnologia proprietária competitiva, percebeu que estava na hora de mudar. No decorrer de 2012 fechou uma parceria com a Rentcars e transferiu para eles a gestão do site, realizando o mesmo com o site de passagens áreas, operado pela Viajanet que hoje pertence a decolar. As parcerias duram até hoje.
Início dos investimentos
Anderson Diehl juntou sua característica de querer ajudar outras pessoas, seu interesse em melhorar processos e gerar produtividade com a sua grande bagagem no mercado e resolveu que estava na hora de investir em startups. Seu primeiro investimento foi em 2013, na Orgânica Digital, agência digital de publicidade, que na época faturava apenas R$ 160 mil. Hoje já tem um crescimento significativo e ele continua como mentor da empresa.
Alguns anos depois, entrou para a Anjos do Brasil e os investimentos como pessoa física e em grupo continuaram. Ao todo já foram 15 investimentos na pessoa física, com 5 exits. Além destas, Anderson Diehl participa de polls de investimento nas aceleradoras Ventiur, Grow, WOW e Bossa Nova investimentos, com mais de uma centena de startups nestes veículos.
“Sempre tive uma tese muito forte de smart money, onde meu smart vale muito mais que o recurso financeiro. Invisto em negócios onde vejo que posso empregar meu tempo, experiência de mais de 30 anos em marketing e vendas, conhecimento em SEO (inbound marketing), e a facilidade na criação parcerias, podem ajudar imensamente a jornada do empreendedor. Além disso, conto com o apoio incrível de um networking que construí nos últimos anos através do INOVATIVA e do ecossistema de inovação”, explica o investidor-anjo.
Anderson compartilha um de seus cases de mentoria que aconteceu na pandemia. Uma empresa de lingerie estava quase indo à falência porque só trabalhava com loja física e ele sugeriu que a dona adotasse o marketing de influenciadores. “Procure pessoas com bastantes seguidores no Facebook e Instagram e envie algumas lingeries para elas de graça. Elas vão postar o produto e vai trazer retorno em vendas, além disso, pague para as influenciadoras uma comissão de tudo que elas venderem. Esse ganha-ganha cria uma relação de longo prazo”, compartilha sua dica.
Depois de 4 meses, a empresária mandou uma mensagem agradecendo pela mentoria, porque as vendas aumentaram em 20%. Para Anderson Diehl, o sucesso da loja foi muito gratificante, ele sabia que uma dica tinha transformado por completo a longevidade daquele negócio. Foi apenas uma questão de alinhamento e conhecimento de mercado, que faz toda a diferença.
Angel Investor Club
Em 2021, dando mais um passo para colaborar com o ecossistema de startups no Brasil, Anderson lançou o Angel Investor Club, um clube de networking e hub de conexões na companhia do Fabiano Nagamatsu (Osten Moove), Wlado Teixeira (GV Angels), Maria Alice Frontini (MIT Angels), Mori Alexandre (Mentor InovAtiva), Prof. Ricardo Yogui (Inovação Aberta) e outros atores do ecossistema.
“Trouxemos líderes de comunidades de startups de todos os estados, uma camada de liderança de inovação aberta com grandes corporações, também temos membros das áreas de M&A, investidores-anjo, aceleradoras e VCs, tudo isso para facilitar o acesso e gerar oportunidades”, explica
Para o futuro, Anderson Diehl pensa em tornar o Angel Investor Club um fundo de investimentos, mas por agora, o foco é diminuir a porcentagem de startups indo para o vale da morte, mesmo sem investimentos, gerando mentorias e conexões com as pessoas certas. E quando o investidor-anjo estiver em busca de startups para investir, ele já sabe onde procurar.
Acesse aqui e saiba como você e o Startupi podem se tornar parceiros para impulsionar seus esforços de comunicação. Startupi – Jornalismo para quem lidera a inovação.